terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Chegaaaaaaaaa!


Dizem que opinião e pescoço, cada um tem o seu. Pois é, para evitar confusão, tento lembrar disso mas às vezes é tão difícil... Sei que é mais prudente calar a dizer o que penso sinceramente. Já escrever... Aqui, nesse espacinho, não consigo abandonar a franqueza e a transparência; sou como sou e o resto; bem, o resto a gente resolve depois...Ou dane-se, o resto.
O caso é que escuto coisas e fico naquela “cuíra” para devolver a bola exatamente como recebi: fervendo. E nem sempre posso, não é?
No dia a dia, quando é para apontar erros alheios, usamos vários pesos e muitas medida; é mais quem se habilita a uma crítica... Já para olhar o próprio rabo... Somos humanos, mas quando a parcialidade vira vício, custo a lembrar disso.
Reclamamos que “o povo” não tem educação, “o povo” atende mal, “o povo” não sabe escrever, isso e aquilo. Nós, afinal de contas, não somos o tal do povo, que emporcalha a cidade com lixo, que atira coisas pela janela, escreve porcalhão com “x” e blá, blá, blá... Eles, os que são “povo” (pobres e sem educação) são a desgraça e nós...A elite, não é? Somos os elegantes e bem educados. Então tá.
Enquanto isso, na Batcaverna... Mulheres chiquérrimas, equilibradas em Louboutins de reluzentes solas vermelhas, passam a mão no sousplat e amontoam trufas e docinhos sem nenhum constrangimento, enquanto os filhos correm pelo salão, pisoteando o chocolate. Na mesa ao lado, o rotundo senhor reclama da idade do scoth e quer que baixem o volume da música enquanto os rapazes da banda e-xi-gem (assim mesmo) uma mesa especialmente reservada para suas...Namoradas. (Meigo,isso!) Todas em mini vestidos que mais parecem blusinhas brilhantes e chicletes misturados ao gloss. Purpurinado, claro... No banheiro, uma jovem senhora limpa o batom nas toalhas monografadas da cesta de conveniências, a fim de retocar a maquiagem.Os lencinhos de papel estão ao lado... Na entrada, alguém atrasado “exige” sentar com os amigos e arremata: “Sabe quem sou eu?”.
É o inferno? Não, querida, bodas de pessoas como eu ou você; um casal bem relacionado comemorando vinte anos de casamento. O inferno, já se disse, são os outros.
Francamente? Nenhum anfitrião merece! Aliás, ninguém merece falta de modos! Arre, onde anda meu Calman?
Fico imaginando o que mais pode acontecer na balada de Belém, quando alguém me conta que durante sua festa, “sumiram” oitenta e poucos guardanapos. Como, “sumiram”, cara pálida? Simples: viraram marmitas para alguns docinhos ou foram dobrados sem cerimônia e colocados nos bolsos e nas bolsas... E não era o povo, os pobres e sem educação. Eram os nossos colegas de mesa! Como alguém tem co-ra-gem de juntar docinhos em guardanapos (do bufê!) e sair assim, com essa cara lavada, (aliás, bem maquiada) achando normal? O que essas pessoas andam cheirando além do insuportável Poison? (Será que eu é que ando chata demais?). Como alguém “passa a mão”em 12 cartelas de Engov da cesta do banheiro e leva feito suvenir, na cara dura?
E minha amiga festeira arremata: Ah, faz parte...
Pra mim, nada disso faz parte, mas...
Ah, o que somos capazes de fazer por um docinho! Por isso, uma colega resolveu inovar e oferecer mimosas caixinhas para quem quisesse levar um, digamos, lanchinho. Ela ainda me conta que na festa dos quinze anos da filha, rapazes furaram as toalhas com cigarro... Dezenas de furinhos fazendo ondas... Quem são essas criaturas? De qual invasão saíram? Não, querida, são nossos filhos, me adverte a outra... Nossos não, cara pálida sem noção! Dos outros, que fique bem claro, por que se fossem meus...
Lixo? Quase a mesma coisa. A madame reclama do “povo” mas joga a embalagem do lanche pela janela do carrão: É bio-degradável, se desculpa. Vai “desmanchar” na primeira chuva...E daí, minha senhora? Cocô também desmancha na água, vai jogar na calçada?
Fico matutando sobre a preocupação geral com o planeta que vamos deixar para o nossos filhos... Não deveríamos inverter a questão? Afinal, quem estamos educando para herdar o planeta? Uns idiotas que sabem tudo de tecnologia mas não sabem dar bom dia ou levantar para um idoso? Uns Tiriricas que não sabem escrever direito e tudo é “naum, miguxa, kara, tah ligado, phoda...”
Dizem que palavras voam, exemplos arrastam. .. Será que isso aqui ainda tem jeito? Se depender da gente, a vaca já está no brejo. Sem calcinhas.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Também recebi uma medalha


Venho recebendo envelopes metálicos com medalhas, calendários e livros, tudo muito organizado e com boleto bancário.
Sou católica e adoraria contribuir para a divulgação da minha religião, pois faz tempo que não ouço falar na inauguração de uma igreja, por exemplo.
O catolicismo parece estar fadado a desaparecer, como certos cultos da idade média; é uma pena.
Os padres seguem a orientação de Roma e não realizam casamentos "fora da igreja". Quer dizer, isso se você não for filha de algum político ou de gente
com certo poder - quando é assim, até João Paulo Segundo - meu Papa Pop e eterno - duvidaria do que uma boa relação é capaz.
Mas para o fiel comum, aquele que dobra os joelhos todo domingo e pede a Nossa Senhora de Nazaré um ano tantinho melhor, aí a coisa muda.
Só na Igreja. Outros cobram , e bem. Os pastores, em geral, vão de graça e de muito boa vontade. Isso é conhecimento de técnicas de venda e RP.

Mas voltando a tal medalha.
Pois é.
Fico aqui imaginando quantos, como eu, não querem desafiar a ira dos céus e acabam contribuindo?
Eu pago bem menos do que sugerido, nunca passei de R$ 5,00 por boleto...Mas fazendo as contas...
Uau! Isso dá uma boa grana, capaz de manter um hospital, por exemplo. O que se faz com essa verba?
Quem controla? Quem recebe?

Ninguém me diz quem são essas pessoas.
Quem é o articulado Padre Lourenço Ferronatto que me escreve cartinhas que parecem saídas da propaganda cansativa da Seleções.
Como existem duas ou mais associações de santos diversos convivendo sob o mesmo manto de propaganda e venda?
Como é isso?

Quem pode me dizer o que é todo esse marketing?

Claro que quero ver minha religião solidificar-se pelo mundo, mas que isso tá estranho, ah, tá!
Quem se habilita?

Vejam que a dúvida não é so minha...

Visitem:

http://polemikos.com/?p=281

Foto de www.fashiondrikagaby.blogspot.com , que aliás, comprou de bom coração!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Saudade de mim


Ando com uma saudade danada de mim. É aquela dor, aquele arrastar de correntes de quando a gente sabe que nada vai trazer o entre querido de volta, a morte é irreparável; o tempo perdido também.
É uma pena que a gente não tenha essa sabedoria aos dez, aos quinze anos, quando não conseguíamos prestar atenção em nada além do próprio umbigo e do menino que não retribuía um sorriso cheio de promessas.
Morro de saudade de um tempo que se foi pra não voltar; e se eu soubesse disso, teria tentado fazer as coisas mais bem feitas, ou pelo menos, teria tentado tornar minhas memórias menos dolorosas.
Sinto falta dos almoços no apartamento dos meus avôs, cuja sala de costura aos domingos acomodava uma enorme mesa, cheia de gente falante e feliz. Depois de um almoço farto, a gente saboreava o bolo da Linete; com o café viriam os biscoitos da minha avó, cuja receita trazia medidas em pires, que coisa. E era tão bom... Dia de tomar Coca-cola e ver os primos, nossos vizinhos inseparáveis.
Sinto falta daquela sensação de que família não se perde, nem que você faça todas as merdas do mundo. Que as brigas entre irmãos acabarão junto com a acne e o medo da mulher do táxi.
Sinto falta da casa da outra avó, a velhota mais incrível que já conheci. Baixinha, linda feito a Greta Garbo, com cabelos azuis como caneta Bic. Ela me albergava durante longas temporadas e me deixava ler fotonovelas, livrinhos da Brigitte Montfort, a filha de Giselle, a espiã nua que abalou Paris. O Cruzeiro, Querida, X9, Seleções e Coquetel de Palavras Cruzadas também faziam parte da minha diversão, meio incomum para minha idade, é verdade. Sinto falta do leite “embolotado” e do pão das quatro da tarde, da Camões.
Fico lembrando das visitas que fazíamos à família do Dr. Fayal, uma casa enorme na Pedreira onde havia uma máquina de bater açaí. Sinto até o aroma!
O círio, na janela do Dr. Morrisson. Da casa do Luciano e da Ivani, um passeio e tanto até Miramar, onde moramos por uma temporada, que bárbaro. Eu subia nas árvores, cochilava no mirante vendo os barquinhos com os remadores que passavam pertinho, andava com os cães da vizinhança, fingindo que eram meus e que um lote era uma fazenda inteira.
As festas eram ótimas e menores. E muito, muito melhores. A animação vinha do coração, sem nenhuma pirotecnia. Havia a Barraca da Santa, a Feira da Providência, o jantar de São Judas Tadeu. Era uma época em que a gente comia de tudo e ninguém tinha essa neura de dieta. Aliás, as mulheres que faziam sucesso eram bem fornidas de carnes e saúde - e a gente ia aos velórios de mortes “morridas” pela idade, já bem entradas nos anos. Parece que quase ninguém morria de bala, de batida de carro, de assalto então, nem pensar. Câncer era uma coisa que não se falava, mas ainda acho que adoecíamos menos, enfim.
A gente visitava os amigos e era uma festa, café, bolo, biscoitos e Guarassuco; tinha a hora de ver fotos de parentes ausentes, de festas familiares. Era hábito “mostrar a casa” aos que ainda não a conheciam. E isso era um gesto de carinho, jamais de exibição – ou cafonice.
Na minha rua, a gente esperava o convite para as festas da família Guapindaia. Havia sempre banho de piscina e arroz de galinha, que maravilha. No finzinho do quarteirão, a casa da Beth e do Hugo, onde escalava uma goiabeira que era fácil de subir mas péssima de descer – e eu sempre descia de uma vez só, com aquelas cascas cravadas nas pernas.
Nessa época então, sinto falta do Mosqueiro, onde a gente conhecia quase todo mundo e as férias eram deliciosas. O jogo corria animado na casa do Curt e com sorte, dava para assistir ao espetáculo que a Maizé, Edna, Acatauassu e o Paes Barreto davam nos esquis. As pessoas modernas naquela época eram muito mais chiques e menos pretensiosas. Isso era ter estilo, meu bem!
Eu era só uma moleca tagarela, que sempre gostou de estar entre adultos, mas... Ai, que saudade de mim!

