terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ano Novo. E eu com isso?


E daí?
Eu bem que tentei. Juro que iniciei quatro ou cinco vezes, um daqueles textos cheio de otimismo, que me rendessem, quem sabe, alguns cumprimentos; afinal, essa é uma época em que tudo está louco para se emocionar e verter lágrimas que há muito não apareciam assim, no meio da manhã...A vida pode continuar a mesma droga, mas amanhã, uau! É dia de tomar todas, de brindar o Ano Novo. Novo em quê?
Hummm...Tentei apelar para a paz mundial. Muito vago. Quem é que, aqui em Belém, está preocupado onde serão atiradas granadas ou explodirão os homens-bomba tão sem noção? Não, paz mundial é um pouco distante.
Violência? Isso a gente conhece. Muito. Tanto que ficou corriqueiro demais, doloroso demais, apavorante demais.
Pensei em tanta coisa para escrever uma bela crônica de final de ano, mas nada foi pra frente. Até a comovente história do casal que, tendo cinco filhos biológicos, adotou mais quarenta e seis! É isso aí, e a gente reclama de dois moleques arteiros, não é mesmo? Mas ainda não era o gancho.
Humm...Teve também a família de Ribeirão Preto, que vai deixar o carro na garagem até que nasçam os filhotes da mamãe Beija-Flor que fez o ninho num cabo, por baixo do carango, que bonitinho. Lindo, mas meio bobo. Não era isso.
Tentei aquelas mensagens sobre perdão e até assisti uma parte de “Em Busca da Felicidade”, mas confesso que logo me senti exausta com o Will Smith andando, andando...e se ferrando, credo.
O que estava acontecendo? Procurei algumas crônicas antigas, quem sabe pudesse dar uma maquilada ou até entrar no clima? Nada.
A verdade é que não quero saber dessa conversa de perdão, de ser melhor, de ter fé e muita, muita esperança. Não quero esperar nada melhor para o ano que vem.
Esse, foi muito peculiar e, para ser franca, uma das coisas que tive que aprender foi resistir à vontade de esquecer fácil e correr os mesmos riscos novamente.
Não, eu não quero saber do por do sol de Boiçucanga ou do Arpoador, tanto faz. Não me agrada ouvir Celine Dion ou qualquer uma daquelas musiquinhas doces que já me encheram os olhos de lágrimas, tempos atrás. Eu não quero participar da propaganda da Globo, dá licença ?
Apesar desse clima quase histérico de bondade, apesar dessa alegria obrigatória com data e hora para chegar, eu não estou a fim, me perdoe!
Apesar do seu prosecco ou seja lá o que for que borbulhe nessa garrafa que todo mundo acha que deve entornar, estou em recesso. Posso?
Por mais estranho que pareça, não quero ir para o Hangar, nem para a Assembléia, muito menos me estuporar naquele engarrafamento, para acabar tomando chuva no Atalaia.
Meu reveillon será em casa, quem sabe com uma saladinha de bacalhau e um potente ar-condicionado. Provavelmente, às onze estarei na rede, assistindo um episódio velho de uma dessas séries da TV paga.
Triste? Se me colocasse a pensar em como anda nossa terrinha, certamente entraria num desses pitis existenciais que também não fazem muito a minha cabeça.
Zangada ? Nem um pouco. Não entre nessa de que quem não está no circo está deprimido.
Apenas esse ano eu quero estar assim, um pouco mais comigo mesma, só isso.
E daí que amanhã vai ser ano novo?

sábado, 20 de dezembro de 2008

Já é Natal, de novo!


Amanhã é Natal!
Tempo de desejar felicidade, saúde; prosperidade.
Tempo de pedir desculpas, de esquecer velhas inimizades, encrencas tolas que se tornaram correntes.
Amanhã é Natal.
Eu deveria procurar todos os que não fiz o menor esforço para encontrar durante esse e outros anos.
Quem sabe oferecer um cartão, um vinho quase raro ou um belo e comum pão de frutas, com um lembrete de que amizades devem resistir a tudo isso, inclusive ao parentesco?
Será que resistem ao pouco caso? Ah, é tanta coisa para tão pouco tempo.
Sempre existe um presente faltando; nem sei pra que temos tanto trabalho para entregar o pacote escusando-se, pois é sempre “só uma lembrancinha”, ano após ano. Lembrança não admite diminutivo, é plena e impagável.
Tão pouco tempo...Fritar as rabanadas que passarão uns dias na geladeira, cobertas por papel alumínio, ao lado de tantos potinhos com monte de coisas que jamais apreciei; afinal, porque compro tâmaras secas e aquelas coisas que nem consigo mastigar? Damasco...Desde quando como damasco, assim, “a seco”? Ah, não tive tempo para tanta coisa que gostaria de ter feito e ainda vou ter que atender telefone, enquanto suo em bicas tirando e colocando o bacalhau mais um pouquinho no forno. Mas estou excitadíssima, amanhã é Natal; já conferi mil vezes aquela listinha que só faz crescer e sempre falta alguém.
Na verdade, já entreguei quase tudo, no dia, ufa!, estarei cansada demais.
E então, ho,ho,ho,ho; todos teremos um Feliz Natal, amém, Senhor.
Como queria que esses votos se transformassem em realidade, como queria mais uma confraternização, mas cadê tempo?
Depois de amanhã, a vida segue igual; e do Natal só sobrarão papéis espalhados pela casa e algumas rabanadas na geladeira.


FOTO: Francisco M S Botelho www.img.olhares.com/data/big/46/463026.jpg

domingo, 14 de dezembro de 2008

E aí, pai, como vão as coisas? (Especial para o pessoal de Belém)


E aí, pai, como vão as coisas?
Por aqui estão diferentes; isto é, pioram a cada dia. Em todo lugar a conversa não é o Natal ou o reveillon em Salinas. Violência, esse é o tema.
A vítima mais recente, (até quando?) foi o nosso bom Salvador, teu risonho anjo da guarda que tanto nos amparou quando ias e vinhas do Incor, já nos teus últimos tempos. Inacreditável, não? Tão jovem, alegre, ‘cheio de vida’ e se vai assim, de forma brutal e sem sentido. Toda morte é burra, mas algumas são mais.
Acho que todos têm uma boa lembrança do Salvador; do quanto sempre esteve disponível a quem necessitava dos seus cuidados. Lembro quando me ofereceu o número do celular, fazendo piada que esperava que nunca precisasse chamá-lo; caso contrário, não deveria titubear! E assim foi, mesmo no dia dos pais ou durante uma madrugada que apenas começava. E ele vinha, sem qualquer contrariedade de estamos acostumados a perceber em quem não ama o que se propõe a fazer, e nem tenta disfarçar. Não o Salvador.
Em compensação, meu velho, tem gente cujo celular é absolutamente dispensável e que se faz de difícil, fantasiando que existe quem queira encontrá-lo.
O Salvador, não. Sempre tão requisitado e tão carinhoso. Numa das últimas vezes que estive checando o ‘cardíaco’, achou um tempinho para um dos seus arroubos de amizade: “Olha, adoro o que escreves e ‘te leio’ sempre!” . Grande Salvador.
Essas pessoas generosas, que se vão de uma hora para outra, levam um pouco do assunto, da alegria de cada dia. Belém ficou chocha, sem graça. Não dá para esquecer (Que coisa estúpida!). E nós, os sobreviventes, vamos ficando como previste; trancados, sem sair à noite, preferindo pedir tudo pelo telefone. Pena que nada disso evite tropeçar num desses filhotes da ignorância, da miséria e da impunidade; de arma na cintura, prontos a disparar.
Depois, alguém ainda vai dizer que é culpa nossa, que não deveríamos ir a banco pegar dinheiro. Ou a qualquer lugar. Que jóia não é para usar. Nem carro. Nem sorriso ou felicidade estampados na cara. É perigoso! E que se morre por reagir.
Somos culpados por estarmos vivos, por não sermos miseráveis; isso é o que parece.
Quem nos dará as regras para sobreviver? Nós é que ficamos acuados, ensaiando o que não fazer numa hora dessas, rezando até que o último filho entre em casa, tranque o último dos cadeados e nós, os prisioneiros, permaneçamos feito bichos sem donos, por mais uma noite.
A nossa governadora declarou, através da Assessoria de Comunicação, que “Lamenta...morte...injustificável...a violência urbana precisa de um basta...”, do renomado Dr. Salvador Nemias (sic). Dá para pensar que se trata do desabafo de alguém como nós, impotente quanto ao que se passa no estado, que é visto pelo resto do país como ‘terra de ninguém’, um verdadeiro faroeste. E haja audácia, em assaltos a bancos ou ao cidadão comum que tem o carro tomado ‘na marra’; ao pai de família que cai numa esquina qualquer. Realmente chegamos a um ponto onde não existe explicação. Ou justificativa. Se até o governo acha que basta, imagine o povo! Talvez fosse interessante resgatar aquela conversa da época da campanha (de todas elas); naquele tempo sabiam exatamente o que fazer e agora? Porque não fazem? O que falta para acabar com esses esquemas da ‘saidinha’? (Que eles existem, ah, existem!) Onde está toda aquela estratégia de quem prometia resgatar a segurança,, a saúde e... É, rapadura é doce mas não é mole, não. Enfim, a coisa por aqui está feia! Feia e triste.
Nunca imaginei que Belém se tornasse um lugar onde se tem praticamente tudo de ruim de uma megalópole e pouco do bom.
No mais, continuo imaginando um lugar calmo e seguro, minha Shangri-la, minha Passárgada. Daí, continua zelando por nós. Estamos precisados.
Um beijo saudoso da filha,
Vera.

Comigo na rede.



