Querido inimigo meu,
Ultimamente fizemos parte um da vida do outro, da maneira mais idiota possível. Por outro lado, foi bom ter alguém interessante para detestar entre tantas pessoas a quem, obrigatoriamente deveria tratar bem e dedicar salamaleques, muito mais falsos do que as nossas desavenças. Afinal, porque começamos essa guerrinha particular, mesmo? Sabe que nem lembro? Verdade, estive tão empenhada em me deixar irritar e atingir você, que esqueci exatamente quando tudo começou.
Muito provavelmente tenha sido um daqueles comentários desastrados, que podemos ter feito junto de alguém que vive de ‘leva e traz’ e que finge nutrir amizade por ambos. Que esperto, heim?..Muito mais que nós dois, que perdemos tanto tempo com esse lero-lero, cutucando as feridas, um do outro. Que chatice. Quer saber a verdade? Cansei!
Da mesma forma que cansei do videokê, das aulas de inglês, da ikebana, RPG, drenagem linfática, fisioterapia, alimentação natural, política, dieta dos pontos e do ‘Cem Anos de Solidão’, ufa! ‘Can-sei’ de tentar entender cada lance dessa inimizade inexplicável e burra, como quase toda inimizade. O que antes era adrenalina, agora é ‘boring’ como você diria num daqueles ridículos acessos de frescura. Nossa partida de xadrez durou tempo demais e tornou-se fonte de bocejos infindáveis.
Portanto, caríssimo, jogo a toalha; peça ao juiz que conte (com rapidez, por favor!) até dez e o declare vencedor dessa cisma besta. È isso aí, você venceu!
Não estou pedindo arrego, não senhor; apesar dos nossos ‘bons tempos’.Lembro dos telefonemas, sem nada importante a dizer, fones apoiados nos ombros e frases quase desconexas, uma fofoquinha aqui outra ali. Os e-mails, repletos de bobagens e afeto, tudo isso me deixou um tanto órfã, é verdade.
Mas o fato é que, dessa vez (quantas outras já ‘nos estranhamos?) nos permitimos viver sem o outro muito tempo. Acabamos acostumados à ausência e a não sentir mais tanta falta da presença amiga ou nem tanto.
A inimizade, esse elo muito mais forte que o apreço, foi substituída pela indiferença e desta, não há retorno confiável, meu ex-amigo.
Portanto, antes de nos tornarmos desconhecidos, reconheço-me derrotada. E aliviada. Estou cansada e sem a mesma energia de antes, até para implicar com alguém, ainda mais com você. Continuo tola e ainda ameaço chorar de vez em quando mas, para sua decepção, a causa não é você, é o tempo (ele sim, cruel) que me trouxe, além dos esporões de calcâneo, a certeza de que poucas coisas têm jeito, nós inclusive. Perdoe-me obrigá-lo a aceitar meu desfraldar de bandeirolas brancas e rendadas, como lingeries desejadas; não quero mais brigar por algo ou alguém que não valha a pena.
Talvez, lá no fundo, essa seja a minha maior vingança; obrigá-lo a escolher outra pessoa para irritar e divertir-se. Seja lá o que for, quero que tenha certeza que não ligo a mínima, pois isso não me causa mais nenhum ‘frisson’. Poupe-se de mostrar-me seu carro novo ou de tentar ‘chupar’ a barriga quando eu passar. Suas conquistas nunca me incomodaram, você é que acha que a humanidade o inveja, que coisa!
E se lhe dá algum prazer; sim tenho saudade da maioria das amizades do passado. Mas metade da população também e a outra, nem teve passado.
Siga seu caminho, pois vou procurar o meu. Fique a vontade para me cumprimentar ou não, tanto faz. Eu? Estou ensaiando um novo hobby, quem sabe tarô ou marqueting de rede. Qualquer coisa assim.
Cordialmente (acredite!),
Vera.
Ultimamente fizemos parte um da vida do outro, da maneira mais idiota possível. Por outro lado, foi bom ter alguém interessante para detestar entre tantas pessoas a quem, obrigatoriamente deveria tratar bem e dedicar salamaleques, muito mais falsos do que as nossas desavenças. Afinal, porque começamos essa guerrinha particular, mesmo? Sabe que nem lembro? Verdade, estive tão empenhada em me deixar irritar e atingir você, que esqueci exatamente quando tudo começou.
Muito provavelmente tenha sido um daqueles comentários desastrados, que podemos ter feito junto de alguém que vive de ‘leva e traz’ e que finge nutrir amizade por ambos. Que esperto, heim?..Muito mais que nós dois, que perdemos tanto tempo com esse lero-lero, cutucando as feridas, um do outro. Que chatice. Quer saber a verdade? Cansei!
Da mesma forma que cansei do videokê, das aulas de inglês, da ikebana, RPG, drenagem linfática, fisioterapia, alimentação natural, política, dieta dos pontos e do ‘Cem Anos de Solidão’, ufa! ‘Can-sei’ de tentar entender cada lance dessa inimizade inexplicável e burra, como quase toda inimizade. O que antes era adrenalina, agora é ‘boring’ como você diria num daqueles ridículos acessos de frescura. Nossa partida de xadrez durou tempo demais e tornou-se fonte de bocejos infindáveis.
Portanto, caríssimo, jogo a toalha; peça ao juiz que conte (com rapidez, por favor!) até dez e o declare vencedor dessa cisma besta. È isso aí, você venceu!
Não estou pedindo arrego, não senhor; apesar dos nossos ‘bons tempos’.Lembro dos telefonemas, sem nada importante a dizer, fones apoiados nos ombros e frases quase desconexas, uma fofoquinha aqui outra ali. Os e-mails, repletos de bobagens e afeto, tudo isso me deixou um tanto órfã, é verdade.
Mas o fato é que, dessa vez (quantas outras já ‘nos estranhamos?) nos permitimos viver sem o outro muito tempo. Acabamos acostumados à ausência e a não sentir mais tanta falta da presença amiga ou nem tanto.
A inimizade, esse elo muito mais forte que o apreço, foi substituída pela indiferença e desta, não há retorno confiável, meu ex-amigo.
Portanto, antes de nos tornarmos desconhecidos, reconheço-me derrotada. E aliviada. Estou cansada e sem a mesma energia de antes, até para implicar com alguém, ainda mais com você. Continuo tola e ainda ameaço chorar de vez em quando mas, para sua decepção, a causa não é você, é o tempo (ele sim, cruel) que me trouxe, além dos esporões de calcâneo, a certeza de que poucas coisas têm jeito, nós inclusive. Perdoe-me obrigá-lo a aceitar meu desfraldar de bandeirolas brancas e rendadas, como lingeries desejadas; não quero mais brigar por algo ou alguém que não valha a pena.
Talvez, lá no fundo, essa seja a minha maior vingança; obrigá-lo a escolher outra pessoa para irritar e divertir-se. Seja lá o que for, quero que tenha certeza que não ligo a mínima, pois isso não me causa mais nenhum ‘frisson’. Poupe-se de mostrar-me seu carro novo ou de tentar ‘chupar’ a barriga quando eu passar. Suas conquistas nunca me incomodaram, você é que acha que a humanidade o inveja, que coisa!
E se lhe dá algum prazer; sim tenho saudade da maioria das amizades do passado. Mas metade da população também e a outra, nem teve passado.
Siga seu caminho, pois vou procurar o meu. Fique a vontade para me cumprimentar ou não, tanto faz. Eu? Estou ensaiando um novo hobby, quem sabe tarô ou marqueting de rede. Qualquer coisa assim.
Cordialmente (acredite!),
Vera.
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