sábado, 20 de novembro de 2010

Gatosas










O assunto da hora: Mulheres maduras de hoje... Às vésperas de encerrar temporada das Gatosas, não existe nada mais oportuno; colocamos a “boca no trombone” e muitas vieram contar sobre a própria vivência. Cheguei à conclusão que poucos conhecem -ou entendem- a primeira geração feminina que adolesceu sob o advento do anticoncepcional, fato que viria a mudar a história do mundo, em especial das mulheres.
Para sua informação, a maioria acha que jovens, incluindo filhos que elas mesmas educaram, não as “enxergam” como “mulheres de fato”, principalmente quando se trata da sexualidade. “Filhos acham que pais maduros não transam, não precisam de privacidade e teriam um ‘troço’ se soubessem que frequentamos motéis!”, confidencia uma delas. Dá o que pensar, afinal, parece que os jovens é que pararam no tempo – e não nós, os maduros.
Muitas me pareceram aliviadas por fazermos piadas com aqueles assuntos que não se falava “em família”. Não podíamos falar menstruação, menopausa ou orgasmo – verdadeiros palavrões, coisa de gente sem a menor educação. Peitos sempre foram “seios” e sexo, bem, quando se falava nisso, o termo era quase burocrático: relações sexuais. Se pronunciar era chato...Imagine viver num casamento tendo "relações sexuais" em vez de trepar, mesmo!
Mãe não tem fantasia e pai macho pega a mulherada; então tá, bebê.
Falando nisso, a maioria -casadas ou não- gostaria de “namorar” mais, se é que me entende. E namorar significa menu completo, meu caro, com ênfase nos aperitivos – se é que me entende, de novo.
Não? Prelimirares, querido! Mulheres gostam de beijo na boca, de língua , ainda se lembra como é? E sacanagem é coisa que sua esposinha também gosta e só não fala porque você a prefere calada.

As mulheres dizem que homens interessados nas cinquentinhas são raros; a solidão é um fantasma que ronda quem não está “avec”.
Se você acha que doença é assunto das mulheres no climatério, está enganado (Na verdade, nem as da tal terceira idade estão se ocupando com isso; mas essa é outra peça, “ops’’ , outra crônica!)
Ainda que os fogachos sejam uma tortura, elas chegam aos cinquenta com um novo propósito, que vai muito além da academia ou da terapia hormonal. Aceitar-se e viver a vida, essa é a força que as move.
Ainda que emagrecer ou encontrar um parceiro sejam sonhos acalentados pela maioria, ser feliz é prioridade, tenham o peso que tiverem, estejam sós ou nem tanto. As cinquentinhas querem estar de bem com a vida, do jeito que der.

Rir dos próprios achaques e problemas é uma boa saída, afinal, independente de sexo, aos cinquenta quase todo mundo ronca, come linhaça, briga com os próprios cabelos (ou com a falta deles) e descobre que suportaria algumas semanas sem “aquilo”, mas não passaria três dias sem seus óculos. Cuidar-se é fundamental, mas fingir-se jovem é um mico; aliás, um king Kong.
Aos cinquenta, desistimos de discutir relações que não vão mudar e passamos a falar de nós – ou das outras!- poucas falam do que sentem e como “se sentem”... Os tabus, sempre eles!
Um amigo perguntou-me sobre menopausa, só sabia que a esposa mudava de humores, chorava por qualquer coisa, e passava noites “ajustando” o ar condicionado... Meu caro, o termostato defeituoso é o nosso, mesmo; em segundos vamos do frio ao calor infernal. Só para você entender: posso estar numa boa, e, de repente, basta pensar (isso mesmo, basta pensar!) em algo que não domino, que as orelhas esquentam e, imediatamente, passo a suar... O que fazer? Incentive-a a visitar o médico e tente entender o que fazem os hormônios; lembre que ela precisa de ar-condicionado, leques e da mesa mais ventilada e, pelo amor de Deus, evite assuntos capazes de, digamos, “esquentá-la”. No mais, sua mulher está apenas em “adaptação” para uma fase que tem tudo para ser das melhores: filhos crescidos (e sem nenhuma possibilidade de aparecer uma “raspa de tacho!”, credo!), profissão estável e um maridão atencioso. Isso não é o máximo?
Quanto às Gatosas, bem, nesse final de semana nos despediremos. Futuro? Arf, fala sério, liga aí o ar. No máximo!

Será que é só comigo?






Ando de saco cheio com gente sem educação!

Será que só eu dou bom dia no elevador e tem quem finja estar olhando o teto?
Parece que o bicho pode fazer outro trajeto, pois é mais quem toma conta...
Por essa e por outras , adoro viver numa casa. Arre!

Gente de flatula - em português claro - que "peida" sem nenhuma cerimônia. Fala sério, outro dia eu estava na Renner e uma senhora ao lado, quando , sem mais nem menos, aquela bomba de gás intoxicante...E ela lá, com a maior cara de pau, olhando roupinhas de bebê. Juro que não aguentei e disse, assim, para as paredes: Gente porca, mal educada! Vá peidar na casa da mãe, criatura fedorenta! E saí.
Depois fiquei rindo do meu piti.

Odeio quando estou na fila do elevador do shopping e, na hora que ele chega, os sem noção passam na frente e se amontoam, atropelam você... Eu estava no Pátio Belém, atrás de mim, uma jovem mãe e seu bebê no carrinho. Uma fila danada, eu segurando, quando a porta abriu, um grupo daqueles meninos de cabelo lambido e cara de mangá passou atropelando todo mundo...Como tinha gente no elevador, eu e a senhora iríamos ficar de fora. Fiquei puta da vida! Coloquei a mão na porta e disse: Ätenção gente, respeito é bom e até o Hary Potter gosta. Quem estava atrás na fila sai e deixa quem estava na frente entrar...ou essa merda vai ficar parada aqui!
Pior, tinha homem dentro e ninguém falou nada. Esperei uns segundos e disse: Vocês, estavam atrás, por favor? E o garoto disse: Vamos sair que ela vai encrencar...e ficaram me xingando. Cheguei em casa me sentido menos otária, amém.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dudu não passa aqui - (em Belém)












Nas fotos: Esquinas da Alcindo Cacela com Mundurucus, e da Quatorze de Março com Pariquis. Na outra, a imunda feira do Jurunas. O Duciomar não passa por lá!

Dudu não passa aqui! (Vera Cascaes)
A se considerar votos, Duciomar Costa teve carreira invejável nos pleitos que venceu com a maioria, depois de chegar à Câmara dos Vereadores com modestos 1.384 eleitores. Até quando ficou em segundo, fez “bonito”, foram 1.021.516 para o Senado no calcanhar de Ana Júlia. Em 2000 tirou a forra e venceu-a, apesar da mal explicada participação em consultas oftalmológicas. Belém tinha, então, 894.204 eleitores e 420.280 (58,28%) resolveram que isso não tinha nenhuma importância e elegeram-no Prefeito. Em clima de alegria; cantarolavam a musiquinha grudenta (Dudu, Dudu, Dudu... Duciomar!), imaginando bons tempos após a administração modesta de Edmilson Rodrigues – então no PT- e que ficou conhecida como “1,99” (Diziam que os projetos eram de peculiar mau gosto e careciam de qualidade na execução. E tome praça!). O povo votou - eu votei!- em “Dudu” com confiança; o novo prefeito tinha a opinião pública a seu favor, bastava gostar do trabalho e se interessar pela cidade - e pelos munícipes. Quem diria! Hoje muitos têm saudades da “época do Edmilson”, quando a coleta de lixo era exemplar e a prefeitura não enfrentava tantos escândalos. Aliás, Edmilson (Psol) hoje, pode até agradecer parte dos 85.412 votos a Duciomar, um recado que “éramos felizes e não sabíamos”, arre. Nem a ex- esposa do prefeito conseguiu se eleger; mais que recado, um tapa.
Francamente, não entendo como um político pode jogar na lama (mesmo), um currículo com tantos votos apesar do resto? Como pôde deixar Belém virar essa coisa mal cheirosa e suja, onde quase nada se salva? E finalmente, como a gente permite que isso aconteça assim, sem propor cassação, sem panelaço, sem espernear? Somos coniventes e já se disse que pior que os maus, são os bons que nada fazem a respeito. Omissão também é crime!
Não há muito a comemorar nessa administração, mas a lamentar... Um negócio mal feito nos deixou sem um bem localizado hospital. O prédio está caindo aos pedaços como a saúde do povo – eleitores! – que não tem a quem pedir socorro. Mas Duciomar... Não precisa passar lá.
Duciomar virou mau exemplo de administração, sinônimo de obras mal planejadas e abandonadas. A hoje famigerada Vinte e Cinco de Setembro é um acinte, com retornos bloqueados, sem respeito ao traçado, com curvas impossíveis para qualquer direção. Apesar de estar “largada”, vão abrir novo e perigoso cruzamento. Duciomar? Não passa por lá.
Pariquis, o melhor acesso até Batista Campos, virou um pesadelo de alagados, com fossas abertas, despejando fezes na lama. O fedor é insuportável, o comércio pena sem fregueses e o povo – eleitores, Duciomar, eleitores! - mete o pé na... Merda, mesmo. Mas Duciomar não passa por lá.
O trânsito é um caos, os guardas só aparecem para multar, e daí? O Dudu não passa por lá ou outro lugar qualquer.
A feira que fica no Complexo (?) do Jurunas é absurdamente no-jen-ta. Urubus e ratos nas montanhas – enormes – de restos pútridos de caranguejo, peixe, frango e tudo o mais, que fede muito. Quando chove, a coisa piora, mas Dudu também não passa por lá.
E a as chuvas ainda nem começaram!
Poderia descrever dezenas daquilo que a prefeitura classifica como “pontos críticos” e diz que vai tomar providências, “pois o povo é que é sujo”. Mas Dudu não passa por Belém, só nas raras inaugurações (meia dúzia de aparelhos toscos para ginástica) ou em alguma homenagem montada para um filminho de propaganda. Onde anda Duciomar? Não sei e já não quero saber; a resposta “chapa branca” não me interessa, bem como o que acha quem tem rabo (ou contracheque) preso; opinião e pescoço, cada um com o seu... O que sei é que o futuro é na outra esquina e por Deus, torço para que nela Dudu não passe nem perto! Se estiver, cravo noutra opção!