Que sou viciada em Internet todo mundo já sabe, mas hoje, que estou boazinha, vou partilhar algumas descobertas. Deliciosas inutilidades e temas absolutamente essenciais. Ou inusitados.
Se você gosta de navegar, aproveite. Se ainda não é sua praia, recorte o Bom Dia, guarde e aguarde. Vai ser útil, com certeza.
Esmaltes incríveis, eis uma das minhas paixões. Descobri um blog dedicado exclusivamente às combinações de esmaltes, isso mesmo! Efeitos maravilhosos, com fidelidade de tons bastante satisfatória. Onde mais você descobria que Carmem e Carmim, ambos da Risquè, ficariam ma-ra-vi-lho-sos? Em vez de ficar testando, vá dá, dê uma fuçada e copie. http://www.utilidadefemina.blogspot.com/
Você sabe calcular as quantidades de ingredientes para uma bela feijoada? Eu não tenho idéia de quanto colocar de paio para dez pessoas. E a costelinha? Pois meus problemas acabaram! Os seus também; inventaram a ‘feijoada-calculator’ e não dá para errar. Cozinhar, é uma outra história... http://baixaki.ig.com.br/download/Feijoada-Calculator.htm
Quer encontrar um número de telefone sem gastar? Essa é fácil: http://www.via102.com.br/ Mais fácil (e de graça!) é só ligar 102-030 (Se discar só 102, é pago, viu?)
Problemas para traduzir um pequeno texto, até 150 palavras? Ou um site? No http://br.babelfish.yahoo.com/ é muito fácil. Na hora do aperto, durante uma leitura na net, é ‘uma mão na roda’. A outra, no teclado, claro!
Viajar sem ter certeza do clima é um perigo. (Sei bem disso!). Na rede você pode encontrar tudo sobre o tempo no mundo, no http://www.climatempo.com.br/ ; em português, com facilidades inclusive para saber se vai dar praia! A pesquisa instantânea pode ser pelo nome da cidade ou pelo Cep. Hum...Falando em Cep, http://www.correios.com.br/servicos/cep/
e pronto!
Se gosta, recitar Salmos, em especial o 91, é muito bom. O http://www.portalamgels.com/ tem todos, com acesso super fácil, mais os anjos da Bíblia e orações.
Para quem quer toques sobre decoração, compras arrojadas e charmosas para o lar-doce-lar, http://www.casadacris.uol.com.br/ é, como diria a Rejane, “tudo de bom”. Não é por ser da filhota, mas o http://www.coisadearquiteto.com.br/ também tem coisas interessantes, dicas charmosas e é daqui, da terrinha. Para quem gosta de mudar os ares do apê, é um achado.
Tá cansada daqueles pratos cheios de frescura, tipo tudo ao perfume de alguma coisa? Quer umas receitinhas fáceis mas muito legais? http://www.mixirica.com.br/ é bem intimista, tem até umas gororobinhas velhas conhecidas, como o biscoitinho da vovó. No http://www.cybercook.com.br/ você encontra um banco de receitas gigantesco.
Bug na máquina? Se você entende o suficiente para buscar ajuda na rede, tente http://www.clubedoharware.com.br/. Artigos e fóruns onde você vai encontrar a solução para seu problema, inclusive se estiver entre a cadeira e o monitor.
Mau humor? Corra para http://www.kibeloco.com.br/ . Sem cometários!
Sou fanática por organização, a-do-ro certas dicas de como otimizar espaços e deixar tudo mais ‘à mão’. http://www.cristinapapazian.com.br/ é o site de uma das mais respeitadas experts no assunto. Vamos deixar de preguiça e dar uma arrumada no cafôfo, amiga, ou qualquer dia você pode perder o pet ou o filhote no meio dessa bagunça!
Falando nisso, conheço uma pessoa que reclama que nunca tem tempo pra nada, inclusive para dar uma renovada na decoração, que permanece a mesma ano após ano. Júlio César Zanluca, no http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/administracaodotempo.htm ensina a poupar tempo no trabalho e ainda fornece um link para baixar um curso gratuito.
Problemas para encarar a concorrência no disputado mercado da paquera? Sem prática depois de um longo casamento? Ora, ora. Sérgio Savian é um especialista (pelo menos é o que dizem...) e já esteve no Jô. No http://www.mudancadehabito.com.br/amor/artigos.php
dá ignorar a venda agressiva da obra do autor e consultar uma bela lista de artigos. Pensando bem, se você passear pelos sites citados vai ter muito assunto, que é o que todo mundo sente falta ‘antes’ e ‘depois’. Boa sorte e me dê um clic !

domingo, 7 de dezembro de 2008

Podre de Chique!


Recentemente ouvi de uma formadora de opinião que certa pessoa era ‘muito, muito elegante’, um modelo a ser imitado. Então tá! Fiquei quieta, a vida me ensinou que nem sempre se deve emitir opiniões; aliás, o melhor é ‘quase nunca’, enfim, chega de levar coice por abrir a boca.
Não sei se estou ficando ultrapassada, se meus conceitos estão um tanto “retrôs”, como diria a filha de um amigo; confesso que para mim, elegância é outra coisa.
Admiro (sinceramente) pessoas bem vestidas, que têm um traje arrojado para cada uma dessas ocasiões que para nós (os que apenas se apresentam bem ou mais ou menos...) nem sempre são “especiais”. Existe uma enorme injustiça com mulheres bem cuidadas, que freqüentemente recebem a pecha de fúteis; pura inveja de quem não consegue ser caprichosa.
Adoro essas patricinhas e patriçonas modernas, que estão sempre com a cabeleira no lugar, maquiagem tinindo, perfume da hora, sapatos lindos de chorar, bolsas capazes de fazer uma mortal comum comer um crime. Até os cães dessas mulheres são chiques, bem tratados!
E elas parecem não suar! Mais que um “personal-ventilator”, capaz de deixar o cabelão sempre assim, quase voando (para trás, claro!), elas devem ter um dispositivo de resfriamento de ar por baixo das roupas. A pele não fica melada, o batom não racha. Ah... Os pêlos não crescem nunca, uau!
Sempre defendi as mulheres que não deixaram que a maternidade e o tempo acabassem com a vaidade e a capacidade de se apresentarem impecáveis a qualquer hora, como se nunca usassem um camisetão velhinho, um par de havaianas surradas ou o cabelo desgrenhado de quem acabou uma faxina. Imagino-as comendo caranguejo toc-toc, com o maior charme. Esse era meu sonho, adoraria ser assim, verdade!, tanto que tenho pinças e umas garrinhas, chiquérrimas, para usar lá na AP, mas nunca aprendi a tirar caranguejo, sou uma lástima!, voa unha pra todo lado.
O fato é que elegância vai além de estar bem vestida ou com cabelo bem cortado; apesar de ser fundamental, claro! É alguma coisa que vem de dentro, que emana em cada gesto e aí sim, coroa com brilho espetacular as que, ainda por cima, são chiques.
Nem sempre é isso que a gente vê.
Nada é mais deselegante que essa cara de tédio, esse ‘saco cheio de tudo e de todos’, um filme chato, eternamente em cartaz. Tampouco tentar se tornar uma pessoinha difícil, do tipo que não dá bola pra ninguém, não prestigia as festinhas ‘marromenos’ dos amigos ou faz um pequeno esforço para reconhecer as pessoas com quem cruza no shopping. Ou no Boteco, mesmo que seja parente distante...O pior que esse tipo é o mais comum. Gente que ‘se acha’ e não cumprimenta, que jamais lembra seu nome, que chama garçons com desdém, que acha que deveria estar sempre na melhor mesa ou quer que você saia da mesa onde estava para que fiquem à vontade; que é sempre ‘um amor’ com fotógrafos mas trata a maioria como seres inferiores...
Mesmo que se cubra com as melhores griffes e que, para meu desespero, pise nos outros com as solas vermelhas de um legítimo Christian Louboutin; (eu falei le-gí-ti-mo!) ainda assim, falta muito para aquela elegância que a gente tem certeza que não vem só do berço, vem da alma. Trocando em miúdos, ser um belo cabide é quase fácil; basta ter grana, estilo e um bom corte de cabelo.
Elegância não custa caro mas não é para qualquer um. Ser agradável, descomplicado e bem humorado é ‘o máximo’! Retornar ligações, parabenizar amigos, evitar excessos de sinceridade, não brigar com familiares em público, saber elogiar e agradecer os elogios que recebe; agradecer, agradecer e agradecer sempre -isso sim! - é coisa de pessoas - homens e mulheres – elegantes! Quando têm bom gosto, aí se tornam absolutamente chiquérrimos. Um arraso!

Ano Novo. Encrenca velha.


Se você andou criando confusão – à toa; se brigou mais do que poderiam suportar, abusou do quesito “semear discórdia e mal estar” e chegou à conclusão de que está a um passo de ser mais querida pela ausência...Tchã,tchã,tchã,tchãnnnn...Seus problemas ainda não acabaram, mas podem acabar. Depende de você. (O que, convenhamos, não é um bom começo, enfim.)
Pois é, você quase recebeu o Troféu Encrenca 2008, mas lá pelas tantas, sentiu que, no fundo, gosta (muito mais do que desejava) de todos os que transformou em alvo de suas alfinetadas cruéis. No meio do sono, parece ouvir: Ho,ho,ho,ho! Atenção, atenção, última chamada para o paraíso. Para se reabilitar, plataforma um...
Então tá. Agora você faz o quê, no finalzinho do segundo tempo desse jogo campeão de violência explícita e disfarçada? Não dá para simplesmente telefonar, na maior cara-de-pau, pedindo muitas desculpas ‘por qualquer coisa’, não é mesmo? Até porque , do jeito que as coisas estão, é pouco provável que alguém queira atender uma ligação sua, tsc, tsc.
Olha, eu bem queria ter um surto de hipocrisia ou de algum desses sentimentos que acometem as pessoas no final do ano.
Queria acreditar naquelas listas de decisões bem intencionadas; em quem distribui uma dúzia de quentinhas na noite de Natal para aplacar o que quer que ande remoendo lá por dentro. Ah, como eu gostaria de ainda ter paciência para executar aquelas mensagens chatas, cheias de purpurina virtual, declamando as maravilhas de um mundo melhor, que há de vir com as pessoas do bem; aquelas, lembra? Como eu queria acreditar nos seus votos ocos.
Queria poder fazer cara de paisagem e fingir que não tenho cá minhas mágoas, que minhas reservas caíram por terra na medida em que senti saudades suas.
Mas não posso, sabe ? Sinto saudades de alguém que nunca existiu; ou se chegou a existir, você tratou de matar e enterrar bem enterrado.
Pena ? Não sei.
Já passei da fase de acreditar em fadas, duendes e ex-amigos redimidos. Isso não existe, meu bem. Prefiro acreditar em coisas mais...prováveis, por assim dizer. Inclusive no fato de que, com o tempo, você não me faz mais falta nenhuma.
Lamento dizer quem pode ser ao luxo de se achar odiada; não é, mesmo.
Tenho um amigo que diz que suportaria todo o rancor do mundo; mas a indiferença, jamais.
Pois isso devo a você; tornou-me mais madura, menos crédula, completamente indiferente.
E acima de tudo, mais forte.
Sua maldade me possibilitou descobrir possibilidades nunca imaginadas em mim mesma. Essa capacidade de sobreviver, de tomar a mim como melhor e mais confiável amiga...Será que um dia poderei agradecer?
Acho melhor que nem tentar, afinal, você está apenas naquela maré sentimentalista de final de ano. Logo, logo, vai esquecer da enchente, dos recém nascidos na lata de lixo e do quanto nos fez sofrer. Vai estar em baixa no planalto e, para chegar mais perto da amizade da hora, voltará aos games em que sempre foi mestra, jogando uns contra os outros.
Mas nesse campeonato, querida, dê minha falta. Tô fora. Out. Fui, entendeu?
Como ainda me restou um fiozinho de emoção nas veias, também fiz minha listinha e coloquei ao pé da minha árvore emprestada.
1- Não vou perder meu bom humor, nunca.
(Os outros itens? Ah, só Noel pode saber!)
Ho,ho,ho,ho!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Em branco


