domingo, 17 de fevereiro de 2008

FAXINAS


Certa vez comentei com uma terapeuta que, ao contrário da maioria das pessoas, aceitava as mudanças que a vida nos impunha e até gostava da oportunidade de tirar tudo dos armários, separar as inutilidades e guardar com mais cuidado o que realmente me era caro.
Ela me disse que um dia eu entenderia melhor certos códigos.
Bom, mais de vinte anos depois, continuo gostando de mudanças; na realidade, elas me fascinam. E já decifrei claramente o meu código pessoal no que diz respeito à reparos e ajustes, de rota inclusive.
A oportunidade de experimentar novos lugares, de rearranjar móveis antigos e novas aquisições, de dispensar o excesso de bagagem é uma experiência recompensadora.
Minha mãe sempre faz observações sobre minhas manias, em especial a de levar meus sapatos para ‘manutenção’, de revisar roupas a procura do que precisa de um ponto ou um ajuste. Como já me conheço um pouco, nem tento explicar nada.
Quando quebrei uma peça de cristal de grande valor sentimental, embrulhei os cacos, e, contrariando o feng-chui e as crenças de outros, deixei o pacote numa gaveta, uma espécie de ritual de passagem, sem velório. Um dia peguei o embrulho e coloquei no lixo. Simples assim, exatamente como tudo o mais na minha vida. Se não é o momento, eu espero.
Essa semana resolvi arrumar, pela centésima vez, armários e closet.
De óculos e sob a claridade de um dos poucos dias de sol, me surpreendi com o amarelado de algumas peças que certamente, só estavam ocupando espaço ou aguardando que estivesse pronta para dispensá-las. Sou maníaca por ‘dar’ coisas que não estejam em uso e acredito que essa prática abre uma possibilidade cósmica para que novas cheguem aos meus domínios. Algo como ‘quem partilha, tem’, enfim.
Dessa vez meus descartes foram um tanto dolorosos. Uma calça jeans, tamanho 42 (uau!), linda-linda-linda, cheirosa, dobrada num canto, esperava por mim, pela aceitação de que isso não me pertence mais e que é hora de aceitar as coisas como são, inclusive um manequim menos enxuto. Uma bolsa juvenil demais para meus cinqüenta, uma saia de lã e um casaquinho de cashmeare, quentes demais para o nosso eterno verão e pequenos demais para esperar pela minha próxima viagem para algum inverno qualquer.
Fiquei imaginando para quê tantas bolsas, tantos bordados e adereços que jamais usarei. Eu agora queria espaço livre, gavetas quase vazias e isso sim me parecia urgente.
De repente, grande parte das minhas coisas parecia não ter nenhuma importância, eu estava pronta para andar por aí com uma bagagem mais leve, sem ligar a mínima se entendem ou não. Quem sabe fosse a tal da maturidade ?
Enfim. A verdade é que na ‘vida real’ as coisas são mais ou menos assim. A gente pensa que não sobreviveria sem isso, aquilo ou aqueles. Aos poucos, descobre que nada nem ninguém é insubstituível, que uma amizade ou um amor que nos façam sofrer talvez fiquem bem melhor numa foto de um álbum qualquer. Que um emprego ruim pode ser tão nefasto quanto emprego nenhum e gente chata é sim, bem pior que estar só e m paz. Aprende-se até que lamentar o tempo perdido é bobagem, geralmente se trata de investimentos, alguns com mais retorno que outros mas nenhum que não tenha lá seu valor.
Depois de toda a arrumação lembro do meu livro, adormecido no décimo segundo capítulo, aguardando que decida o destino da minha heroína escrachada e nada convencional.
Fiquei pensando se estou realmente mudada, ou se, qualquer hora dessas não vou chegar em casa com dois jeans super apertados, para usar ‘depois da dieta’ ou decidir que é hora de arrumar tudo de novo.
Não sei. E de que adiantaria saber?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Papo de Mulher: m o d e r n i c e s