Com farinha e açucar




Com açúcar: o meu crime perfeito
Por algumas horas, a casa é quase só minha. A família está longe e apenas as duas gatas silenciosas me escoltam no corredor vazio. No quintal, a Babi dormita sob o sol escaldante, vá entender os gostos da lustrosa “vira-latas” que aqui é princesa? Que reine, então... Sei que vão me achar uma desnaturada, comemorando a solidão como quem arquiteta um plano mirabolante e disfarça, para não chamar atenção...Mulheres entenderão, de tempos em tempos, estar só é uma dádiva, praticamente um banquete a ser apreciado aos poucos, fazendo com que cada segundo dure uma pequena eternidade; a véspera de uma grande festa, melhor que a própria.
Ligo o ar-condicionado e em meia hora é quase inverno, o piso frio e a pele fresca tornam tudo melhor ainda. Tento esquecer a bagunça e focar no mais importante: a minha grande travessura. Arrumo a mesa acolhedora, toalha antiga de xadrez macio, dessas que carregam anos de histórias familiares em nódoas quase imperceptíveis. Quase.
Uma cumbuca branca, colher de tamanho médio e ponta arredondada, quase sob medida para a boca que prepara o crime. Açúcar alvo e solto, pedras de gelo, fritura salgada e torradinha para tirar o gosto e, na jarra, ele, o meu açaí favorito, geladíssimo. Nem papa que me empapa, nem ralo que encharca as farinhas. Açaí do médio, honesto e saboroso. No ponto exato de sair da jarra, ágil e brilhante, deixando o aroma tomar conta de mim e dos meus instintos. Outras cumbucas guardam as duas farinhas, d’água de Bragança e tapioca miúda; açaí exige detalhes, quase pompas. Nesse momento, viro a cabocla lerda e de poucas palavras lá das bandas do Marajó. Uma quase matuta, descalça, saia recolhida no regaço... Agora não quero papo, telefone não foi feito para se atender a toda hora; que toque, estou tomando meu açaí. A TV, quase sem som, é apenas berço para deitar o olhar e mais nada. O mundo parou, a vida é só aqui.
Num ritual, coloco o açúcar no fundo e deito-o, preguiçoso, para então misturar até que assuma um tom mais fechado, a cor de açaí adoçado. Acrescendo as pedras de gelo, mais para derreterem fazendo contraste de texturas, do que para gelar, de fato. Espalho um punhado da farinha baguda e crocante, que cai como nas cenas da Nigella numa aula de culinária na TV... Sem pressa, vou comendo camadas alternadas das duas farinhas, mal mergulhadas no vinho intenso. De vez em quando, uma pausa para o pirarucu que estala, crocante, e me cobre as papilas com salgado... É-g-u-a da delícia!
Alguém toca a campainha. Não me mexo, se tivesse alguma importância, teriam ligado; para a correspondência, há a caixa; para o resto há o depois; agora, não. Tocam a segunda vez e depois esquecem, não disse que não era importante; alguém talvez quisesse ler um trecho da Bíblia, mas logo agora que estou rezando?
Tomo colheradas lentas e meditabundas, que açaí foi feito para pensar e não falar. Lembro a vida corrida que ficou lá fora e sorrio; o mesmo sorriso de quem acabasse de roubar a Monalisa ou a receita do creme brulèe da Ameliè Pulain. Realmente sou um gênio do mal, capaz de surrupiar as horas e delas fazer uso da maneira mais egoísta do mundo: tomando um solitário e delicioso açaí.
Depois da última colherada, um pouquinho de água gelada; dizem que é para não dar azia; acho que é pura avareza, mas não discuto. No quarto gelado, a rede com cheiro de sol e ares de um não fazer mais nada até Deus sabe quando. Telefones desligados, TV num seriado sobre a história da humanidade; ah, se o homem macaco tivesse tomado açaí, onde estaríamos? E agora, dá licença, por favor, que vou dormir uma sesta. Uma horinha só, no máximo duas, e depois tudo pode voltar a ser como dantes. Por enquanto, não fale, não vou entender nada mesmo e se é por falta de adeus, até logo!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O que somos capazes para emagrecer!


Fim da linha
Realmente ninguém pode dizer que não tentei. Antes dos quinze, eu já havia testado pelo menos dez novas dietas. Uma delas mandava comer doze ovos cozidos durante o dia inteiro, com água à vontade. Era um arroto só. Lembro de uma priminha gorducha, que foi submetida ao sacrifício. Para facilitar, os ovos ficavam numa vasilha plástica, na geladeira. Duas horas após o início da “prova”, ela veio até a sala, com cara “mareada”, dizendo que “não aguentava mais...” Tinha comido “só”onze... na largada! Claro que eu desisti antes de começar. Outra dieta era a sopa. Uma gororoba com muito jambu, pimenta de cheiro, um folharal danado que queimava ao entrar. O resto, bem... Também não deu certo. Nos anos 80 tomei todos os medicamentos que me indicavam; a gente ficava meio zureta, mas eram os oitenta, então... Com alguns consegui a proeza de ficar dois ou três (teriam sido quatro? Nem sei...) dias ligadíssima, trabalhando feito um azougue. Lembro que faxinei a casa de ponta a ponta, incluindo janelas e fios do lustre. Acho que emagreci duzentos gramas, recuperados com um copo de água.
Os anos noventa foram pródigos em dietas – e em gordos mais gordos após cada insucesso. Fiz várias. Aquela que só se come gorduras...Era um festival de linguiças, presuntos e muita manteiga. Comi um Big-Mac sem pão...Tente imaginar a situação...No quarto dia, tive um enjôo que não passava; meu colesterol foi para o espaço e a balança...Nessa altura eu não tinha mais balança. O pior disso tudo nem era a minha vontade de emagrecer. Era ter que aturar gente que chega com aquela conversa que nem magro aguenta. Os mais “gentis”, tipinho que sopra antes de morder, ainda balançavam a cabeça, “mas com um rosto tão lindo...”. Tive vontade de esfaquear vários e uma, em especial, cujo maridão me olhava guloso (me sentia uma torta de chocolate com muito chantilli e 45.876 calorias!), cheguei a fantasiar matá-la num cortador de presunto, em fatias finíssimas.
Já freqüentei uma academia de ginástica passiva. Aparelhos onde você é amarrada e eles fazem o movimento, coisa de preguiçosa mesmo. O problema é que a calcinha fica enroscada na bunda e você cheia de pêlos encravados. E não fortalece nada, além da conta da empresária.
Em algumas ocasiões cheguei a perder trinta quilos! Aí, era aquela farra: comprava roupas de biscate, abusava da lycracotton (quem nunca sonhou?), daquelas calças jeans que só saem com bisturi, das luzes nos cabelos (magras devem ser louras!) e uma agenda carregada de compromissos, jantares, almoços, lanches...Cacilda! Como se come nessa terra! Tem gente que abre a porta perguntando se a gente aceita uma fatiazinha de pudim...Com creme de leite? Já que você insiste...
Nessa história você pode incluir vasta especialização e mestrado em lipos. Pois é, fiz quatro. É isso mesmo, quatro. Tenho intimidade com aqueles tubos que sugam debaixo da pele em duas horas, o que a gente levou dois anos enfiando via oral. Seria muito bom, se desse certo. Você fica roxa feito uma berinjela, inchada, marcada. Arde feito frigideira e o calor, então, é insuportável. Você não consegue fazer nada sozinha e se fizer, enxugar vai ser uma tortura. Pior que atropelamento, acredite. Depois vem a escravidão das “drenagens”, algo que se inventou para tirar o líquido que não deveria estar onde foi parar e que, no final, vai parecer um consórcio... Você paga, paga e nunca vê a máquina nos trinques. Depois da lipo, você fica com barriga de tanquinho e bunda de piscinão, as coisas não combinam...e o pior: tem que fazer regime para sempre, meu bem. Dois anos depois você descobre que a gordura, ao contrário do que prometem, reaparece sim, só que muito maior, mais flácida, mais... Caia na real, pudim não é coisa de Deus.
Na esteira das novidades, depois de todos aqueles remedinhos controlados que me fizeram querer bater no guarda e no boneco da Michelin; conheci o Xenical, gastei uma pequena fortuna com rimonabanto, que combate a gordura abdominal (até hoje não entendi como ele “sabe” onde deve fazer efeito...), levei injeções de lipostabil direto nas gorduras (dóooooiiii muuuuuito), ingeri cascas de camarão que deveriam “segurar” a gordura no intestino (isso não pode ser uma boa idéia!) tomei centenas de frutaplan (made in China) com produtos naturais e enfim; se fosse listar tudo que já fiz, quatro crônicas estariam garantidas.E eu na cadeia, ou no hospício.
Na verdade jamais gastei tanto com outra coisa que não fosse algo para emagrecer- a não ser um bom bacalhau,claro.
Nessa última, vocês podem avaliar ao que se submete uma pessoa enlouquecida pelos quilos em excesso. Amanhã começo a caminhar, vou espiar uma academia (primeiro só de longe, tenho pavor!) e a fazer dieta, uma daquelas “coma de quase tudo mas coma menos e mande ver nas frutas e legumes”. A que ponto pode chegar um ser humano, meu Deus!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Globo vai transformar Dilma em Fada Madrinha



Arf...Pouco importa quem ganhe as eleições; quem decide tudo mesmo, é a Globo.
Desde o impeachment do Collor (deposto pela Globo!) não se via algo tão acintoso, credo!