A segunda-feira chega e me ameaça. Devo escrever. Com aquela dose generosa de humor; rir é o que todos querem. Ou quase.
E eu que prefiro escrever sobre os outros, me pego olhando pra dentro em busca de sei lá o que, porque na verdade, não tenho muito a dizer. Não hoje, não nessa segunda-feira.
O Raimundo Sodré me dizia (quando mesmo meu Deus?, acho que foi sábado) sobre essa coisa de inspiração. Ele é poeta, faz com que as palavras tenham cheiro de patchoulli, de mato verde, com a textura de bordado delicado. Eu, sou só uma falastrona que nem sempre acha assunto. Ou graça.
Passo a vista nos versos do Ronaldo Franco, adoro ler sobre a Cidade Velha. Quase ouço aquele finzinho da chuva gotejando...Adoro chuva. O Alcyr Guimarães me brinda com palavras sobre uma segunda-feira qualquer. E então aspiro um pouco esse clima, justo a inspiração do papo do Sodré, e vou emprestando um tantinho de cada um, um tantinho do outro; as notas, o céu azul e as borboletas de um; as rimas e as sinas de outro, e a chuva, ah...a chuva...e os poetas vão me fazendo teclar; mais um pouco, mais um pouco...

domingo, 2 de novembro de 2008

Querido inimigo meu:


Querido inimigo meu,
Ultimamente fizemos parte um da vida do outro, da maneira mais idiota possível. Por outro lado, foi bom ter alguém interessante para detestar entre tantas pessoas a quem, obrigatoriamente deveria tratar bem e dedicar salamaleques, muito mais falsos do que as nossas desavenças. Afinal, porque começamos essa guerrinha particular, mesmo? Sabe que nem lembro? Verdade, estive tão empenhada em me deixar irritar e atingir você, que esqueci exatamente quando tudo começou.
Muito provavelmente tenha sido um daqueles comentários desastrados, que podemos ter feito junto de alguém que vive de ‘leva e traz’ e que finge nutrir amizade por ambos. Que esperto, heim?..Muito mais que nós dois, que perdemos tanto tempo com esse lero-lero, cutucando as feridas, um do outro. Que chatice. Quer saber a verdade? Cansei!
Da mesma forma que cansei do videokê, das aulas de inglês, da ikebana, RPG, drenagem linfática, fisioterapia, alimentação natural, política, dieta dos pontos e do ‘Cem Anos de Solidão’, ufa! ‘Can-sei’ de tentar entender cada lance dessa inimizade inexplicável e burra, como quase toda inimizade. O que antes era adrenalina, agora é ‘boring’ como você diria num daqueles ridículos acessos de frescura. Nossa partida de xadrez durou tempo demais e tornou-se fonte de bocejos infindáveis.
Portanto, caríssimo, jogo a toalha; peça ao juiz que conte (com rapidez, por favor!) até dez e o declare vencedor dessa cisma besta. È isso aí, você venceu!
Não estou pedindo arrego, não senhor; apesar dos nossos ‘bons tempos’.Lembro dos telefonemas, sem nada importante a dizer, fones apoiados nos ombros e frases quase desconexas, uma fofoquinha aqui outra ali. Os e-mails, repletos de bobagens e afeto, tudo isso me deixou um tanto órfã, é verdade.
Mas o fato é que, dessa vez (quantas outras já ‘nos estranhamos?) nos permitimos viver sem o outro muito tempo. Acabamos acostumados à ausência e a não sentir mais tanta falta da presença amiga ou nem tanto.
A inimizade, esse elo muito mais forte que o apreço, foi substituída pela indiferença e desta, não há retorno confiável, meu ex-amigo.
Portanto, antes de nos tornarmos desconhecidos, reconheço-me derrotada. E aliviada. Estou cansada e sem a mesma energia de antes, até para implicar com alguém, ainda mais com você. Continuo tola e ainda ameaço chorar de vez em quando mas, para sua decepção, a causa não é você, é o tempo (ele sim, cruel) que me trouxe, além dos esporões de calcâneo, a certeza de que poucas coisas têm jeito, nós inclusive. Perdoe-me obrigá-lo a aceitar meu desfraldar de bandeirolas brancas e rendadas, como lingeries desejadas; não quero mais brigar por algo ou alguém que não valha a pena.
Talvez, lá no fundo, essa seja a minha maior vingança; obrigá-lo a escolher outra pessoa para irritar e divertir-se. Seja lá o que for, quero que tenha certeza que não ligo a mínima, pois isso não me causa mais nenhum ‘frisson’. Poupe-se de mostrar-me seu carro novo ou de tentar ‘chupar’ a barriga quando eu passar. Suas conquistas nunca me incomodaram, você é que acha que a humanidade o inveja, que coisa!
E se lhe dá algum prazer; sim tenho saudade da maioria das amizades do passado. Mas metade da população também e a outra, nem teve passado.
Siga seu caminho, pois vou procurar o meu. Fique a vontade para me cumprimentar ou não, tanto faz. Eu? Estou ensaiando um novo hobby, quem sabe tarô ou marqueting de rede. Qualquer coisa assim.
Cordialmente (acredite!),
Vera.

domingo, 19 de outubro de 2008

Mais madura ...melhor ainda !

















DA REVISTA ÉPOCA :












Vale a pena dar uma olhada ...







A editora de moda americana Charla Krupp ensina como mulheres com mais de 40 anos podem se parecer mais jovens. Para ela, a vaidade é uma necessidade para a mulher se manter no mercado de trabalho. A pedido de ÉPOCA, ela selecionou alguns dos conselhos de seu livro para ajudar as leitoras a se parecem cinco quilos mais magras, 10 anos mais novas e 10 vezes melhores.












Batom - 'Abandone o vermelho', aconselha Charla. Após os 40 anos, as maquiagens devem ser claras. Batons escuros envelhecem o rosto e deixam a expressão triste. 'Podem deixá-la igual à Cruela Cruel', diz. Cores carregadas, além de causar a impressão de afinamento dos lábios, deixam as rachaduras mais evidentes. Utilize o rosa e outros tons claros, que dão um ar jovem e tornam os lábios mais grossos. Você também deve ter à mão sempre um brilho, porque eles iluminam o rosto. Outra dica é não contornar a boca toda com lápis escuro. Use-o apenas em lugares que precisam ser realçados.












Cabelo - Cuidar do cabelo é a primeira atitude para quem quer parecer mais jovem. 'Se você tiver dinheiro para melhorar apenas uma coisa, que sejam os cabelos', diz. O primeiro passo é adotar franjas. Elas emolduram o rosto e dão um ar delicado à expressão. Como os cabelos ficam mais finos à medida que as pessoas envelhecem, o ideal é fazer cortes e usar produtos que dêem volume aos cabelos. No pior das hipóteses, pode-se consultar o dermatologista para saber se precisa de algum tratamento contra a calvície. Resolvido o problema do corte e do volume, pinte-os, se forem grisalhos, ou clareie as madeixas, se forem muito escuras. 'Um dos truques para se parecer mais jovem é usar tons claros, e no cabelo isso é mais que comprovado'. Abuse do castanho, faça luzes. 'Cabelos pintados são como maquiagem que você nunca tira', ensina a especialista.



Unhas - Para quem tem mais de 40 anos a recomendação é ter as unhas das mãos curtas e em tons claros. Charla acredita que cores escuras envelhecem as mulheres. 'Para as meninas, cores escuras são bonitas, mas se você não é mais uma, use um bege ou um tom de rosa muito claro'. Já unhas compridas compõem um visual antigo. Além do trabalho que dá mantê-las limpas e pintadas, unhas compridas são um indicativo de que suas donas não trabalham muito. 'Não combinam com o dinamismo da mulher moderna, que trabalha, mexe com computadores, cuida dos filhos e tem suas atividades domésticas'. Para as unhas dos pés, siga as tendências: cores escuras são liberadas.





Óculos - É uma das mudanças mais simples de fazer, e tem resultados excelentes. Como os óculos são a primeira coisa a ser notada no rosto eles realmente têm o poder de indicar o quão velha você quer aparecer. Uma armação retangular em plástico ou casco de tartaruga é muito moderna. As hastes também devem ser grossas. Armações clássicas não mostram estilo, explica Charla, apenas denunciam sua idade.



Sapatos - O salto alto é indispensável. Ele faz você parecer mais alta, além de deixar sua postura mais ereta. Mais que isso, eles são sexy. Os saltos não precisam ser necessariamente agulha. O conselho é se condicionar a usá-los nos contextos essenciais. 'Nem que seja para calçá-los na entrada do restaurante e tirá-los logo na saída. Não existe nada mais velho que sapatinhos feios, mas confortáveis'.




Pele - Uma pele bonita é fundamental para parecer mais jovem. Um bom sabonete esfoliante não é necessariamente caro e é um dos cuidados fundamentais para o rejuvenescimento. Charla recomenda esfoliar a pele, especialmente a do rosto, de uma a duas vezes por semana. Para encobrir as imperfeições, o segredo é usar pouca base, justamente o oposto do que as mulheres geralmente fazem. À medida que envelhecem, as mulheres tendem a usar mais maquiagem. 'O segredo é passar pouco, até obter um brilho suave'. Se a pele é boa, um leve toque é suficiente.


'O excesso de base é uma prova evidente de que o rosto tem muitos sinais a esconder'.


Para parecer mais magra - O truque para aparentar cinco quilos a menos é acertar na roupa íntima. Charla se diz uma entusiasta de bermudas e tops modeladores, que são peças usadas por baixo da roupa e que deixam o corpo mais magro e firme. 'São ótimos para levantar os seios, comprimir a barriga e arrebitar o bumbum', diz. Além disso, não marcam a roupa. Um ponto em que ela se diz fã das brasileiras é em relação às calcinhas. 'Gosto de calcinhas pequenas, tanguinhas. Além do efeito estético, elas têm um poder psicológico poderoso', diz. 'Ninguém se sente sexy com calcinhas de vovós. Sua capacidade de se sentir sexy está extremamente ligada à sua confiança, em todos os aspectos'.



Para levantar os seios - Charla estima que 80% das mulheres usam o sutiã errado. Ela ensina uma técnica para achar o sutiã ideal. Deve-se dobrar os cotovelos formando um ângulo de 90º. A melhor posição é colocar o sutiã no meio do caminho entre a ponta do cotovelo e o ombro. A especialista diz que não existe um modelo ideal porque cada mulher tem suas medidas, mas se ela conseguir ajustar o sutiã neste ponto, os seios ficarão turbinados e a silhueta, mais fina.




Mostre as pernas - A exposição das pernas na medida certa passa uma impressão jovem. Charla é taxativa: jogue fora as meia-calças no tom da pele. Elas dão um tom artificial e antigo às pernas. Se não puder deixá-las de fora, invista nas meias arrastão e nas meias opacas, que chamam menos atenção.




