domingo, 14 de dezembro de 2008

E aí, pai, como vão as coisas? (Especial para o pessoal de Belém)


E aí, pai, como vão as coisas?
Por aqui estão diferentes; isto é, pioram a cada dia. Em todo lugar a conversa não é o Natal ou o reveillon em Salinas. Violência, esse é o tema.
A vítima mais recente, (até quando?) foi o nosso bom Salvador, teu risonho anjo da guarda que tanto nos amparou quando ias e vinhas do Incor, já nos teus últimos tempos. Inacreditável, não? Tão jovem, alegre, ‘cheio de vida’ e se vai assim, de forma brutal e sem sentido. Toda morte é burra, mas algumas são mais.
Acho que todos têm uma boa lembrança do Salvador; do quanto sempre esteve disponível a quem necessitava dos seus cuidados. Lembro quando me ofereceu o número do celular, fazendo piada que esperava que nunca precisasse chamá-lo; caso contrário, não deveria titubear! E assim foi, mesmo no dia dos pais ou durante uma madrugada que apenas começava. E ele vinha, sem qualquer contrariedade de estamos acostumados a perceber em quem não ama o que se propõe a fazer, e nem tenta disfarçar. Não o Salvador.
Em compensação, meu velho, tem gente cujo celular é absolutamente dispensável e que se faz de difícil, fantasiando que existe quem queira encontrá-lo.
O Salvador, não. Sempre tão requisitado e tão carinhoso. Numa das últimas vezes que estive checando o ‘cardíaco’, achou um tempinho para um dos seus arroubos de amizade: “Olha, adoro o que escreves e ‘te leio’ sempre!” . Grande Salvador.
Essas pessoas generosas, que se vão de uma hora para outra, levam um pouco do assunto, da alegria de cada dia. Belém ficou chocha, sem graça. Não dá para esquecer (Que coisa estúpida!). E nós, os sobreviventes, vamos ficando como previste; trancados, sem sair à noite, preferindo pedir tudo pelo telefone. Pena que nada disso evite tropeçar num desses filhotes da ignorância, da miséria e da impunidade; de arma na cintura, prontos a disparar.
Depois, alguém ainda vai dizer que é culpa nossa, que não deveríamos ir a banco pegar dinheiro. Ou a qualquer lugar. Que jóia não é para usar. Nem carro. Nem sorriso ou felicidade estampados na cara. É perigoso! E que se morre por reagir.
Somos culpados por estarmos vivos, por não sermos miseráveis; isso é o que parece.
Quem nos dará as regras para sobreviver? Nós é que ficamos acuados, ensaiando o que não fazer numa hora dessas, rezando até que o último filho entre em casa, tranque o último dos cadeados e nós, os prisioneiros, permaneçamos feito bichos sem donos, por mais uma noite.
A nossa governadora declarou, através da Assessoria de Comunicação, que “Lamenta...morte...injustificável...a violência urbana precisa de um basta...”, do renomado Dr. Salvador Nemias (sic). Dá para pensar que se trata do desabafo de alguém como nós, impotente quanto ao que se passa no estado, que é visto pelo resto do país como ‘terra de ninguém’, um verdadeiro faroeste. E haja audácia, em assaltos a bancos ou ao cidadão comum que tem o carro tomado ‘na marra’; ao pai de família que cai numa esquina qualquer. Realmente chegamos a um ponto onde não existe explicação. Ou justificativa. Se até o governo acha que basta, imagine o povo! Talvez fosse interessante resgatar aquela conversa da época da campanha (de todas elas); naquele tempo sabiam exatamente o que fazer e agora? Porque não fazem? O que falta para acabar com esses esquemas da ‘saidinha’? (Que eles existem, ah, existem!) Onde está toda aquela estratégia de quem prometia resgatar a segurança,, a saúde e... É, rapadura é doce mas não é mole, não. Enfim, a coisa por aqui está feia! Feia e triste.
Nunca imaginei que Belém se tornasse um lugar onde se tem praticamente tudo de ruim de uma megalópole e pouco do bom.
No mais, continuo imaginando um lugar calmo e seguro, minha Shangri-la, minha Passárgada. Daí, continua zelando por nós. Estamos precisados.
Um beijo saudoso da filha,
Vera.

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