Almocinho grande-burguês com a Dona Lili Múmia-marinho ( o que eles tomam, afinal?), aquelas mulheres nojentas, impregnadas com o que há de pior na perfumaria francesa, cheias de plaquinhas de griffe, entreabrindo lábios estufados...Como é bom o Poder!

O William Bonner ontem, parecia um babaca, babando ovo da Dilma, cheio de Salamaleques...Pior, ainda cometeu a gafe de dizer à Presidente, que ela estava desfrutando o "privilégio"( ahahah...) de dividir a bancada com "Ele". (deve se sentir assim,meio Deus, né?)

No futebol, vocês viram como a Venus Platinada fritou o Dunga...

Vamos lá, quatro anos de puxação de saco...até a Búlgara contrariar os interesses dos Marinho.
Ahhhh, que sono! Vou assistir os Pinguins de Madagascar...Inté!

Senhor Governador, (Jatene)


Senhor Governador,
O Senhor não pode avaliar a alegria – e principalmente a esperança – que toma conta de muitos, nesse momento. A vitória não se deu apenas sobre sua adversária, mas principalmente, sobre os interesses inexplicáveis, rancores e mágoas que ainda servem de motor para alguns; ufa, que alívio.
Tenho certeza que o senhor sempre soube o que fazer pelo nosso amado Pará, entretanto, faz-me bem dizer claramente o que esperamos desses novos tempos, que haverão de nos ajudar a superar a quase calamidade – e as bizarrices.
Antes de tudo, é salutar lembrar que os resultados indicaram que bom senso e equilíbrio são muito importantes; ainda que politicamente essa ou aquela aliança seja digamos, conveniente, resista aos abraços que possam colocá-lo exatamente na posição daqueles que agora condenamos e que jamais conseguirão explicar tamanha falta de coerência com o passado. A melhor aliança, Governador, é com a opinião pública e com o seu travesseiro. Trocando em miúdos, seja o nosso representante, cuide do que precisa de cuidados, zele pelo nosso futuro – os votos, o apoio, a gente garante.
Além de querer sair e voltar para casa em segurança (responsabilidade básica do estado) não vemos a hora de, entre outros, receber (de volta) a Alça Viária, que está nas mãos dos bandidos e já causou a morte de muita gente, por conta do estado precário das pistas. Na verdade, o Pará inteiro parece uma casa que foi bela e está surrada, desgastada e sem nenhum cuidado: suja e funcionando mal. E (boas) donas de casa sabem que só entrar e sair não adianta, há que se ter olhos e ordens, ou dá no que deu: o aeroporto, a Estação das Docas, o Hangar e tantos outros locais, já não enchem os olhos de ninguém, como quando foram entregues “nos trinques”. Guaritas que não funcionam há três anos e até goteiras, lembram que falta zelo, falta capricho – falta respeito, mesmo.
A Saúde Pública, governador, precisa urgentemente do seu nível de exigência e excelência. Se um desses políticos precisasse de atendimento, as coisas seriam diferentes, mas sempre haverá São Paulo... Quem nos dera seu secretariado tivesse por hábito “visitar” as unidades sem alarde, olhar as escolas...
Emprego e renda. Como é bom ouvir falar nisso quando mais fácil é bolsa-vergonha... Sei que levaremos muito tempo para resgatar o dano causado pela política assistencialista, emanada do governo federal e acatada no Pará. Pior do que ser miserável é estar condenado à pobreza com donos; uma geração de preguiçosos cujo destino seria viver no ócio, com alguns trocados que nada resolvem. Dê-nos saúde, dê-nos novas perspectivas, oportunidades... É isso que queremos de volta, junto com a auto estima que ficou lá atrás, esquecida entre os discursos oportunistas dos que apenas nos usam quando querem. Ninguém mais suporta político que só nos cumprimenta em época de eleição – ou que acha que pode “mandar” votar nesse ou naquela – arre!
Tire a Cosanpa do lodo, a Paratur do esquecimento; dê um puxão de orelha em quem esquece o que é cultura paraense: música, teatro, dança, folclore, cinema... Finalmente, Governador: olhe com especial carinho pela educação em geral. Não só a que se obtém nas escolas, mas a que vem do exemplo, que motiva e arrasta. Use sua verba de publicidade para educar o povo, naquilo que ele já nem sabe o que é: civilidade. Chega de lixo nas ruas, chega desses maus modos que já não espantam ninguém... Chega de tudo nos faz mais animais que gente. Promova a educação dos que têm o ofício de “servir ao público” e que não sabem, sequer, responder um prosaico “bom dia”. Faça-os ter orgulho de dizer “Eu sou Funcionário Público do Pará!”.
Faça o básico, Governador, e já fará diferença; faça com capricho e será tudo de bom! Boa sorte.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nem nele, nem nelas!




Nela, jamais!
Olha, eu bem que gostaria de pensar diferente sobre a Dilma e o Lula; assim não ficaria “mal” com algumas pessoas que considero muito, de quem gosto de graça e admiro a história de vida. Mas é justamente por causa dessas lutas pessoais, que não consigo deglutir ambos.
Dilma é o que de pior poderia nos acontecer – punto e basta, como diria o Totó.
Conheço algumas trajetórias, a de uma amiga em especial, me deixa com uma sensação de que a usaram; mas a vida é isso, ou não?... Ela sempre foi arrebatada pela política estudantil, uma guerreira idealista e sonhadora. Acreditou no sonho um partido que representasse o povo, o trabalhador. Há trinta e tantos anos ela foi, contra tudo e contra todos , uma dessas vozes roucas, que se transformaram no PT do Pará. Época de vacas magras ou de vaca nenhuma. Dezenas de redes penduradas na casa acanhada no Umarizal, acalentaram o sono daqueles que acreditavam no mesmo sonho e que chegavam pela Belém Brasília para arregimentar o que seria, um dia, um partido. Eu ouvia as histórias, se ela pudesse teria sido uma guerrilheira, ou Chiquinha Gonzaga, ou Anita Garibaldi, ou... Como admirava o engajamento, o desprendimento, a doação, a convicção! Eita, que menina, aquela!
Vendia e comprava botons, as famigeradas boinas e panfletava os compromissos com o que era ético e honesto. Um Brasil para brasileiros, um futuro em verde e amarelo. E vermelho, claro. E ela lá, megafone invisível nas mãos, e palavras de ordem na boca. E toma-te palavrório. Não perdoava injustiça, não admitia bandalheira. Jus-ti-ça, falava com aquele “ti” sem chiado, de nordestina levada da breca.
Nos conhecemos na Uefepeá. Conversávamos e na volta, sempre lhe dava uma carona amiga. Aos domingos, ela acabava na “tertúlia” do Círculo Militar, sempre meio ressabiada, falando do desper-dí-cio daquele luxo. Quando eu dizia que os “milicos “não tinham nada a ver com a festa, os promotores é que alugavam o salão, ela acabava relaxando.
Éramos dois opostos, que se gostavam e se respeitavam. Eu assistia a sua rotina de reuniões no Vadião, de panfletagem, de encontros com formadores de opinião na casa do estudante, como quem suporta uma amiga que gosta de pagode. Enquanto ela não me obrigasse a gostar, estava tudo bem, ela com suas convicções, eu na minha. Durante o resto do tempo, falávamos da vida, da vontade de casar e ter filhos, muitos. Íamos aos shows – Alceu Valença, Secos e Molhados e até um Bode alguma coisa... Ferra-bode, será que existiu isso? A Escola de Educação Física parecia grande, como o mundo. Crescemos e eles diminuíram.
Eu fiquei só numa filha. Ela pariu vários e um, em especial, acompanhou-a aos primeiros comícios, às passeatas, aos arranca-rabos nas ruas, aninhado numa barriga meio murcha, que parecia não querer nem ser notada. Nasceu o Ernesto, eu nem me admirei, pensei que seria Fidel, coitado.i
Ernesto vai bem obrigado, não dá a menor trela para a paixão da mãe e cursa hotelaria em Paris, chique o rapaz. Minha amiga, quando o Lula ganhou a eleição, parecia que iria surtar, não falava noutra coisa, um operário na presidência, finalmente o Brasil estaria livre da corrupção e os corruptos na cadeia. Na Ca-dei-a! Todos presos, repetia ela, recitando quanto o Brasil perde no ralo da desonestidade. Em vários momentos a eloquência me deixava confusa, parecia que eu era uma das culpadas pelo estado calamitoso do “brasilian way of life”; eu era culpada por nunca ter tido dificuldade e lá pelas tantas, quase virei inimiga.
Encontrei-a recentemente, num consultório. Ela, claro, toda paramentada, querendo “adesivar” todo mundo e eu, na minha. Ou como ela me disse, “no muro”. Falou das conquistas, deu ênfase aos miseráveis que agora podiam comer por conta da tal da bolsa isso, bolsa aquilo.Me provocou, me disse que já era tempo de pensar no menos favorecido.
Fui ficando chateada até que resolvi falar. Ok, querida, vou descer do muro, sem escada, sai da frente.
Sua história de lutas eu conheço e sinto vergonha por você continuar acreditando nisso que hoje é um mar de lama. Com todo o respeito, não voto e não quero saber nem do seu idolatrado Lula ou da tal da Dilma. Você deixou de ser política para ser tiete, uma macaca de auditório tardia, que exibe fotos com os nomes famosos. Aquela em que você deitava a cabeça no peito do Zé Dirceu saiu do seu orku, né? Acontece, bem sei. E a do Delúbio, naquela ida a Brasília? Também? Então tá.
Então, amiga, me diga, onde será que anda o seu honrado presidente que nada vê ou nada sabe? Toda essa bandalheira, tudo isso é “criação” da imprensa imperialista? Você é jornalista, querida... Não lhe diz nada o que o presidente já quis e ainda quer fazer com a imprensa? Ou você acha que o Hugo Chaves não fez escola?
A bolsa-miséria não está alimentando quem não tinha nada para comer, caia na real. Milhares de homens têm uma boa desculpa para não trabalhar e usam o dinheiro para afogar misérias na cachaça. Será que você não vê que estamos diante de uma geração de coitados, escravizados pelo Lula e que votarão em quem quer que ele indique por conta desses trocados?
Não era você que sonhava com emprego para todos, com escolas profissionalizantes? Não foi você que escreveu um tratado sobre o velho adágio do “ensine a pescar em vez de dar o peixe”? Não foi você, lá na nossa velha universidade de guerra, que se manifestou publicamente contra usar qualquer outro método para classificar alunos que não o conhecimento?E agora? Você acha que negros conseguirão resolver o problema de falta de qualidade nas escolas públicas simplesmente por poderem entrar na universidade através das cotas? Você sempre bradou contra o racismo...Isso é o quê, mesmo? Berrar contra o estado do ensino e da saúde, nem pensar, não é?
Querida, os dois – Lula e Dilma – não merecem correligionários honrados como você.
Mas é pena reconhecer que a proximidade ao poder calou a sua voz tão reivindicadora. A velha guerreira agora não passa de uma candidata a assessora, que às vezes fica constrangida por não saber como defender o chefe sem modos, a candidata sem moral, a bandalheira que rola com a conivência dos que antes batiam panelas e faziam tremer coturnos.
Tenho pena, sabe? Principalmente por saber que mais uma vez você vai se decepcionar e que o sonho, aquele do Brasil para todos os brasileiros, não passa de um velho cartaz esmaecido na sua parede, ao lado da velha boina de tricô, vermelha e rota. O tempo passou, acorda, Maria!
Não vou entrar na discussão de quem é melhor, você queria que eu saísse do muro, saí. Em Dilma e no Lula eu não voto. Já basta sentir vergonha por você, minha querida!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Valha-nos quem, cara pálida?