Guarda-roupa - Charla não perdoa. Se você tem um terninho de grife e acha que vai arrasar de elegante com ele, ela joga um banho de água fria nas suas expectativas. Para a especialista, esse look tradicional envelhece até as mais enxutas. Ela não recomenda nenhuma roupa que combine todas suas peças. Esqueça os tailleurs. Nada de tom sobre tom. Moderno e elegante, na sua visão, é abusar dos contrastes. Uma dica são os vestidos com jaquetinhas para completar o visual. Charla não prega que as mulheres sejam magérrimas. 'Aceite seu físico, mas tente lidar com os excessos'. Use roupas que modelem seu corpo e não que o façam parecer maior do que é. Roupas muito justas deixam imperfeições muito aparentes, mas roupas largas farão você parecer maior.



Uma boa dica é usar uma bata ajustada ao corpo com calças skinny (retas em relação à perna) por baixo. Outra sugestão é um vestido com corte em A, que dá um visual nem tão justo, nem tão largo. Quando você for sair, use, no máximo, três peças brilhantes. Não use um vestido brilhante, um colar brilhante, uma bolsa brilhante, brincos brilhantes. Você pode usar um brinco, o vestido e o sapato, por exemplo.





Cirurgia plástica- 'Não gosto de plásticas, elas envelhecem. Se você quer parecer uma mulher de 60 anos, faça um lift no rosto', diz a especialista. O risco são as operações mal feitas, cujo resultado pode ser uma pele rígida e esticada. 'Um rosto com plástica passa a idéia de que você é velha o suficiente para ter de recorrer a este tipo de cirurgia'. Charla agradece por viver em uma época em que os avanços cosméticos são capazes de reduzir as rugas em 48 horas. 'O botox é um grande amigo, se não for utilizado em exagero'. Existem também outros procedimentos, como a injeção de colágeno, ácido hialurônico e até mesmo gordura humana. Apesar de se dizer fã desses recursos, Charla recomenda cautela na hora de procurar um médico. 'É preciso saber que esses procedimentos não impedem o envelhecimento, mas os resultados podem ser muito bons'.






Fotos : No alto, Charla. De vestido preto, maravilhosa, Shania. As demais, , da internet, sem identificação.

domingo, 12 de outubro de 2008

Rascunhos de viagem: Ora, malas!


*Já arrumei a bagagem pelo menos seis vezes. Alguns me dizem que em Londres estará frio, com certeza. O que quer dizer exatamente ‘frio, com certeza’? Quantas camadas de lã isso deve exigir? Ninguém tem uma resposta convincente. Metade da mala é ocupada por aquele mantô de tricô que vou me arrepender por ter levado, o casacão de lã que aparecerá em todas as fotos e a ècharpe preta que a mamãe me emprestou, que insisto em usar pendurada no pescoço e não ‘da maneira correta e elegante, as pontas de franjas passando por dentro, como num laço’. Decididamente não me interessa como acham que devo usar alguma coisa.
* Já tirei metade do que ia levar. Montei conjuntos, fiz contas, dá para passar trinta dias sem precisar lavar roupa, que bom. Inclui um tênis, todo mundo diz que é o calçado ideal para caminhadas, enfim. (Não que pretenda caminhar tanto.)
* Minutos antes de partir para S.Paulo, tenho um novo acesso de despojamento; abro a mala na garagem, retiro a sandália dourada, a segunda bolsa, uma agenda, uma calça jeans e acabo largando a fonte e o mouse do notebook que não deveria levar.
* Arrastando as duas malas para o bagageiro (onde ficarão guardadas até o embarque para o Porto), me ponho a rezar o ‘Santo Anjo’, para que me defenda delas.
* Portugal!!!Espero a bagagem na esteira. Minha mala nova (levei um tempão para achar da marca ‘Santino’, muito recomendada!), aparece, lindona. E atrás, o que sobrou do sitema de seis rodinhas com giro de 360º. Está se desmontando, junto com meus planos. Será que me multariam se eu a ‘esquecesse’ em algum lugar?
* Primeira lição, no Porto: ‘residencial’ é pensão, e não hotel. Pode ser que preste ou não. E o que se mostra no site, meu bem, pode não ser exatamente a verdade. Não era.
* Finalmente acomodada num hotel, confirmo o que já desconfiava; ‘maleteiro’ é coisa rara e as malas são minhas, com ou sem cirurgia. Comprei uma cinta, por via das dúvidas.
* Quero comprar isso e aquilo. Será que posso despachar minhas coisas pelo correio?
* Tenho vontade de amarrar os tênis e jogar para que fiquem enroscados num fio de alta tensão. Junto com as faixas coloridas, a bermuda ‘mais fresquinha’, o hidratante...
*Aveiro: tenho um hematoma em forma de rodinhas na canela direita. Nem me pergunte como consegui essa proeza.
* Lisboa: Minha mala parece um sanduíche com o queijo e o presunto sobrando do pão. Como não tem ninguém olhando, sento em cima e vou tentando correr o zíper, o que é uma manobra bastante complicada. Minhas mãos doem e tento evitar o desespero. Coloco parte do que não vou usar mesmo (tênis, inclusive!) numa mochila e me arrasto aos correios da estação Vasco da Gama. Setenta e dois euros depois, estou livre de seis quilos. De bagagem, claro. Volto para o hotel e vejo que fez pouquíssima diferença.
* Paris: depois de ver as ‘obras’ de Jeff Koons em Versailles, acabo tendo um pesadelo com uma enorme mala azul com dentes afiadíssimos, rosnando. Procuro não pensar mais nisso. Ainda bem que o dedão atropelado é na mesma perna da canela com hematoma.
* Estou mancando. Passo a usar uma sapatilha baixinha, ridícula; eu sempre usei saltos bem altos.
*Quase vinte dias fora de casa. Não cheguei a ver o que tinha na camada de baixo das malas. Não dá tempo. Elas deveriam abrir em duas metades, tipo essas revistas que a gente pode ler metade de trás pra frente. Seria bem melhor.
* Oito dias com o mesmo jeans. Estou uma perfeita européia. Em compensação, banho e lavagem do cabelo duas vezes por dia. Vou voltar sem cabelo.
* Despachei dois quilos de roupa suja. Cheguei à conclusão que não precisava ter trazido mais da metade daquelas peças inúteis que amarrotam. Ninguém presta atenção no que está embaixo do casacão, de qualquer forma.
* Na Gare du Nord tenho certeza que odeio malas em geral. Vejo as pessoas indo para Londres com valises que deslizam feito um poodle educado. Isso é que é elegância. Enquanto suspendo a última para acomodá-la no compartimento do Eurostar, a cinta enrola e acaba alojada justamente sobre a cicatriz que me lembra que não deveria levantar peso. Ah, então tá.
* Galeão. Duas horas esperando por elas, as malas. Despachadas finalmente para Belém, descubro que nem tinha tanto excesso, assim. Tento correr para o Duty-free. Não dá tempo.
*Belém: agora é ter que abrir e arrumar toda a quinquilharia. Por quinze dias terei pacotes, papéis, notas (pra quê a gente trás tudo isso?) e roupas de lã espalhadas no quarto.
* Decido comprar uma mala do tamanho que consiga ‘domar’. O trauma está superado e já estou disposta a arrastar ‘meu totó’ em outras plagas. E roupa, melhor comprar no caminho, mesmo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Uma patinha...Ops, gatinha.

Ela é Bruna, uma persinha que 'nos possui' (é isso aí!) há quase dois anos.
Desde que a trouxemos do pet, recém-nascida, dava mostras que viria a ser uma Encrenqueira de marca maior. Não suporta apertos, colo só por uns minutinhos, é curiosa e...adora água!
Pois é. Ninguém acredita mas Bruna entra na bacia de roupas, escapa para a chuva sempre que tem chance e curte ficar deitadinha ao lado da piscina com uma pata dentro d’água.
A intimidade com o elemento ao qual não pertence foi tanta, que já havia encontrado a ‘moça’ no primeiro degrau, parecendo o Cielo, pronta para mergulhar.
O caso é que mergulhou.
Estava indo colocar a roupa na lavanderia quando algo ‘escuro’ dando voltas na piscina, me chamou a atenção. Não acreditei. Bruna estava praticamente afundando, mal batendo as patinhas dianteiras. Fiquei aterrorizada mas consegui descer e resgatar minha felina amada. A princípio, pedi a Deus que não fosse a Bruna, que maldade. Mas era, a mecha branca sob o queixo e os olhos com de âmbar arregalados não me deixavam dúvidas. Enrolei-a com a colcha que tinha nas mãos e pude ver o abdômen distendido pela quantidade de água que havia engolido. Apertei devagar, pedindo a Deus, mas uma vez, que me fizesse capaz de socorrê-la. Com Ele é poderoso, ela deu um esguicho, como um espirro e gemeu.
Tive vontade de chorar, tal meu desespero. Chamei a Verena pelo celular e, por essas coisas divinas, estava bem próxima de casa.
Levamos a bichana nadadora até a clínica e ninguém acreditava que, apesar de trêmula, ela estava vivinha da silva.
Isso aconteceu ontem. Hoje Bruna está em observação, rodando pela casa, meio desconfiada. Mas já esteve molhando as patas no box do banheiro.
Penso em adotar uma terapia, quem sabe com ajuda profissional alguém a convença que gatos, decididamente, detestam água.



Na foto: Bruna, acordando de uma soneca sobre a minha mala!


Bem...por saber muito bem do que uma gatinha é capaz, não estranhei essa notícia de hoje, 8 de outubro, no Planeta Bizarro. Vejam que loucura:


A britânica Helen Wilmore, 36, se assustou quando abriu a mala em Amsterdã e dela saiu a gata Beauty, de três meses, que aperece na foto lá embaixo.
O bichinho se escondeu entre as roupas e, por causa de atrasos, ficou confinado na bagagem durante 21 horas. “Ela estava dormindo em minha cama enquanto eu fazia a mala. Na hora de partir, não a encontrei em lugar nenhum”, afirmou, segundo a publicação britânica “Telegraph”. Beauty também não foi notada pelos scanners dos aeroportos britânico e holandês. “Ela saiu da mala um pouco quente e molhada, mas fora isso estava bem.” A gata passa atualmente por um período de quarentena, na Holanda, que pode levar até seis meses. Ainda assim, é possível que continue no país para onde viajou ilegalmente. “Eu poderia trazê-la de volta, mas para isso seriam necessárias diversas vacinas e exames, além de pagar pelo transporte. Não tenho dinheiro para isso”, afirmou a mulher, que vive em Bradford, West Yorkshire.
Mas o final não foi tão feliz...


Conformada com a perda de Beauty, Helen comprou um novo gato para suas duas filhas, de 12 e nove anos. “Não é a mesma coisa, mas os dois têm a mesma personalidade adorável. Tudo o que posso desejar é que ela seja adotada por uma boa família, que lhe dê tanto amor quanto nós demos”, continuou. Um porta-voz do Aeroporto Internacional de Leeds-Bradford afirmou que a segurança local está investigando o caso.

Fala sério...abandonar uma filhota, assim? Eu, heim!

domingo, 5 de outubro de 2008

Rascunhos de viagem: Uma aldeia!


