sexta-feira, 23 de maio de 2008

À mãe cansada


A crônica que pediu vai por e-mail; foi publicada no meu “Cá entre Nós” do Caderno Mulher, lembra? O formato não caberia aqui.
Bem, seu e-mail é de uma sinceridade (quase) desesperada e acabou me trazendo para o teclado. Sei como você se sente e, tenha certeza, também consigo avaliar ...
O mudo idealiza essa relação entre mães e filhos; é difícil admitir publicamente que, por um momento, estamos cansadas do ‘avental todo sujo de ovo’ e de falar aos peixes.
Quando me tornei mãe, confesso que não estava nem um pouco familiarizada com crianças e me sentia perdida. Morava em São Paulo e não tinha absolutamente ninguém para me ajudar, por outro lado, ninguém me atrapalhava. Ao telefone com minha mãe, me senti a vontade para chorar minha insegurança. E ela, sábia, me disse algo que nunca esqueci: “Vera, isso passa. Rápido. Eles crescem e daqui seis meses os problemas serão outros...” . E tem sido assim, sempre me lembro da frase.
Hoje os filhos permanecem em casa por mais tempo, estão priorizando carreira e até as moças ficaram avessas ao casamento precoce. Com isso, permanecem ‘filhos’ (com ônus e bônus) por uma jornada mais longa. E são raros os que lembram que mãe é mulher de carne, osso e hormônios e, graças a Deus, sente falta de uma porção de coisas...Inclusive privacidade.
Tenho certeza que você os ama, da mesma forma que amo a minha bebê de vinte e cinco, a questão é que, apesar de entendê-la, não sei exatamente qual a melhor solução.
Chega uma certa hora na vida da gente que estamos, todas, exaustas. Talvez aquelas que não vestiram o modelito de ‘mãezona’, que não levaram tão a sério a função de dona de casa, estejam muito mais relaxadas do que nós. Mas quem garante que, no fundo, não se penitenciem pela bagunça, pela casa sempre ‘meio limpa’ e os filhos ‘meio sujos’?
Imagino que, sendo mãe de vários e com um marido nada colaborador, você realmente deva estar quase entregando os pontos e, com o desânimo, imaginando quanto perdeu de sua vida.
Falar, falar, falar. Lá pelas tantas, ninguém nos ouve. E as toalhas continuam jogadas pela casa, os quartos eternamente em guerra civil; ninguém lava o carro que todos sujam, a louça se acumula na pia e as roupas ficam aos montes num cesto sem que alguém as leve até a máquina, pelo menos. E você ainda tem o relatório do chefe arrogante e o maldito churrasco de domingo com aquela sua cunhada que acha sempre uma receita melhor do prato que você passou a madrugada fazendo. Sei como é.
A Angélica Nancy sabe muito mais o que fazer, certamente. Eu, nessa minha mania de ter sempre uma opinião sobre tudo, acredito que esteja não só fisicamente cansada mas, principalmente, emocionalmente exaurida.
Ao silenciar, você permite que sua fúria se transforme em piada -“TPM, de novo?”- e em vez de ajudá-la, isso só piora as coisas. Que nessa casa ninguém lembra que você é uma linda mulher, é fato querida! Mas você não tem ajudado muito.
Férias em família, agora? Credo! Vá com uma amiga, permita-se esse tempo e espaço.
Reúna a tropa, e com o seu carinho, avise que a super-mãe está dodói e talvez não seja tão super assim. Abra o coração sem rancor e sem tentar identificar culpados.
Informe que vai dar a todos a oportunidade de crescerem, e desculpe-se pelos anos que arrumou camas de marmanjos e esfregou os fundilhos das lolitas; dos banhos que deu no cachorro e de ter cuidado de todos como se só você fosse capaz.
Vai ser duro, mas avise que cada um deve cuidar de si para que você tenha tempo e saúde de cuidar da mãe deles. A parte prática -dividir tarefas e outros que tais – isso você tira de letra. O mais difícil será deixar as coisas acontecerem. Lembre que antes de melhorar toda mudança parece piorar tudo.Volte-se um pouco para si e esqueça essas bobagens de não estar tendo amor pelos seus. Faltou foi por você mesma.
Tenha certeza que, no dia em tiverem a própria família, serão gratos por você tê-los preparado, e, melhor ainda, irão perceber que avó também não é emprego.
Boa sorte e um abraço amigo, mesmo.
Vera. (veracascaes@gmail.com)

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