Antes de qualquer coisa, desculpem meu mau humor, na verdade não costumo ser assim, mas essa semana foi exasperante. Acho que é o inferno astral, que nos ronda a cada aniversário- que seja, xô!
Primeiro foi aquela fotos nas manchetes. Nauseantes... Certas pessoas ficam tão centradas em si mesmas, no próprio ego, que esquecem o respeito que deveriam guardar por quem teve a pachorra de ouvi-las e até apoiar suas idéias. Gente que bateu palmas, que comprou brigas... E pra quê? Chego à conclusão que fomos, todos, usados.
Para ser franca, tenho até vergonha de ter sido ingênua, crédula, manipulável. Afinal, porque eu deveria ser “adversária” política dessa ou daquele? Pessoalmente nunca tive nada contra ambos, a não ser o que normalmente move o eleitor comum: simpatia de mais ou de menos. Mas nós não tínhamos essa visão, é fato que a proximidade impede-nos de ver o quadro inteiro... Éramos testemunhas do palavrório virulento que se transformou (sabe-se lá a verdadeira razão!) no abraço da vergonha; mais constrangedor para quem permitiu esse aconchego cheio de rancores e motivos certamente mais vergonhosos ainda... No seu lugar, querida, eu jamais faria parte daquela cena; e acredite, você vai sair perdendo!
Os chineses antigos diziam que a mulher rejeitada é mais perigosa que a serpente; bobagem, isso é porque orientais não imaginam a fúria de um político ao perder uma eleição. Duas, então...
Ouvi falar em preguiça e preguiçosos... Justamente aquele que foi um dos mais festejados colaboradores, condecorado por honra, desprendimento e lealdade. Então, como assim?
Não, não existiram tantos preguiçosos; pelo menos não nessa pasta. Aliás, esse sempre pegou pesado no trabalho, e certamente foi leal, inclusive quando admitiu ceder a vez ao mais velho – e supostamente mais sábio, como ensinam os chineses. Tsc, tsc, a gente devia esquecer os chineses... Não, meu bem, eu não quero emprego no governo e nem tenho nenhuma ligação ou interesse, ao contrário do que você já disse por aí, tentando ficar bem no culto e na missa; mas isso é fofoca de mulherzinha, não é mesmo?
O mito tomando conta da mente... Para quem se acostumou às vitórias e aos bajuladores, é muito difícil identificar a verdadeira razão dos fatos; uma versão fantasiosa que culpe alguém pelas próprias falhas é mais cômodo. Com o tempo, a versão cria ares de verdade, torna-se um monstro capaz de engolir quem as criou. Some o homem, fica a versão. Somem os méritos e a história; fica o engodo.
Fiquei meio engasgada com tudo isso; mesmo pra mim, acostumada a ver quem valse onde quer que o poder esteja, o sapo era intragável, me senti mal - e imaginei que poderiam me tratar como vira-casacas...E daí? Afinal, quem virou o quê?
Alto lá, não me venha dizer que esse espetáculo deprimente é a busca da paz; respeite-nos, pelo menos agora. As razões devem ser as mesmas de sempre, forças ocultas e transgressões éticas que jamais serão bem explicadas, valei-me!
Não tenho dúvida que todos temos as mesmas oportunidades de escolher que final nossas histórias devem ter. Isto é, no mínimo, previsível. A maioria persevera na busca da consolidação de um espólio cujo maior bem seja a honra e o próprio nome. Outros, nem tanto... Deus nos livre da ira dos egos, das vaidades e dessas coisas assim, que nós, os mortais comuns, não conseguem entender!
E me esqueça, cara-pálida!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Minha amiga perdeu um filho


Alto, forte e belo, aos vinte e um anos quedou-se numa rajada de balas -o que poderia lembrar aquela música que cantamos tanto,“ Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”. Mas o enredo dessa morte não foi épico.
Minha amiga perdeu esse filho várias vezes; viu-o passar pela morte durante anos até despedir-se de seu corpo maltratado, rogando aos céus que descansasse na eternidade. Na dor desse pranto, há certo alívio por saber que o sofrimento do ser amado é findo; o que a faz roer-se em remorsos, imaginando o que poderia ter feito e, sem forças, não fez – como muitos outros pais.
Minha amiga viu o filho morrer desde a primeira vez que o flagrou com drogas e acreditou que era apenas uma fase e, mãe amorosa, pediu a Deus por sua criança. É da humanidade das mães preferir não acreditar. Das drogas leves às pesadas, aos furtos, roubos, tráfico e gangues armadas, foram apenas três anos. O seu bebê desapareceu, dando lugar ao traficante, capaz de roubá-la, ameaçar a irmã e surrar a namorada.
Na internet circula o artigo de uma “Carla Kristine, Psicóloga Clínica”. Verdadeiro ou não, o texto – apesar de tendencioso e superficial - provoca discussões oportunas, inclusive sobre a postura equivocada –e comum – de condenar pais pelos erros de filhos, como se fossem culpados pelas escolhas que seus rebentos farão vida a fora. Não por acaso, minha amiga me encaminhou uma cópia e um pedido, para que tocasse nesse difícil tema: a banalização das drogas, a culpa que pais carregarão, e a sociedade, fingindo que está tudo bem... Muitos desses pais aflitos foram os adolescentes da geração “paz-e-amor”; alguns até, eventuais consumidores da erva; na época, quase um movimento intelectual - e que jamais imaginaram enfrentar esse tipo de problema, com os próprios filhos. A paz e o amor se foram - e os sonhos viraram quase agonia.
Entre tantos equívocos, o primeiro é achar que traficante é alguém pobre, horroroso, mal vestido e que mora na periferia. Ele - ou ela - pode estar no seu sofá, comendo seus sanduíches e pedindo que lhe coce as costas. E continuará sendo o seu bebê. E aí? O que se faz numa situação dessas? Não sei, de verdade.
Essa poderia ser parte da história de tantos jovens, cujos pais seriam capazes de qualquer coisa para escrever outro final; mas tenho certeza que nenhum que tenha perdido um filho em circunstâncias decorrentes do uso de drogas, se prestaria a vender sua memória como um herói urbano a ser cultuado – como a psicóloga retrata a vida de Cazuza e a relação com os pais.
Como se não bastasse assistir a agonia de um filho dopado e surdo aos apelos e ao sofrimento da família inteira, ainda existe quem venha dizer que a culpa é do pai super protetor ou da mãe ausente, que crueldade!
Que pecado os pais de Cazuza cometeram, que qualquer um de nós não cometeria? Que pai não ajudaria o filho talentoso a gravar seus poemas? Que mãe não afaga um filho que se cura de uma ressaca? Criticarão pais de uma forma ou de outra, sempre; a omissão dificilmente é intencional, talvez seja apenas uma última e silenciosa oração, pedindo a Deus que “não seja verdade”, implorando que a Virgem olhe por mais um filho perdido... Exatamente como você faria, doutora.
Tenho certeza que a maioria que assistiu ao filme sobre o Cazuza, ou ao inquietante “Meu nome não é Johnny”, sabe separar alhos de bugalhos. Existem dois Cazuzas; o talentoso artista e o ser humano, vítima de si mesmo e do sistema com o qual jamais soube lidar. Os filmes mostram sim, o drama das escolhas – malditas escolhas – de seus protagonistas. Idolatra-se o artista; já o drogado, promíscuo e infeliz nos serve de exemplo, infelizmente.
Como haveremos de manter crianças longe das drogas, com essas versões caolhas daquilo que mais tememos e não temos segurança (ou conhecimento) para, sequer, explicar? Cazuza não foi um herói. Foi marginal, sim; inspirado, lírico, mas marginal. Como o filho da minha amiga, como o desconhecido que aterroriza o Guamá ou a Rocinha.
O mundo é louco, minha amiga, e não sei como passar por ele, incólume.
Até um tempo atrás, a gente acreditava que oração, amor e atenção – e boas intenções- bastavam. Mas não bastam. E honestamente... Não sei como ou o que será.
Alto, forte e belo, aos vinte e um anos quedou-se numa rajada de balas -o que poderia lembrar aquela música que cantamos tanto,“ Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”. Mas o enredo dessa morte não foi épico.
Minha amiga perdeu esse filho várias vezes; viu-o passar pela morte durante anos até despedir-se de seu corpo maltratado, rogando aos céus que descansasse na eternidade. Na dor desse pranto, há certo alívio por saber que o sofrimento do ser amado é findo; o que a faz roer-se em remorsos, imaginando o que poderia ter feito e, sem forças, não fez – como muitos outros pais.
Minha amiga viu o filho morrer desde a primeira vez que o flagrou com drogas e acreditou que era apenas uma fase e, mãe amorosa, pediu a Deus por sua criança. É da humanidade das mães preferir não acreditar. Das drogas leves às pesadas, aos furtos, roubos, tráfico e gangues armadas, foram apenas três anos. O seu bebê desapareceu, dando lugar ao traficante, capaz de roubá-la, ameaçar a irmã e surrar a namorada.
Na internet circula o artigo de uma “Carla Kristine, Psicóloga Clínica”. Verdadeiro ou não, o texto – apesar de tendencioso e superficial - provoca discussões oportunas, inclusive sobre a postura equivocada –e comum – de condenar pais pelos erros de filhos, como se fossem culpados pelas escolhas que seus rebentos farão vida a fora. Não por acaso, minha amiga me encaminhou uma cópia e um pedido, para que tocasse nesse difícil tema: a banalização das drogas, a culpa que pais carregarão, e a sociedade, fingindo que está tudo bem... Muitos desses pais aflitos foram os adolescentes da geração “paz-e-amor”; alguns até, eventuais consumidores da erva; na época, quase um movimento intelectual - e que jamais imaginaram enfrentar esse tipo de problema, com os próprios filhos. A paz e o amor se foram - e os sonhos viraram quase agonia.
Entre tantos equívocos, o primeiro é achar que traficante é alguém pobre, horroroso, mal vestido e que mora na periferia. Ele - ou ela - pode estar no seu sofá, comendo seus sanduíches e pedindo que lhe coce as costas. E continuará sendo o seu bebê. E aí? O que se faz numa situação dessas? Não sei, de verdade.
Essa poderia ser parte da história de tantos jovens, cujos pais seriam capazes de qualquer coisa para escrever outro final; mas tenho certeza que nenhum que tenha perdido um filho em circunstâncias decorrentes do uso de drogas, se prestaria a vender sua memória como um herói urbano a ser cultuado – como a psicóloga retrata a vida de Cazuza e a relação com os pais.
Como se não bastasse assistir a agonia de um filho dopado e surdo aos apelos e ao sofrimento da família inteira, ainda existe quem venha dizer que a culpa é do pai super protetor ou da mãe ausente, que crueldade!
Que pecado os pais de Cazuza cometeram, que qualquer um de nós não cometeria? Que pai não ajudaria o filho talentoso a gravar seus poemas? Que mãe não afaga um filho que se cura de uma ressaca? Criticarão pais de uma forma ou de outra, sempre; a omissão dificilmente é intencional, talvez seja apenas uma última e silenciosa oração, pedindo a Deus que “não seja verdade”, implorando que a Virgem olhe por mais um filho perdido... Exatamente como você faria, doutora.
Tenho certeza que a maioria que assistiu ao filme sobre o Cazuza, ou ao inquietante “Meu nome não é Johnny”, sabe separar alhos de bugalhos. Existem dois Cazuzas; o talentoso artista e o ser humano, vítima de si mesmo e do sistema com o qual jamais soube lidar. Os filmes mostram sim, o drama das escolhas – malditas escolhas – de seus protagonistas. Idolatra-se o artista; já o drogado, promíscuo e infeliz nos serve de exemplo, infelizmente.
Como haveremos de manter crianças longe das drogas, com essas versões caolhas daquilo que mais tememos e não temos segurança (ou conhecimento) para, sequer, explicar? Cazuza não foi um herói. Foi marginal, sim; inspirado, lírico, mas marginal. Como o filho da minha amiga, como o desconhecido que aterroriza o Guamá ou a Rocinha.
O mundo é louco, minha amiga, e não sei como passar por ele, incólume.
Até um tempo atrás, a gente acreditava que oração, amor e atenção – e boas intenções- bastavam. Mas não bastam. E honestamente... Não sei como ou o que será.