Ahf... Acho que hoje estou pior que “bege”, me vejo cinza, alguma coisa tipo aquele ‘off-white’ que foi moda uns anos atrás e ninguém assumia que era apenas um branco que já vinha sujo ‘de fábrica’.
Tô assim sem ânimo, com vontade de me deixar num canto qualquer, quase sem luz mas com ar condicionado, claro, que tudo tem limite, inclusive minhas depressões.
(Aliás, sou tão pouco confiável que nem com clima deprê, musiquinha baixo-astral e más recordações, consigo ficar ‘down’ por mais do que duas ou três horas, que coisa! Sabe quando a gente está querendo dar uma boa chorada, pegar um colo e se sentir a mais frágil das pessoinhas? Pois é, comigo não tem chance, logo estou rindo de alguma bobagem, credo!)
Hoje estou, como diria uma amiga, ‘de bode’. Queria ter vontade de escrever sobre a viagem, mas bolas, sempre achei um saco ter que aturar alguém matracando sobre suas pequenas e grandes epopéias, sem saber se outro está a fim de ver aqueles álbuns cheios de fotos mal tiradas. Depois, tem aquele papo de ‘querer aparecer’; se bem que, se tratando da gente que bate ponto aqui uma vez na semana, é uma grande bobagem, não é mesmo? Para aparecer mais só colocando aquilo na janela do fusca e isso, garanto, é coisa do passado.
(Falando em ‘aparecer’, um conhecido me disse que ando ‘sumida’, como se eu tivesse assim, meio ‘finda’, sabe como? Tadinho, nem jornal lê, que situação!)
Mas vamos a crônica que parece aumento de salário, quando a pensa que sai...
Ah, lembrei de algo interessante.

Se você pretende dirigir em outro país, a primeira providência é procurar o Detran para tirar a PID – Permissão Internacional para Dirigir. Trata-se de um documento com as informações do condutor em vários idiomas, o que facilita a comunicação com autoridades estrangeiras. Para se interar das peculiaridades de cada país, existem muitos sites, o http://www.moraremportugal.blogspot.com/ tira dúvidas e dá dicas bem ao gosto dos brasileiros que vão à terrinha pela primeira vez.
Confesso que se tivesse tido esses cuidados, teria evitado alguma aflição, mas no fim, deu tudo certo como haveria de dar.
Conhecer Portugal (e Espanha) de carro é a melhor opção para quem quer ver mais do que aqueles cartões postais manjados. E foi a nossa opção. No Porto, depois de uns dias maravilhosos, alugamos um carro e seguimos para Santiago de Compostela, apenas com um mapa e muita alegria. Existe uma enorme diferença de preços entre as locadoras mais famosas e aquelas pequenas e confiáveis, que só o pessoal do hotel pode recomendar. Conseguimos um carro pequeno com GPS por quarenta e cinco euros ao dia, metade do que nos cobravam. Verifique até onde o GPS está habilitado, o nosso não estava credenciado para a Espanha e perdemos tempo, “procurando o caminho”. No mais, é covardia; com o aparelhinho o mundo vira uma aldeia.
Nenhum destino em Portugal pode deixar de incluir todos os ‘sitios’ maravilhosos que estão no caminho. Não perca a oportunidade de dar um passeio nas cidades de nomes familiares ou exóticos que vão aparecendo, afinal, é tudo tão pertinho que logo a gente se sente dono da situação. E vale a pena, pode crer.
Não esqueça que a “portagem” em Portugal é diferente: num posto você retira o tíquete e no outro paga pelos dois pedágios. Se deixar de apresentar o cartão da portagem anterior, pagará dez vezes o valor do pedágio, algo entre cinqüenta e cem euros! Íntimas das ‘autovias’, resolvemos esticar por Aveiro e região; e depois até Lisboa, sãs, salvas e eufóricas!
À caminho de Aveiro, uma placa nos avisou que passávamos por Estarreja e Canelas, onde meu pai nasceu. Mamãe vibrou. Sem paciência para esperar até o dia seguinte quando voltaríamos para visitas familiares, insistia que seria fácil achar a casa das tias apesar do endereço estar numa agenda, trancada no bagageiro. Com o carro tomado por nossa numerosa bagagem, ela praticamente só tinha espaço para entrar e sair. Abrir malas estava fora de questão. Mas a Maria do Carmo não desistia. “É fácil, eu lembro...”. Numa ruazinha, avistamos a imagem típica da portuguesa do campo, coberta de negro, cajado e foice, sacola com verduras e legumes, vinda da roça. Sem graça, apenas para satisfazer a vontade da mamãe, tentamos saber alguma coisa, explicando que vínhamos do Brasil e já pedindo desculpas por perguntar se conhecia Regina Cascaes. Ela levantou o rosto, olhou a Márcia fixamente e respondeu com outra pergunta: “A mãe ou a filha?”. Quase surtei, o mundo realmente era uma aldeia! Não só conhecia como nos deu o endereço. O GPS, claro, fez o resto.
Encontramos as Reginas, mãe e filha, e uma parte da nossa história. O tio Antonio, de enorme semelhança física com meu pai, tias e primas que nunca tinha visto mas que nos tratavam como velhas conhecidas, citando nomes e fatos como se soubéssemos de tudo; o enorme quintal onde papai havia caminhado um dia, tudo era emoção.
Na casa onde minha avó morou e criou os filhos miúdos; a mesma escada, o mesmo piso do lagar que hoje é uma saleta...Em cada canto podia ouvir a algazarra e os ruídos que me contavam minha própria história, como se Portugal estivesse todo o tempo nas minhas memórias mais recônditas. E tudo era apenas reencontro, como se eu achasse ‘o fio da minha meada’.

Rascunhos de viagem: Malas nas portas.


Aos poucos, as luzes de Paris nos lembram que esta é a nossa última noite.
Chique, né? Mas me soa tão verdadeiro quanto uma bolsa made in Paraguai. (La garantia soy yo!) A verdade é que imaginei uma porção de frases de efeito que não denunciassem que não tenho lá muita intimidade com a matéria, afinal tem gente que vive com um pé aqui outro em Miami e a cabeça em Paris (claro!); com uma freqüência de dar inveja! Mas não levo jeito para essas coisas, vocês me conhecem.
Sim, ainda estou em Paris, quase no final de um passeio de trinta e dois dias pelo novo (para mim) velho mundo e, no balanço geral, só um consenso: viajar é bom demais!
Ninguém quer voltar dizendo que isso e aquilo foi ruim ou ‘marromenos’; agora sei porque quase todos retornam contando maravilhas, quem sabe baseados na viagem dos sonhos que nem sempre se concretiza. Dar esse gostinho aos amigos (os inimigos não ligam a mínima para onde você foi ou se gostou!), ou virar uma piadinha infame na boca ‘daquela uma’ é, no mínimo, desconfortável.
Começo então com as más notícias para esquecê-las depois da pá de cal das boas, que graças aos céus, são mais numerosas.
Bem, caso você queira gastar o dobro e se divertir pela metade, faça uma excursão. É mais ou menos como levar a sogra no mesmo quarto: uma roubada! Os hotéis são sempre “nas imediações” de qualquer lugar que conste naquele roteiro que você a-do-rou. Prepare-se para manusear mapas e odiar o seu agente de viagens lá pelo quinto dia.
“Meia pensão” é um negócio da China. Pra eles, claro. Você desembolsa trinta euros por cada uma, é levado para restaurantes “meia boca” e volta sempre completamente frustrado. E faminto.
Rapidinho percebe que deixou de ser ‘uma pessoa’ para ser tocado como gado, ou melhor, como ‘grupo’, nas piores mesas, tendo que engolir a comida que não escolheu sem reclamar (alergia a marisco é piada, meu amigo!) e tomar o sorvete da Kibon que virou “Olé”, achando o máximo. Trouxas merecem castigo, compadre!
Acredito que em algum lugar do mundo exista excursão honesta e divertida, enfim, quem tiver paciência que procure.
Graças a Deus iniciamos a viagem por “conta própria”, conhecendo o norte de Portugal até Santiago de Compostela num carro alugado, sem hora para chegar, sem compromisso com nada a não ser com o GPS. (Essa é uma das partes boas, mas tem mais!) Integramos o tal do grupo em Lisboa, quando passamos a viajar num ônibus velho, sem conforto, dirigido por um ogro lusitano que logo tirou o microfone do guia e passou a insultar brasileiros, ‘que compram demais’. Na fronteira com a Espanha o busão quebrou. Ficamos numa estrada de alta velocidade, num calor infernal, sem água ou banheiro, sem pai nem mãe. Pior: sem chocolate! Um desespero que durou seis horas, baixou polícia espanhola (não para ajudar e sim para avisar que nos multaria se mais alguém atravessasse a pista ou pedisse carona, acredite!). Um casal caminhou por dois quilômetros e voltou para avisar que havia onde ficarmos até que mandassem um ônibus e uma van para resgatar os sessenta e dois passageiros, levados para Madri. O ogro Felipe foi-se com a sucata, amém.(Arrasou, Santa Rita!) O resgate só foi possível porque uma de nós conseguiu acionar a filha no Rio de Janeiro, que tomou as providências e pressionou a operadora brasileira, que não estava nem aí. Perdemos metade do dia mas conseguimos recuperar o bom humor, apesar de tudo. Detalhe: como nós, quase todos tinham a informação que era um grupo de vinte e quatro pessoas!
No meio da viagem, lembrei de uma crônica do Raimundo Sobral, sobre a desfaçatez com que ‘a gente’ vai jogando as coisas pelo caminho. É interessante como nos comportamos bem ‘lá fora’; talvez para não levar um pito, vá saber! E aí a brasileirada aprende a não furar fila, a aguardar a vez e a (tentar) falar mais baixo.
Viagem fica muito melhor ‘com emoção’, não é? Semana que vem eu conto, bom dia!