Maria é bonita, jovem, tem um monte de amigos e claro, alguns ‘ex’s. E é muito, muito ciumenta. Poderia ser Déborah, Natasha ou Raimunda, o importante é que ela é...Mulher.
Descolada, brada aos oito cantos do mundo - quatro, pra ela, é pouco!- que preza, acima de tudo, a preciosa liberdade.
Maria se inspira na Nova e outras revistas dirigidas às mulheres modernas e sexualmente ativas, na eterna busca pelo príncipe encantado; essa figura cada vez mais difícil, cuja responsabilidade maior é levar a modernete ao altar e tornar-se assim, culpado pelo avental sujo de ovo que elas estão doidinhas para usar, tsc.tsc.
É o alarme do relógio biológico que pode até andar meio atrasado, mas nem tanto.
Maria se diz antenada, sai uma vez por semana só com amigas, vai ao barzinho mais badalado, toma algumas e diz que tomou ‘to-das’, acorda mal-humorada e garante que é ressaca.Todos os garçons sabem seu nome na ponta da língua e ela é simpática até com o flanelinha. Arrojadíssima, essa Maria.
Ela é do tipo que chega para o Romeu (Toda Maria tem o seu Romeu, que está sempre menos interessado do que ela gostaria. Mas isso é um detalhe. Ele NUNCA dará toda a atenção que Maria requer..., enfim.) assim, meio como quem fala ‘que calor fez hoje, né?’ e solta a isca.Enrolando um cacho que sobreviveu à chapinha, olhos na TV, chiclete imaginário atrapalhando a língua: ‘Adivinha quem encontrei no shopping?’
Muita calma nessa hora, Romeu. Ela pode estar querendo briga falando de uma ex sua, que, na cabeça dela, ‘vive’ dando em cima de você. Pode ter encontrado o Zé da Feira cantando ‘Piolho’ ou...
‘Marcelo...!’ Você levou uma fração de segundos para lembrar que o dito é um ex que, segundo ela (de novo) ainda é ‘a fim’ paca e Maria, metralhadora passional, segue feito um rambo de mega-hair e gloss: ‘Tá tão bem...(Pausa.) Legal ter encontrado o ‘Lelo’...(Pausa maior.)... ‘A gente bateu o maior papo...’ (Pausa longa demais.)
Vamos por partes. Antes de tudo: provavelmente Maria não encontrou ninguém, nem deve ter ido ao shopping. Aprenda uma coisa: se ela tivesse algum rolo com o tal, nun-ca diria nada sobre o encontro. Isso é pura cascata. Mais do que briga, Maria quer um clima, uma pegada mais forte, que você se rasgue de ciúme, nem que seja da boca pra fora.
Reaja a altura, as compensações podem ser ótimas, nada como o amor depois de uma ceninha de ciúme, não é?
Hummm...Mas você anda meio de saco cheio dos beijos que ela distribui quando encontra aquele monte de marmanjos, e ainda diz que ‘ficamos sim, mas faz tanto tempo...’
Sei.
Anda louco para dizer o que pensa, não é? Que gostaria muitíssimo de saber o que ela acharia se você saísse com amigos e encontrasse, sem querer - claro!- sua ex (que essa é ex, mesmo, e durou mais de ano!), que não ia ser mal educado... Acabou convidando a moça pra sentar...Que o papo foi ótimo – só como amigos (“Claro, Maria, pensa que sou facinho?) – não rolou nada de mais, apenas vocês vão se encontrar quinta no happy-hour daquela loja de informática, e daí?
Olha, se fizer isso,ela entra na linha ou acaba no divã da Angélica Nancy, o que , pra inicio de conversa, é uma excelente idéia.
Não esqueça de contar a aventura assim como quem não fez nada, mas pode , até, fazer.
Essas Marias modernas, que arrotam uma liberdazinha chinfrim não têm tutano para suportar que seus homens tenham a mesma autonomia de vôo, nã-na-ni-na-não. E dizem, no meio do chororô que ‘comigo é MUITO diferente, ora!, chuif, chuif...’

Mentiras que os homens contam...