Micos (remix)



Poucas coisas são mais humilhantes do uma queda ridícula, desengonçada. Só mesmo com público. Nessas horas, o melhor é “perder os sentidos”. Desmaie - com charme, “pelamor” de Deus! A mão direita sobre o coração, cabeça pendendo, pernas elegantemente dobradas para mostrar seus saltos 12, tão lindos... Não tente arrumar o cabelo. Caiu, caiu. Fique imóvel, jogada no chão. (Claro que você não vai fazer isso na pista da Almirante Barroso. Pensando bem, você não deve atravessar a Almirante Barroso...) Aí o mico começa a dar Ibope! Em vez de gargalhadas humilhantes ou risinhos cruéis, haverá preocupação. Correria. Prenda a respiração, você deve ficar pálida, aquele ar de desamparo tão atraente - lembre que ninguém ajuda mulheres poderosas e confiantes. “Deve ser hipoglicemia”. “Lipotímia”. “Sal sob a língua!”. “Água com muito açúcar!” “É o regime... Só comem alface” (Você , deitada, ouvindo isso, é “A” glória. Resista e não ria.) “Ela não é cardíaca ?” Pronto, alguém vai acionar a Unimed. Você sai dessa com lucro, a notícia se espalha, na sauna, na massagem, no boteco da hora. E alguém ainda vai perguntar, sussurrando: “E aí, melhorou? Oooolha, não abusa da dieta!”. Glória to-tal: finalmente no-ta-ram a dieta que você começou há três anos! Justiça tarda, mas não falha. Valei-me Santa Rita, que é chic e poderosa!
Nem sempre é assim. Já caí da cadeira com prato (cheio) e talheres nas mãos. Fiquei deitada no gramado, com a cadeira fechada, por baixo. Um horror... Como poderia desmaiar sem derramar a feijoada? Ainda tive que espanar a grama do traseiro; uma lástima. Desde então, o-dei-o cadeiras de armar. As plásticas também são perigosas, principalmente em salões deslizantes, com camadas e mais camadas de cera e coisas escorregadias... Melhor acomodar o traseiro aos poucos, para sentir se as pernas (da cadeira!) não estão se abrindo. Encoste uma das pernas no seu vizinho, para servir de “trava” (DAS CADEIRAS, ô raça maldosa!).
Para não cair à toa, sempre é bom dar uma “geral”, antes de entrar, gloriosa, com o queixo a não menos de 90º do pescocinho hidratado. Se estiver cheio de pregas, meu amor, use uma echarpe - ninguém merece certos colos em eterna exposição, com aquele decotão de cigana de araque!
Se “chegar” merece atenção (comuns entram, poderosos “chegam”), sair, é outra ciência. Nada pior que ser uma das últimas, isso é coisa de quem não faz a menor diferença – o que, decididamente, não é o nosso caso. Levante-se enquanto consegue uma bela estampa, nada de cochilar no ombro do Romeu ou trocar figurinhas com quem nem tem álbum, se é que me entende. Despeça-se com alegria e jamais pronuncie “desculpe qualquer coisa” - a não ser que realmente tenha culpa por algo inominável. Se beber além da conta, tranque-se no banheiro até poder sair sem testemunhas, nada pode ser pior do que esses espetáculos.
E quando a companhia se torna uma tortura? Quanto menor a festa, mais difícil é sair “de fininho”, se for impossível aguardar a sobremesa, vá até o banheiro e peça que alguém telefone insistentemente. Atenda preocupada e desligue pesarosamente, algum curioso vai perguntar o que aconteceu, responda baixinho que sua tia de 98 anos está passando mal e desapareça na penumbra. Para saídas menos traumáticas, meia-noite é o limite, ou você volta para casa numa abóbora. “Gente, a conversa está ótima, mas meu plantão começará em 5 minutos...Beijo, me liga; fui...” Plantão? Que plantão? Ninguém discute ou desrespeita “plantão”. É uma palavra mágica, que garante o supremo direito de recusar qualquer convite ou álibi para eventualidades; plausível em diversas áreas como medicina, comunicações, informática, veterinária, farmácia, posto de gasolina, vidente e manicure. Pode ficar estranho, mas é melhor que vomitar no petit-gateau.
(Só para lembrar...Sexta, sábado e domingo: As Gatosas, com novidades, no Cuíra!)

Coisa Feia!

SELEÇAO DE COISAS QUE AGRIDEM A GRAMÁTICA, O BOM GOSTO, O BOM SENSO...


Na Globo.com, G1, mais uma vez ninguém leu antes de publicar...
Em 15 de outubro de 2010:


Casa e Jardim
Decoração com
Bolinhas dão leveza
à casa.