PS: Viajamos pela CVC e Europamundo .

domingo, 13 de julho de 2008

Porque somos mulheres...Mea culpa



O tempo passa e vasculho a vida com um novo olhar. Não existe nada velho ou mofado nessa espiada que envelhescentes lançam no próprio passado.
É interessante como cometemos os mesmos enganos em vez de aprender com erros alheios; precisamos das experiências equivocadas, dos nossos hematomas e algumas vítimas.
A juventude nos faz intolerantes. Quando iniciamos relacionamentos que desejamos duradouros, agregamos hobbyes, paixões, amigos e até cacoetes do amado.
Sem resistência adotamos a mesma pizza, música, e, até, aquele timinho de futebol. Com sogra, ninguém tem problema no começo, não sem já ter estabilidade no serviço.
Não é falta de personalidade, é apenas “modus operandi” feminino, querida. E é claro, nem todas agem assim. Só a maioria que pensa que, por ser jovem terá tempo de sobra para errar, enterrar grandes e pequenos amores e, quem sabe? Recomeçar e cometer as mesmas sandices. Pena. Hoje, tempo é tudo que eu queria ter de sobra. E não o perderia com erros tolos.
Não existe novidade nas histórias e crises amorosas. Só muda a música, no mais, o roteiro é o mesmo, desgastado e pouco interessante.
Só nós cometemos erros? Não, meu bem, mas hoje estaremos na berlinda, relaxe e aproveite, como diria a Marta.
Caso é que, depois daquela temporada de ‘somos almas gêmeas e eu sou muito legal’, vem a sensação de estabilidade que é o primeiro passo para a insuportável certeza de vitaliciedade. E essa é apenas um delírio, inclusive em Buckimham.
Pombinhos juntos, familiazinha criada, a mulher se torna muito, muito espaçosa.
Culpa da sogra que, ela garante, nunca a aprovou. Hummmm. Lembra daqueles aeromodelos que vocês montavam juntos? Hummm...Pois é. Estão na casa da mãe dele, junto com os Puzzles que você deixou de fazer porque ocupam a mesinha da sala. Da sua sala. Ah, tá. Dá para entender, não é?
E a coleção de gibis? Pouco espaço, os apartamentos são minúsculos, como acomodar essas inutilidades mais seus sapatos e suas bolsas, afinal são a sua razão de viver. Ou quase, vá lá. Em alguns lares bem amplos, escritório masculino é ficção. E espaço perdido, não é mesmo?
E a bancada do banheiro? Uau, como são exíguas. Temos tanta coisa para deixar lá (e usar pouquíssimo) que mal sobra espaço para ele, que tem escova de dente, barbeador, espuma, perfume. Ora, perfume pode ficar no guarda-roupa, perto dos lenços, é mais prático.
Na geladeira, tem tudo que gostamos afinal, será a dieta dele também. Melhor que seja!
Os amigos, amém, ele conseguiu manter a duras penas e, não se espante, depois de alguma negociação, com transferência de ativos e passivos. Pra você claro.
Sabe uma coisa que sempre me intrigou? Mulheres têm amigos, homens (quis dizer héteros), outros amigos gays, uma porção de amigas pouco confiáveis e aquelas que valem ouro. Saem com a própria turma, sem os maridões; atendem ligações de celular e correm para um canto discreto; ficam horas penduradas na Internet...Mas se consideram acima de qualquer suspeita ou crítica. Já imaginou o que aconteceria se seus homens fizessem exatamente a mesma coisa? (Nem tente, há indícios que foi assim que os problemas no Oriente Médio começaram...).E se ‘eles’ trocassem abraços afetuosíssimos e cheiros no cangote, com uma mulher, bem na sua cara e depois, cândidos, dissessem que não importa, pois era apenas mais uma gay (e nem dava pinta, né?) com quem se relaciona, num grau de intimidade que beira o...Incesto? Sei lá.
Não estou reprovando nada disso, amiga. Cal-ma! Apenas e tão somente fico aqui matutando como seria se ambos tivessem, sempre, os mesmos direitos, pois é fato que não têm.
Saímos com eles, comemos um filé a Paulo Chaves e ainda abatemos um Petit Gateau (Aliás, essa sobremesa é pior que herpes, em qualquer lugar tem, que coisa!). Mas poucas vezes nos sentimos no dever (nem diria obrigação) de dividir a conta, afinal, estamos dando ao Romeu a honra de uma companhia agradável e salutar. Será?
É, meu anjo, eu realmente fiquei velha. Mas o ranço que me incomoda não vem de hoje, dessa nova maneira de ver e acima de tudo, de olhar. (Com o tempo, você aprenderá a diferença.) Vem dos cacoetes, dos modelitos fora de moda e de tudo que, sabidamente, vai dar errado.
Vejo sim, que é da natureza feminina esse viés egoísta e egocêntrico, que só tempo ameniza, tornando-os menos incômodos. E a nós, um pouco mais parceiras.
Talvez isso não explique porque homens mais novos estão, cada vez mais, experimentando mulheres mais velhas (Bom, as mais jovens estão penduradas nos melhores coroas da cidade!).Mas me faz entender que muita coisa poderia ter sido diferente...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Meu anjo


Lembro-me tão bem daquele monte de novos sentimentos que me acometeram quando me tornei mãe. Olhava aquela coisinha de bochechas rosadas e cachos castanhos, dormindo placidamente, absolutamente confiante que eu resolveria tudo.Eu, que ainda me sentia filha, mais filha do nunca, tinha ali um planeta inteiro cochilando nos meus braços e que dependia de mim. E eu estava a-pa-vo-ra-da.Agora eu não era mais uma só. Eu era duas. Tinha alguém, pra sempre.Senti-me perdida, incapaz, incompetente, imperfeita e ignorante. Poderosa.E ela dormia. Tranqüilamente. Não tomava conhecimento do meu desespero, dos meus quilos a mais e sono de menos.A Margareth Tatcher aparecia na TV, olhar compenetrado, falando sobre o destino de grande parte do mundo. E eu imaginava que mais difícil era entender o que aquela coisinha queria dizer com seu choro fora de hora. Tentava t-u-d-o.Era uma estranha, um ET que fazia um cocô grudento e que sei lá por que cargas d`água, eu limpava o bumbum rosado com a dedicação de um Michelangelo retocando sua madona. Comecei a achar interessantes, as coisas mais maçantes. Devia estar pirando.A estranha foi se tornando tão íntima que até os cheiros mais diferentes eram tão agradáveis que não me furtava de absorvê-los em quase êxtase. Logo após o banho, era o cheirinho do bebê, algumas horas e duas golfadas depois era um azedinho tão pessoal que eu reconheceria em qualquer lugar. O pezinho tinha outro cheiro... E aquela estranha foi se comunicando comigo. Eu já sabia exatamente o que ela queria, como e quando.A novata ficava ali, deitada, me olhando. Era poderosa, a pequenina. Dependia de mim para tudo e sabia que estaria ali, sempre. E dormia tranqüilamente enquanto eu levantava várias vezes para ter certeza que respirava e que o coração estava batendo certinho.A estranha foi crescendo e ficando a minha cara. E cada vez menos estranha.E em vez de duas, acabamos nos tornando uma só. Esses seres celestes têm muito poder.Vinte e cinco anos depois ainda vou ao quarto, todos os dias, em plena madrugada, só para ver se ela está bem. Acaricio os cabelos e procuro um cachinho que o anjo da guarda deixou de lembrança, da época em que aquele ET veio do céu para me tornar uma pessoa melhor.Todas as noites busco seu cheirinho no pescoço, nas costas. E repito acalentando o sono tranqüilo: “você é o meu bebê e a mamãe a ama muito”. Agradeço a alguém lá de cima que achou que eu devia aprender alguma coisa boa e me mandou uma estranha, cheia de cachinhos, com carinha de boba e um mundo inteiro nas mãos.Não existe um ‘dia mães’, todos os dias esses sentimentos tomam conta de nós, invadem nossas agendas, provando que ser mãe é ter paciência, é aprender a pensar por três e mudar de idéia de vez em quando.É saber que improvisar não é falta de planejamento. É sabedoria.É confiar, ainda que o mundo tente nos fazer incrédulos. É tentar dormir enquanto eles não chegam, e, acima de tudo, sentir o coração transbordando de um amor indescritível quando lembramos daqueles cachinhos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Perdão pelo Palavrão !




Chego à conclusão que somos muito tolos e até um tanto hipócritas. Não?
Já faz um certo tempo que não existe assunto ‘proibido’ na mídia, numa conversa de bar, num papo de sala de espera. A última criança atirada pela janela, o político flagrado com montanhas de dinheiro de propina, soda cáustica no leite, bebês morrendo, a ex BBB porca que posta um vídeo soltando um...(como diria sem ofendê-lo, Senhor?) um... ‘pum’ (perdão!) e tantos outros descalabros; daí tinha certeza que quase nada seria ‘mau gosto’. Engano meu! Continuamos com uma cabecinha bem pequenina e ainda aceitamos que assuntos da maior importância para homens e mulheres continuem no arquivo dos confidenciais; ou seja, a gente finge que não existem e vocês fingem que vai tudo bem, obrigado.
Aposto dois contra um que sua mente perigosa acreditou que falaria de orgasmo, opção sexual, prazer e coisas assim, bem pessoais. Enganou-se, meu caro Degas, é muito mais escancarado do que sua munheca, que aliás não me interessa, mesmo!
Próstata! Útero, ovários, trompas! Shiiiii! Olha o palavrão! Respeito é bom e todos gostam...Ah, isso lá é assunto para conversar à mesa?
Pois bem, hoje acho que é.
Faz um tempinho perguntei ao amado leitor como ia sua próstata. Que? De quem? Hein?
É, aquela coisinha que você insistia em fazer de conta que nem existia, mas sua mulherzinha lembrava, dia sim, outro também, que estava na hora de dar a ela, à coisinha, a atenção merecida. Choveu e-mail de esposas furiosas com essa mania que homem tem de tratar a própria saúde como quem não tem nada a perder, deixando que ela, tadinha, cuide da família inteira!
A Fátima Bernardes teve um problema na mama (não fique ruborizado, querido, ‘mama’ toda mulher, até sua mãe, tem!) achou que era hora de divulgar o tema e muitas brasileiras correram para aquele exame com a coragem tipicamente feminina; pode doer, mas a gente prefere prevenir.
Nunca a informação foi tão fácil para essa camada (cada vez maior) que tem acesso à Internet. Sabe-se a tabela do campeonato espanhol, o vencedor da loteria da Malásia, ou quem caiu na malha fina...Tudo na ponta dos dedos.
Entretanto, continuamos evitando os palavrões, aquelas ‘coisinhas’ que nos incomodam muito, simplesmente porque existem.
Por essas circunstâncias da vida, eis que cheguei ao momento de aliviar minha carga e deixar, no meio do caminho, útero, ovários e trompas. (OK, sua mãe também tem. Ou tinha, tanto faz!) Sexta-feira, sofri a intervenção cirúrgica que me livrou que alguns males e, certamente, evitou outros muito piores.
E apesar de todos os avanços, das ferramentas capazes de nos colocar par e passo com o que acontece no planeta, tem quem insista no que ‘já foi’ e ainda acredite em idéias mofadas. Ouço consternada, um cidadão me falar que infelizmente os médicos deveriam ‘pensar antes de encerrar a vida útil (que horror!) de uma mulher tão jovem...Como a dele.’ Entre a luz da informação e a sombra da ignorância, ele prefere abrigar-se no conforto daquela que talvez o faça ‘entender’ a razão de uma vida conjugal pouco prazerosa. Mais fácil culpar a medicina ou a mulher ‘amputada’. Coitado.
Não se trata de alguém ‘simples’ como você podia supor, mas de uma pessoa que se colocou convenientemente distante da realidade. E muitos repetem esses mitos, dificultando o acesso à saúde; seja do homem que precisa tratar a próstata e vive atormentado por fantasmas que existem graças aos ignorantes, seja de mulheres – inúmeras – que necessitam de uma cirurgia, mas sabem que os tabus sobreviveram aos pixels, ao iPod, ao laser e ao Jornal Nacional.
E por causa desses, shiiii...! Fale baixo, vê lá se isso é coisa para se comentar? Bem, mudando de assunto...Viu que jogaram a quinta criança pela janela, só esse ano?