Um amigo me disse que homens não mentem, apenas dizem o que as mulheres querem ouvir.Faz sentido.
Se ele chega em casa às duas da madrugada e a esposa se conforma com a desculpa de uma comprinha no supermercado 24 horas...Ela quer ser enganada, sim. Então, por que não?
Resolvemos eleger as mentirinhas masculinas mais comuns, eis as campeãs:
Nunca me senti assim”. Não querida, ele não está comparando nada. O Romeu sabe que você vai se sentir mais segura e ajudar a manter seu ciúme sob controle, pelo menos por um tempo. Essa cascata pode vir acompanhada de outras ‘bem intencionadas’, como “Você é a mulher da minha vida”, e “Nunca amei ninguém tanto assim”. Finja que acredita, faz parte do jogo. Pior seria se ele não dissesse nada, concorda?
“Te ligo amanhã”. Essa é a forma que ele encontrou para dizer que você não deve ligar, mas isso não novidade. Tente controlar-se, não adianta ficar pensando bobagens do tipo “Se um carro buzinar agora, é porque ele vai ligar” ou “Se eu acertar essa bola de papel no cesto...”. Ele só vai ligar se estiver a fim de compromisso e isso não quer dizer que você é uma droga, então larga esse pote de sorvete, por favor!
“Não é isso que você está pensando”. É sim, mas o que ele quer dizer é que não teve importância, foi só uma transa e que, se você perdoar não deve ficar falando mais nisso. Acredite que é sincero, apesar de ser um canalha, cachorro, sem vergonha. Mas se jurar que jamais sentiria atração por sua irmã ou sua melhor amiga, parta para ignorância pois esse verme pensa que você tem cérebro de ostra. Isso inclui outras lorotas do tipo “Ela é só uma amiga!”, “Eu não estava olhando mulher nenhuma” e “Nunca vi essa gata antes”.
Eu e minha mulher não dormimos juntos há séculos!”. Antes de tudo devo perguntar quais suas intenções com esse tipo mentiroso que afirma que “só não se separou antes por causa das crianças”. Se você não o quer para marido é bom que ele tenha quem o queira. Pelo bem de sua auto-estima , melhor deixar claro que é você quem não quer nada sério, que é ótimo que tenha uma esposa ma-ra-vi-lho-sa para cuidar dele, das roupas dele e dos filhos deles, ou quando a saúde ou as finanças ficarem ruins. Como homem gosta é de pouco caso, é provável que se apaixone e queira você para sempre, mesmo que esse sempre dure até a próxima, mas é isso que você merece. Parece uma cretinice?E é! Pior: uma grande roubada!
“Só aconteceu uma vez”. Então tá. Aproveite que ele está cheio de remorsos, louco para agradá-la e passe numa joalheria ou agência de turismo. Vingançazinha: vá sozinha e volte com uma medalha com a inscrição “Verão de 2008- Inesquecível”. E jamais, ouviu bem?, ja-mais admita que você não aprontou nada.
“Não quero terminar, só dar um tempo”. Válido para “O problema não é você, sou eu!”.Ele quer terminar, sim, mas tem medo de se arrepender. Deve ter um caso engatado mas quer sua autorização para tentar e, se não der certo, voltar.(Mas isso não vale pra você viu?) Segure a emoção, reaja com muita tranqüilidade e diga que achava que as coisas estavam mal mesmo, que já não se sentia satisfeita quando ficavam juntos e que deve ser honestíssima com ele, mas andava querendo ficar só. Ato contínuo, corte o cabelão, faça luzes (ele tem que notar uma mudança drástica!) e vá com amigos para o barzinho que certamente ele estará, a bordo de um decote sensual. Cumprimente-o com alegria e dois beijinhos, sente-se onde a veja, fale no celular com carinha de quem está armando e não se emburre se ele estiver com outra. Só não vá ‘ficar’ na frente dele né, meu anjo? Saia com o grupo, com ares de quem vai dar uma bela ‘esticada’, e daí que é puro kaô?
Ah, caso alguém se interesse, a gente trata das mentiras que elas contam na próxima crônica. Não?