"Dão" ?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Descomplique-se


A falta de qualidade de vida é tema recorrente em todo lugar. Ninguém tem tempo para nada, é a sujeira, o trânsito, muito trabalho (sempre) e mais compromissos do que se pode atender. Alguns ainda arrastam relações pessoais – familiares ou profissionais – tensas; e o lazer... Bem, isso é coisa de quem não tem o que fazer, criticam. Enquanto isso, cada vez mais pessoas procuram descomplicar a vida, para viver mais – e melhor. Se você acha que tem a ver com falta de dinheiro ou mediocridade, é melhor rever seus conceitos. Simplicidade é uma forma de encarar a vida, quase uma ideologia. Pessoas simples são mais felizes, não por exigir menos, mas por eliminar o que atrapalha.
Parece fácil, mas não é. Muitos acham que ser simples é ser modesto, simplório; e bem sucedidos parecem muito, muito ocupados. Na verdade competência é não se ocupar mais que o necessário. Não “ter tempo” virou desculpa para tudo; auto-indulgência para não procurar amigos, adiar consulta médica, não educar os filhos, não responder e-mails ou ter aquela conversa com o parceiro. Por falta de melhor referência, pessoas complicadas – desorganizadas e sem tempo – se passam por trabalhadores exemplares, como se fossem realmente essências; diferentes de você, que deu o maior duro para fazer aquele curso de sushi – bobagem de quem não tem lá muito o que fazer! – que coisa!
Idéias mais radicais - como o Movimento Simplicidade Voluntária- ganharam a mídia, principalmente por pregar o desapego, inclusive ao conforto – o que exige sacrifícios. Não é disso que estamos falando - deixe o ar no máximo, por favor!
Do que se trata, então? Basicamente de descomplicar a vida ao máximo. Quer tempo para viver melhor? Livre-se de tudo o que atrapalha a sua tranqüilidade. É a receita de Elaine St. James, escritora especialista em simplicidade. Segundo ela, pessoas muito estressadas se recusam a rever prioridades; uma vida complicada é a melhor maneira de adiar providências para achar tempo para o que dá prazer. (Auto-sabotagem?)
"Simplifique sua Vida: 100 Maneiras de Diminuir o Ritmo e Desfrutar das Coisas que São Realmente Importantes” (o primeiro dos vários de Elaine sobre o tema) é antigo -1999 – e continua entre os mais lidos. O que me parecia mais um manual de auto-ajuda acabou me ajudando a identificar o que vampiriza meu tempo e minha paz - eu mesma, ocasionalmente.
John Maeda, diretor da Rhode Island School of Design e outro guru da “descomplicação” publicou em 2007 “As dez Leis da Simplicidade”. Mesmo que não seja novidade, vale conhecer as reflexões sobre o que emperra a eficiência no trabalho - ou na vida. Ser (pelo menos só um pouco) mais simples parece a melhor forma de evitar conflitos.
Mesmo a rotina mais básica pode ser simplificada. Sair quinze minutos antes para evitar rush, fazer compras ou academia em outro horário, são as mais banais. Até a quantidade de publicações que recebemos pode ser fonte de estresse, ao gerar a “obrigação” de “ter que ler” uma montanha de revistas que vão se acumulando, resultando na sensação de incapacidade e desperdício. (Se não dá tempo, prá que assinar? Cancele logo!) E o Natal? Já reparou como complicamos um momento que deveria ser só alegria?
Viva e deixe viver! Para que pensar porque fulana não retornou a ligação ou se gostaram da festa que você deu o maior duro para organizar? Vão falar mal de qualquer modo, melhor gastar a energia algo prazeroso – aquela massagem, que tal? Não exigir demais de si mesmo e saber perdoar-se quando algo não sair exatamente como queria, também é fundamental.
Simplicidade pode ser um carro menor ou planejar a lista para ir ao supermercado menos vezes – depende de cada um. Os resultados de uma intervenção dessas, no entanto, são animadores. Como diria a Marina, das “Gatosas” (que estréia amanhã, 21h, no Cuíra!), Slow down; querida!
Foto: Ensina-me a viver, com Glória Menezes.

Bramasole: o que anseia pelo sol



Sob o sol, na madrugada
A única vantagem de estar eventualmente insone é poder passear por uma enormidade de canais, curtindo uma das minhas paixões. TV é tudo de bom, como diria a amiga Rejane (Barros, claro!). De um episódio da Discovery sobre Henrique VIII - ele foi um atleta, quem diria!- passo pelo fenômeno musical adolescente, o irritante Justin Bieber, o menudo da hora. Tenho ímpetos de dar uns coques no molequinho metido, que aprecia “mulheres mais velhas”; então tá, que falta faz um puxão de orelha ou uma escova, toma tenência, moleque!
Estou inquieta, são duas e meia da madrugada, preciso dormir e ainda tem essa dor de garganta chata... A próxima atração me acalma; vou assistir, mais uma vez, Sob o Sol da Toscana. Poucos filmes foram (e são) tão assistidos quanto o drama açucarado da escritora Frances Mayes (vivida na tela por Diane Lane) que resolve desembarcar de uma excursão pós-divórcio-traumático e arriscar-se na compra de uma casa em ruínas... em plena Toscana. O filme, de 2003, permanece como fonte inspiradora para muitos e mesmo nas incontáveis reprises, é um bom programa; apesar dos entendidos detestarem. Ninguém é perfeito.
Qual a razão de tamanho sucesso? As paisagens – encantadoras – da Toscana não são a única razão. O enredo trata de dar-se uma nova chance, pouco importa quantas. De ousar, de ter coragem de arriscar! Trata do bem querer, entre novos e velhos amigos e, em especial, de buscar antes de um novo amor, um lar - o que é muito mais que um teto... Viver numa casa onde a gente se reconheça e cada detalhe seja fruto de carinho é muito prazeroso - e nem é essencial que ela nos pertença há décadas. (A casa chama-se Brasole... Algo que “anseia pelo sol”.) Como os amores, existem casas que nos conquistam à primeira vista; outras, a gente vai dando um toque aqui, outro ali, muda isso e aquilo até que parece termos vivido lá a vida inteira. Casa é qualquer uma, lar tem a nossa cara.
O filme trata de gente - suas alegrias e tristezas, dúvidas e descobertas. Quem nunca sentiu um desinteresse desesperador pela própria vida? Aquela certeza de não pertencer mais a esse lugar e precisar sair, em busca de um novo porto? Mas quantos podem fazer isso?
Poder resumir a bagagem a algumas caixas com o mais valioso, livros, fotos, só as roupas que usamos de fato; isso sim é deixar para trás o peso morto, para seguir adiante mais leves, de fato. Nos filmes isso é fácil. Na tal da vida real, muito raramente. Somos fiéis depositários de um monte de coisas que recebem um valor muito maior do que possuem. Carregamos lotes de objetos adquiridos à custa de algum sacrifício, como largar tudo assim, de uma hora para outra? Frances sofreu um divórcio extorsivo para chegar à conclusão que podia viver sem a mobília ou tudo que julgava imprescindível. ( Para outros, bastaria esse trânsito, o lixo, a mesmice, a canalhice de alguns que se dizem procuradores dos nossos interesses. Bastaria a propaganda eleitoral. Cadê coragem?)
Numa outra madrugada, assisti “House Hunters International”, série que acompanha a saga de pessoas comuns que procuram um novo lar, em outro país. Um radialista saiu dos Estados Unidos em busca de uma casa na Toscana, depois de assistir diversas vezes ao filme, imaginando se teria coragem... Como trabalhava com as corridas, cujas atividades ficam suspensas durante cinco meses, resolveu que teria outro lar, na Itália. O melhor foi ver que esse não é um sonho tão impossível. Por 45 mil dólares (sim, dólares) arrematou uma casinha com vista espetacular, mas em estado calamitoso, numa pequena aldeia próximo de Abruzzo; mais em conta que a Toscana e bem perto dela. Acompanhou pessoalmente a reforma que consumiu mais vinte mil dólares e, ao final, já tinha uma porta esmaltada de vermelho e vasos de gerânios sob sua janela – com vista para um prado, onde no verão, estariam milhares de girassóis. Por cinco meses em cada ano, o sonho seria realidade.
Ai, ai... Confesso que tenho inveja de quem ousa, de quem tem tanta coragem assim... Tento me conformar, talvez nem precisassem ir tão longe...
A Toscana pode ser qualquer lugar, onde a gente se sinta feliz e em paz, para onde valha a pena voltar, consolo-me... Ou um filme bonito que me faz sonhar durante a madrugada em claro...

Antiga


Ela já nasceu antiga, diferente das amigas, capazes de fazê-la corar. Não quis ser bailarina, as pernas eram grossas e não levava jeito com movimentos sincronizados. Não, ela não seria bailarina. Nem aeromoça, naquela época, toda menina bonita mesmo, sonhava com a Varig. Nunca soube de uma que tenha conseguido, a que chegou mais perto foi a Lúcia, que fazia check-in em Val-de-Cães. Mas ela não era ousada o suficiente para ser aeromoça, despachar vôos noturnos ou apresentar jornais de TV, como arquitetavam as outras.
Jamais teve um sonho desses, comuns, ou se imaginou num consultório ou numa prancheta; também não pretendia ser atriz, isso não era lá coisa fácil, não naquela época. Modelos e manequins, ela só soube que existiam depois dos anos setenta - que foram loucos, muito loucos. Ela não sonhava com nada que as amigas aspiravam. Não seria atriz, nem médica, nem...
Cândida sonhava com o piano, dia e noite. Não fosse a reclamação do pai – De novo, Cândida? – tocaria até altas horas. Depois do almoço, era a sesta que, mesmo sem ninguém dormir, só acabava lá pelas quatro. Ela que aproveitasse, às sete da noite haveria o Repórter Esso, e esse, era sagrado.
Cândida queria ser pianista. Falava de boca cheia, Pi-a-nis-ta! Tamborilava a carteira durante o “recreio”, entre os dois toques da “campa”, enquanto os demais devoravam a “merenda”. Ninguém mais falava assim ou sonhava com pianos, ora, ora.
Só uma coisa mexia mais com a Cândida, e sentava-se bem ao lado, na terceira carteira da segunda fila. O Antonio José era a razão dos suspiros da bela e doce Cândida. No mais, um sobrado avarandado, de paredes cor-de-rosa, que tudo naqueles tempos tinha essa cor. Sala com mesa de jacarandá, pano de crochê e vaso de cristal, para trocar flores toda semana. Quarto de amplas janelas, cama de cerejeira entalhada, colcha de cetim - e o Antonio José em cima, claro. E no canto da sala, tchan-tchan-tchan-tchan... O piano! Haveria de ser um de cauda, desses que ficam abertos e se vê as cordas, lindo, lindo. Um sonho em sépia, como as fotos antigas.
E foi quase assim que as coisas aconteceram. Formou-se no Conservatório, com louvor; casaram-se na Basílica, tiveram três meninas... Cuidou de cada espirro, alimentou, debelou febres e aparou quedas, quase como havia sonhado; esposa e mãe, fazendo bolos, fritando batatas e bifes, amarrando marias-chiquinhas, enrolando brigadeiros, indo às reuniões do Lyons.
O piano... Bem, o Antonio José achou que não havia espaço para o piano, muito menos admitiu aulas, “no meio da sala”. Afinal, ela não precisava trabalhar; que cuidasse da casa, da família, determinou. Cândida viveu “o sonho” até mês passado, quando a caçula foi para São Paulo, fazer um desses cursos que nem sabia pronunciar o nome.
Ao chegar da hidro, encontrou duas malas repletas de roupas masculinas – novas e muito modernas. O Antonio José? Bem, num bilhete dizia que estava indo embora - com outra - para finalmente ser feliz. Aconselhava-a fazer alguma coisa “útil”, não sabia como ela vivia “sem fazer nada”...
Ela? Sei lá, acho que enlouqueceu. O “finalmente” atravessava-lhe a garganta... Dobrou as antigas roupas do marido, guardou-as nas malas novas, incluindo ceroulas de algodão e cintos de curvim dupla face. Colocou as novas sobre a cama de cerejeira que arrastou até o quintal, juntou a foto dele com o Rivelino, os álbuns completos das últimas oito copas, os discos dos Beatles e o Rolex, que ele só usava na festa da turma. Ateou fogo e ficou assistindo, tranquilamente.
O Antonio José? Foi morar com a outra. Ela? Está pensando em alguma coisa para fazer com a pensão, depois do divórcio. Viajar, por exemplo. E fazer aulas de dança de salão; nunca é tarde para dançar, as pernas grossas, sabe como é...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Se eu não me amasse tanto assim