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Servicinho de quinta



Que Belém hoje é uma cidade grande, com muitas atrações, não resta a menor dúvida.
E que continua sendo a capital onde se presta um dos piores serviços, também é fato; basta ver as impressões que muitos turistas levam daqui, além da nossa própria auto crítica.
E hoje nem vou falar dos sujismundos que emporcalham nossa terra, argh!
A mão de obra local continua sendo a grande culpada por tudo de ruim que acontece, pena que poucos lembrem que poderia ser diferente, se houvesse um pouco mais de atenção de quem pode e deveria ‘mandar’.
Em todo lugar, raros são os funcionários que tratam cliente como se deve, afinal custa muito usar ‘senhor e senhora’? Não sou ‘meu amor’, ‘paixão’, ou ‘amiiiga’. Não joguei peteca com a balconista nem fui à balada com o garçom, para que ele me cutuque quando quer saber se pode retirar meu prato.
Podem me achar esnobe - o que não sou- mas não suporto que me toquem sem necessidade e, apesar de ser extrovertida, não gosto de intimidade com quem não tenho. Isso é simples, cada qual com seu cada qual, ora.
A gente chega num consultório cheio de frescuras, o doutor é uma estrela de primeiríssima grandeza que atende pacientes de convênio (aquele S.U.S que a gente tem opção de pagar ou não) por pura filantropia e encontra uma atendente de tamancão, chiclete, lixando unhas com estampa de oncinha e ainda tem que ser tratada de ‘fôfa’?. Fôfa, eu não admito! Aí já é demais. Na mega loja (que já me irrita por ter pouco espaço e um monte de coisas amontoadas pelo já exíguo corredor) a vendedora, com celular grudado no ouvido, me pede que espere ‘um minutinho, tá lindinha?’. E vira-se, com o cabelão melado por algum produto misterioso, para acomodar algo na prateleira mais baixa, deixando o cofrinho (na verdade um cofrão) de fora. Decididamente estou ficando velha. E minha tolerância diminuí a cada dia, que horror.
Gosto de capricho, de qualidade, e isso meu bem, não tem nada a ver com condição financeira e sim com acesso a informação, orientação e exemplo.
Tenho vergonha desse nosso jeitão ‘bem simpático de ser’ e permitir que façam quase tudo de uma maneira pouco profissional. Já não bastasse a noiva atrasar, o cenário do evento ser montado ‘nos quarenta e quatro do segundo’diante da platéia que tem mais é obrigação de esperar; agora até padre atrasa. Dia desses, uma missa atrasou , pasmem, quarenta e cinco minutos! O coroinha (de uns trinta anos!) convocou-nos ‘a cantar’ enquanto esperávamos, ‘o nosso amigo padre fulano’, que já tinha sido chamado e chegaria, ‘mais tardar em vinte minutos’. Pode? Sei não.Novos tempos, né?
Num restaurante pretensioso, o belo projeto arquitetônico contrasta com o despreparo de quem recebe os clientes com um intimíssimo “Ôooooi? Tudo bem?”, já passando a mão na minha bolsa para acomodá-la numa cadeira.(Te conheço?). Quatro vezes pedi queijo. Na quinta , fui avisada que o cozinheiro ainda iria ralar o parmesão.
Num fast-food venderam-me stogonoff com arroz e batata frita. Quando fui receber, o inocente me perguntou o que preferia para substituir o arroz, que tinha acabado: purê ou salada? Diante da minha negativa, candidamente ele me diz que tenho ‘obrigação’ de aceitar a substituição e se aborrece.
É Belém, isso. Aqui o cliente tem ‘obrigação’ de aturar tudo, até porque sabe que podem cuspir no prato dele, lá na cozinha.
Que tem cliente mal educado, grosso feito papel de embrulhar prego, isso a gente sabe.
Meu foco aqui é outro. É justamente (como diria o Juvenal Antena) o eventual descaso de quem está no setor de serviços, em preparar -bem- quem haverá de representar sua empresa.
Se a palavra motiva, exemplos arrastam. O dia em que capacitação, bons modos e boa apresentação pessoal forem realmente seletivos, as coisas mudarão. E gestores que são grosseiros e não conseguem ser espelho para a equipe, esses também terão os dias contados.
Quem não pode que não se estabeleça.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

História de mulheres: Teté.


Pérolas falsas
Ethel era uma mulher quase fina. Não que fosse rica, mas era sempre lembrada como uma pessoa discretíssima e educada, que cumprimentava todos com aquele ‘bom diiia, como vai? E a irmãzinha?’. Ela ainda acreditava num chanel retão com pontas viradas pra dentro, e a tintura, louro escuro, era a mesma desde 81, quando resolveu disfarçar uma mecha branca.
Para complicar, usava uma volta de pérolas miúdas -falsas, claro- mas achava que era ‘salt-sea’ e pronto. Usava sapatos mocassim de paupérrimos saltos cinco, e sempre escolhia um ‘conjunto’; decididamente Ethel era quase uma chata.
Mas se existia alguém muitíssimo bem intencionada, era ela. Tão cheia de boas intenções que dava ódio. Não havia amiga que gripasse que ela não visitasse, com um chazinho inglês ou um bolo -inglês, claro- que Ethel não era de bombons de cupuaçu e esses regionalismos que jamais combinariam com o chanel retão.
Um dos seus orgulhos era só usar jóias ‘verdadeiras’; um brinquinho solitário, aliás desesperadamente solitário, só uma fagulha, uma lasquinha em cada orelha que nem brilhar brilhavam.
Todos os recém nascidos e os recém defuntos contavam com a solidariedade de Ethel, que era figura conhecida nas maternidades e na igreja onde quase todas as missas de sétimo dia aconteciam.
Até que um dia, a nossa contrita amiga errou o local de um almoço de mulheres e por essas coincidências que só o coisa ruim pode ter armado, acabou no salão onde rolava uma festinha pra lá de animada.
E ela viu, lá no fundo, o Praxedes, o corretíssimo marido que fora seu namorado nove anos antes que noivasse por mais seis; dançando com a gravata de Mickey amarrada na testa, de microfone na mão, declarando-se apaixonado por uma tal de Shirley, loura falsa, de peitões e bunda redondinha, com calça apertada e camiseta de oncinha.
Ethel ficou em estado de choque. Jamais, em toda sua santa existência imaginaria o marido numa cenas daquelas. E como toda santa tem seu dia de mingau, aboletou-se num canto, pediu quatro cubas (ela era do tempo da cuba libre) e entornou todas sem perdão.
Como era de se esperar, Ethel resolveu vingar-se do marido e do mundo e arrebentou o fio de pérolas. Ela cometeria todos os pecados, agora que conhecia a vida como ela é, tudo seria diferente. Comeria um pacote inteirinho de biscoito recheado de chocolate, compraria uma bolsa verdadeira e deixaria o carro sobre a calçada. Saiu zonza e entrou no salão de beleza. Depois de cortar os cabelos naquele modelito da Victoria Beckham, partiu para o cubículo de depilação e pediu uma ‘total’. Total, mesmo?, perguntou a Odacy, incrédula, depois de vinte anos depilando nada mais que a virilha-sobrancelhas-buço da ex comportada cliente. Total, sim! Frente e fundos! Mais explícito, impossível.
Dali pra loja de lingerie da Braz foi um pulo. Fio dental! Ela iria chegar em casa com uma daquelas calcinhas que entram onde quase nada deveria estar. Trocou lá mesmo.
A pele recém depilada lhe oferecia outras sensações. Talvez fosse coisa da sua cabeça, mas quase teve certeza que o barbudo que vinha pela Serzedelo sabia exatamente o que ela tinha feito. Sentiu um rubor nas faces, o resto já estava ruborizado faz tempo. Na esquina, ao atravessar a rua, o motorista do Sienna prata também sabia que ela estava de fio dental por baixo do novo jeans. Não perguntem como, ela tinha certeza!
Caminhou sentido-se um tantinho mais poderosa e lá se foi, meio cansada, as quatro (ou teriam sido sete?) cubas sendo metabolizadas e o restinho de juízo querendo voltar.
Entrou e viu o Praxedes, num cochilo, esparramado no sofá de xadrez. Olhou o terno preto e a gravata cinza sobre a cadeira e farejou o aroma, esperando encontrar uma mistura de whisky, cigarro e perfume. Mas o que sentiu foi a colônia que comprava a anos para o marido. Gravata cinza? Onde ele tinha enfiado o Mickey?
Enquanto pulava para baixar as calças, ele entrou no quarto e ficou boquiaberto...
-Teté...? O traseiro alvo da mulher resplandecia entre a calcinha cavadíssima e o jeans apertado. O cabelo parecia tê-la rejuvenescido dez anos.
-Tetê...? Ela não precisou de muito esforço para perceber que o Praxedes estivera ali a tarde toda e que, sabe-se lá como, ela o tinha confundido com o outro gordinho da gravata de Mickey. -Teté...você está deliciosa...!
Duas horas e muitos amassos depois, Ethel tomava uma ducha tentando entender o que havia acontecido, a cabeça pesada não ajudava. E as pérolas?
Bom, elas não combinavam mesmo com aquele cabelo.
No quarto, Praxedes ainda olhava a calcinha balbuciando ‘Adorei, Teté!...Adorei!’

domingo, 15 de junho de 2008

Decifra-a ou...



Mulheres têm o hábito de se comunicar através de códigos, principalmente com seres amados. Como paciência nunca foi meu forte, imagino o quanto é necessário para conviver com esses seres delicados, incapazes de dizer claramente o que sentem, o que querem.(A verdade é que, as vezes, a gente complica, não é ?)Não? Ah, tá, então você é mulher e sua opinião é suspeita. E como eu sei? Ora, ora...
Quem, da turma masculina, não lembra quando encontrou a patroinha calada, ignorando sua presença, numa eterna conversa telepática com algum ser intergaláctico ? O amado pergunta o que está havendo, se aconteceu alguma coisa ou se ele, tadinho, cometeu uma falta grave. A resposta é sempre “nada...”. E ela cantarola baixinho, entra e sai do banheiro sem contar os detalhes da última confusão entre as amigas, escolhe roupas sem medir sua reação e sai, com um seco ‘tchau’.
Numa viagem que deveria ser o divertimento da temporada, ela entra no carro calada, fixa o olhar lá fora e vai assim, às vezes roendo uma unha hipotética (claro, não vai descascar o esmalte) até o trevo do Atalaia.
Outras conseguem ir a uma festa e permanecer mudinhas da silva, obrigando-o a tomar mais do que o desejável só para manter a boca ocupada.
Grávidas mereciam um capítulo a parte.(Acredite, nessa fase a gente se sente quase horrível, diferente das pouco barrigudas dos comerciais, lindas e amadíssimas.) Lembre das mudanças que ocorreram no corpo dela para que você fosse um pai lindão; banque o solidário, diga que ela está ma-ra-vi-lho-sa, não esqueça dos beijos na boca (mesmo) e não caçoe dos pitis. Se fosse seu o umbigo a pular pra fora, a coluna a ficar feito bambu ou os mamilos que viraram dois cookies; sem falar no parto (áaaaiii)...Você jamais seria ‘mãe’, querido.
Lição número um, meu caro; mulher calada é sinal de mau tempo. Chuvas não são obrigatórias mas prepare-se para trovoadas.
Não fomos treinadas a falar sobre nossos temores, nossas tempestades interiores, apesar de ‘saber tudo’ sobre o que se passa com você. A gente sempre acha que é chatice e acabamos muito mais chatas ao obrigá-los a decifrar esses criptogramas ou a discutir a tal da relação. Se você prestar atenção e puxar pela memória, vai saber direitinho quando é ciúme (sempre negado, claro!), neura com a balança (que você vai jurar que é coisa daquela cabecinha linda!), alguma encrenca com a sua mãe (e você carrega os genes dela!), carência (ser mulher é estar a um passo da carência) ou TPM, mesmo (que passa em cinco dias).
Mulheres costumam dialogar (demais) consigo mesmas e inventam um roteiro para seus parceiros; por isso, não se assuste se ela estiver chateada por coisas que ‘tem certeza’ que você sente, fez ou imagina fazer. Inclusive que acha que o seu amor diminuiu, que você não lhe dá atenção, que teve a indelicadeza de tomar um copo d’água antes de cumprimentá-la e que gasta mais tempo com o poodle. Aconselho-o a nem discutir. Será muito, muito pior, tentar fazê-la pensar como gente grande num desses surtos.
Peça desculpas, reconheça sua parcela na crise de combustíveis e no aquecimento global, beije-a ternamente (se ela não estiver rosnando), chame-a de ‘menina dengosa’, ofereça colo, carinho, aconchego e tudo mais que seu preparo físico permitir; no fundo, é isso que ela quer: sua atenção. Caso ela tenha razões para desconfiar da sua fidelidade; negue até a morte. Mulheres preferem conviver com uma leve desconfiança a uma sufocante certeza, mesmo que digam o contrário ou jurem que a sinceridade é o início do perdão. Mulheres mentem, lembre-se disso.
Caso não funcione, melhor colocar as barbas (ou os neurônios) de molho. Ela pode estar de saco cheio de você. Coloque os pingos nos ‘is’ que sobraram e mostre que o terreiro ainda tem galo. Às vezes (nem sempre) funciona.
Boa sorte! De qualquer forma, você vai precisar.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

À mãe cansada


A crônica que pediu vai por e-mail; foi publicada no meu “Cá entre Nós” do Caderno Mulher, lembra? O formato não caberia aqui.
Bem, seu e-mail é de uma sinceridade (quase) desesperada e acabou me trazendo para o teclado. Sei como você se sente e, tenha certeza, também consigo avaliar ...
O mudo idealiza essa relação entre mães e filhos; é difícil admitir publicamente que, por um momento, estamos cansadas do ‘avental todo sujo de ovo’ e de falar aos peixes.
Quando me tornei mãe, confesso que não estava nem um pouco familiarizada com crianças e me sentia perdida. Morava em São Paulo e não tinha absolutamente ninguém para me ajudar, por outro lado, ninguém me atrapalhava. Ao telefone com minha mãe, me senti a vontade para chorar minha insegurança. E ela, sábia, me disse algo que nunca esqueci: “Vera, isso passa. Rápido. Eles crescem e daqui seis meses os problemas serão outros...” . E tem sido assim, sempre me lembro da frase.
Hoje os filhos permanecem em casa por mais tempo, estão priorizando carreira e até as moças ficaram avessas ao casamento precoce. Com isso, permanecem ‘filhos’ (com ônus e bônus) por uma jornada mais longa. E são raros os que lembram que mãe é mulher de carne, osso e hormônios e, graças a Deus, sente falta de uma porção de coisas...Inclusive privacidade.
Tenho certeza que você os ama, da mesma forma que amo a minha bebê de vinte e cinco, a questão é que, apesar de entendê-la, não sei exatamente qual a melhor solução.
Chega uma certa hora na vida da gente que estamos, todas, exaustas. Talvez aquelas que não vestiram o modelito de ‘mãezona’, que não levaram tão a sério a função de dona de casa, estejam muito mais relaxadas do que nós. Mas quem garante que, no fundo, não se penitenciem pela bagunça, pela casa sempre ‘meio limpa’ e os filhos ‘meio sujos’?
Imagino que, sendo mãe de vários e com um marido nada colaborador, você realmente deva estar quase entregando os pontos e, com o desânimo, imaginando quanto perdeu de sua vida.
Falar, falar, falar. Lá pelas tantas, ninguém nos ouve. E as toalhas continuam jogadas pela casa, os quartos eternamente em guerra civil; ninguém lava o carro que todos sujam, a louça se acumula na pia e as roupas ficam aos montes num cesto sem que alguém as leve até a máquina, pelo menos. E você ainda tem o relatório do chefe arrogante e o maldito churrasco de domingo com aquela sua cunhada que acha sempre uma receita melhor do prato que você passou a madrugada fazendo. Sei como é.
A Angélica Nancy sabe muito mais o que fazer, certamente. Eu, nessa minha mania de ter sempre uma opinião sobre tudo, acredito que esteja não só fisicamente cansada mas, principalmente, emocionalmente exaurida.
Ao silenciar, você permite que sua fúria se transforme em piada -“TPM, de novo?”- e em vez de ajudá-la, isso só piora as coisas. Que nessa casa ninguém lembra que você é uma linda mulher, é fato querida! Mas você não tem ajudado muito.
Férias em família, agora? Credo! Vá com uma amiga, permita-se esse tempo e espaço.
Reúna a tropa, e com o seu carinho, avise que a super-mãe está dodói e talvez não seja tão super assim. Abra o coração sem rancor e sem tentar identificar culpados.
Informe que vai dar a todos a oportunidade de crescerem, e desculpe-se pelos anos que arrumou camas de marmanjos e esfregou os fundilhos das lolitas; dos banhos que deu no cachorro e de ter cuidado de todos como se só você fosse capaz.
Vai ser duro, mas avise que cada um deve cuidar de si para que você tenha tempo e saúde de cuidar da mãe deles. A parte prática -dividir tarefas e outros que tais – isso você tira de letra. O mais difícil será deixar as coisas acontecerem. Lembre que antes de melhorar toda mudança parece piorar tudo.Volte-se um pouco para si e esqueça essas bobagens de não estar tendo amor pelos seus. Faltou foi por você mesma.
Tenha certeza que, no dia em tiverem a própria família, serão gratos por você tê-los preparado, e, melhor ainda, irão perceber que avó também não é emprego.
Boa sorte e um abraço amigo, mesmo.
Vera. (veracascaes@gmail.com)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Para sempre princesa




Um conto sem fadas.
Era uma vez uma princesa bem pequenina, numa casa onde papai e mamãe ainda eram felizes mas não sabiam que toda menina nasce princesa.Ela foi crescendo e entendendo alguma coisa, ou pelo menos queria entender. Papai ficava fora muito tempo, estudando com amigas de faculdade; mamãe era ótima, comprava montes de chocolate -que é alimento de princesa - e elas ficavam mais fofas e lindas.
Mamãe trabalhava muito e papai muito mais; nenhum dos dois percebia a realeza da menininha. Até que um dia ela voltou da escola e encontrou os armários vazios e mamãe chorando na cama; não encontrou o papai, nem o carro do papai ou as roupas do papai.
Mamãe disse que estava feia e gorda e que por isso papai foi embora - quem sabe para um reino distante onde as princesas nascem e ficam magras para sempre e pais nunca desapareçam com as roupas, o carro e o sorriso das mães. Mas nesse mundinho onde nossa princesa vivia, as coisas eram diferentes. Ela crescia com pernas roliças e belas, como pernas de princesa. A cintura não era tão fina e o traseiro...Bem, nunca se soube como era um traseiro de alteza.
As palavras voavam e semeavam o castelo e as redondezas; aos poucos ela não via muito de princesa no espelho e assim, os olhos não refletiam realeza para o resto do mundo. Sua imagem de princesa era apenas uma foto, num daqueles álbuns que criavam mofo, numa gaveta do escritório.
Tornou-se uma adolescente meio cinza, enfiada em roupas grandes, que escondiam e protegiam. Ninguém prestava atenção na ex-princesa, mas sua essência guardava relutante nobreza; apesar de mamãe não notar e papai estar muito apressado.
Certo dia veio parar na carteira ao lado, o novo príncipe da escola. Ela mal ousava olhar, príncipes têm sempre muitas meninas em volta e ela não era bem o tipo daquelas que suspiravam pelos cantos, à espera do aspirante a rei. Mas a natureza nem sempre é dadivosa e o príncipe carecia de concentração e bons resultados; por causa disso, notou na mocinha com ares de boa aluna, que sentava ao lado.
Uma coisa leva a outra e assim acontecem outras coisas no mundo real, sem trocadilhos.
Na tarde de estudo, o belo se perdia no sorriso morno e nos olhos de lagoa que o fitavam, com certo afeto. Percebeu as notas de um suave perfume, levemente adocicado, que gostaria de sentir mais de perto. E as pernas, claro, grossas e lindas, que a saia comprida quase não deixava aparecer.
O príncipe sentiu que algo mudava, ele parecia estar se tornando um pouco mais normal. E, quem sabe, um estudante que não envergonharia os tutores da nobreza.
Sentiam falta um do outro, a plebéia sem graça e o príncipe sedutor. E como uma coisa leva a outra, um belo dia, em um lugar qualquer -que nessas histórias o local importa pouco- o príncipe selou sua boca real e curiosa, nos lábios comuns da colega comum.
De uma coisa a outra, em pouco tempo eles eram um só e acabaram nos braços um do outro, num castelo encantado, que nessas circunstâncias, o lugar já importa e muito.
Fizeram amor, que aquilo era amor entre homem e mulher, nobres ou nem tanto.
Ele olhou-a e viu então a princesa, de mãos de princesa e traseiro de princesa, dos olhos de pote de doce, do olhar de lagoa. Beijou-a e mimou-a como se beija e se mima uma mulher, e com seus paparicos reacendeu aquela tiara, há tanto tempo sem brilhos e cor.
E então aconteceu o grande milagre, ao olhar-se no espelho, sentiu-se novamente princesa e os olhos de doce refletiram a nova rainha que acabava de acordar de um sono reparador.
E nem as colegas do papai ou os compromissos da mamãe conseguiram empanar o brilho e a fidalguia que emanavam da outrora princesinha, que agora caminhava segura, sabendo quem era.
E ela foi feliz para sempre, as vezes com um príncipe consorte, outras sozinha, mas sempre alteza; isso, não dependia de mais ninguém, só dela.