Assustou-se? Pois é, mas o amor (por outros) grafita paredes, rola no rádio e une palavras em versos cheios de paixão, às vezes por quem nem quer ser objeto desses sentimentos que podem virar vendavais - e ninguém estranha, nem quando a rima é com dor, ou traição. Amar a si, antes (e apesar) de tudo, parece ser coisa dos egocêntricos e não dos saudáveis.
Outro dia, uma pessoa me cobrou as nossas “fotinhas” que ficavam aí no canto; era desculpa para alfinetar aquilo que chamou de “registro dos meus quinze anos”. Em público, claro; espetáculo exige platéia. Pois bem, queridinha, prometi inspirar-me em você numa crônica; não tema, graças aos céus (e alguma terapia), dificilmente me altero por bobagem.
Não sei a razão da ausência das fotos, não faz diferença. Mas o que você queria realmente saber, sim, a minha imagem era fruto de photoshop, claro! Um carinhoso trabalho do nosso amado S. Raimundinho, mais conhecido como “Zero” (de 007!) aqui na casa, que me deixou mais jovem e com pele de bebê. Coloquei-a no cantinho, uma vez que os amados leitores, (inclusive você!) merecem o melhor, mesmo que o melhor seja retocado. E pra quê mais existiria a técnica, a não ser para nos deixar muito bem na foto? Você se enche de botox e ninguém torra sua paciência; vê como tem gente boa no mundo?
Pois é, mas é agora que começa a crônica; afinal, não iria me ocupar da sua falta de assunto, ou da sua implicância, já lhe dei mais ibope que merecia, “amiiiga”!
Bem, lembram que tempos atrás andei meio “pra baixo”, coisa e tal? Pois é, passou, claro, e me deixou muito melhor- pelo menos por dentro, ô raça!
Outra pessoa, essa de bem com a vida, ligou dizendo que “pelo astral da foto”, (daquela, retocadíssima!) sabia que eu estava bem e ficava feliz, amém. Isso se chama generosidade, algo que torna melhor qualquer dia enfarruscado, que faz que um raio seja o sol inteiro. Essa é a diferença, percebe?
A maneira como a gente se coloca diante das pequenas coisas ou dos grandes acontecimentos determina todo o resto – o que recebemos da vida é apenas o troco do que oferecemos.
Há quem veja uma festa como uma oportunidade rara para celebrar as amizades e existe quem ache que é um compromisso, uma chatice - isola pé de pato, mangalô três vezes. É a tal história do meio cheio ou meio vazio, enfim.
O que alguém que não trata a si mesmo com carinho, pode esperar dos outros?
Passei dessa fase (desculpa, tá?), pois descobri que ninguém consegue “ser” feliz, mas sentir-se feliz só depende de cada um, é a escolha dos que vivem bem e semeiam bem estar, pode reparar.
Às vezes, ouvia que deveríamos amar a nós mesmos antes de arriscar qualquer amor, mas me parecia conversa de fotonovela ou álbum de debutante. Não tinha percebido o quanto estar bem consigo mesmo é fundamental para desfrutar o lado bom da vida e relevar os maus momentos – todos passam por eles, não é exclusividade de ninguém. Achar-se perseguido, odiado, invejado por todo mundo é coisa de quem precisa de amor; de amor próprio.
Talvez seja esse o segredo daquelas pessoas para quem quase tudo parece dar certo, como se vivessem eternamente no paraíso, mesmo quando as coisas não vão tão bem assim. Não, não estou dizendo para você ser um desses otimistas tolos e alienados, apenas constatei que a vida é melhor quando a gente consegue esquecer o que os outros pensam, para ouvir o próprio coração; quando conseguimos rir das nossas dificuldades e valorizar o que temos de bom. É melhor ser um guerreiro Jedi, no lado “bem humorado” da força.
Depois do meu pequeno reparo no título da música, concluo com os versos de Paulo Sérgio Valle e Herbert Vianna:
... Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão

...Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração...
Ver flores só depende de você, isso é certo. A vida, menina, é uma só, então aproveite não só a festa, mas o photoshop – os espertos conseguem deixar tudo melhor do que é! Mas lembre-se que colheitas não aguardam muito tempo e...Carpe diem!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Brasil, il, il, il...Tá bom assim?


Duas paixões nacionais não me comovem mais, pelo menos não como ao resto do país: carnaval e copa do mundo. Acho uma chatice, não ligo para quem ficou de fora da lista do Dunga e agradeço aos céus ter TV por assinatura, amém. Não implico com quem é capaz de perder o emprego para não perder um jogo. Ou com quem reúne amigos, para ver a Beija Flor; apenas não consigo me motivar. Até tento disfarçar, mas ambos não representam mais que algumas lembranças, deixadas lá atrás.
Eu já adorei carnaval; de rua, inclusive. Naquele tempo, a gente tinha os quatro finais de semana “pré-carnavalescos” para colocar o bloco da rua. A Praça da República era tu-do! Grande Família, Bandalheira, Unidos da Vila Farah, Xavantes... Dava vontade de brincar em todos. Brincar, sim; carnaval era diversão, e das boas – o que está bem longe de ser careta, queridinha.
A gente não tinha tempo - ou vontade - de tomar conhecimento do carnaval do sul, mesmo que já fosse “o maior espetáculo da terra”. Que farra! Ninguém imaginava que as Negas Malucas que faziam “forfait”, eram jovens de tradicionais famílias de Belém - eu, que era esperta, no meio. E nos salões, garanto que não havia carnaval tão bom quanto o daqui. Mas isso, os jovens não podem sequer imaginar como era. Depois... Bem, depois virou essa chatice; um calendário com data marcada para ir para Salinas e tomar todas, nada mais.
Até desfilei duas vezes no Rio, foi ótimo, blá blá blá, e fim. Não consigo “virar a noite” para ver as escolas, acabo dando uma espiada no compacto e estamos conversados.
Talvez seja a falta de uma “turma”, mas mesmo que uma multidão se reunisse em minha casa para assistir ao Carnaval ou à Copa, para mim um bom papo continuaria sendo muito mais interessante.
OK, sei que você adora, por isso fico na minha, levanto os indicadores e “alalaô-ô-ô ô-ô-ô, mas que calor, ô-ô-ô-ô...”. Do tempo em que Momo tinha reinado em Belém, claro!
Copa do Mundo... Lembro de várias. Na vitória de setenta, a “pipoca” da Assembléia foi em ritmo de “Pra Frente, Brasil!”.
Na de 78, saí de casa, na Batista Campos para assistir um jogo do Brasil com amigos, na Rui Barbosa. Fui a pé e estava atrasada, só para variar. Ruas vazias e em vez de apressar o passo, me coloquei a pensar sobre as calçadas, sobre a vida, solidão e esses assuntos que tomam conta da cabeça dos cronistas – mesmo antes de saberem que, um dia, serão cronistas. Sei lá a razão, quando Belém está vazia, lembro exatamente daquele dia.
Para cada copa tenho uma recordação; algumas felizes, a maioria nem tanto. Na de 82 eu aguardava a chegada da Verena com Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, uau! Em 90 eu retornei para Belém depois de nove anos fora. No penta, perdi meu pai; lembro dos fogos, enquanto encerrávamos o velório.
Ao contrário do carnaval e do futebol locais, que só perderam, no resto do país ambos melhoraram, e muito. Outro dia, sapeando a TV, vi uns tapes dos jogos de 70 e pasmem, até eu me surpreendi com uns lances esquisitos; Pelé bobeando na cobrança de faltas, Gerson errando passes, Rivelino demorando a passar a bola. Na época, acho que nem deu para notar. Já a magia... A copa de 70 foi mágica e emblemática! (E não tinha o Galvão Bueno, que maravilha!)
Fico imaginando o quanto aquela vitória influenciou os nossos destinos, que coisa. A desse ano vai pesar na eleição do (ou da) presidente. Coisa de Brasil, enfim.
As copas passam e eu não ligo, só para as consequências; mas não fico dizendo isso por aí. As pessoas reagem da mesma forma com quem não “adora” crianças; não gostar de futebol é, digamos, suportável, mas não a-m-a-r a seleção, é absurdo!
Então tá. Vou arrumar uma camisa amarela, fazer aquela cara de felicidade e fingir que sou íntima do esquema do Dunga. (Depois de anotar o horário dos Pinguins de Madagascar, na TV. São ó-ti-mos, você já viu?) Brasiiiiiiiil, il,il,il...

A nova cozinha regional, arre!


Filé de peixe, manteiga, gorgonzola, chicória (e alfavaca, claro!), parmesão, bacalhau, jambu, catupiri; e não só para rimar, batatas, camarões e tucupi; molhos de tomate e bechamel, pimenta de cheiro, pimentão, ervas de Provence, bacon e arroz...
Não, não é lista de compras, mas os ingredientes de um único prato, criação local. Não me pergunte que cogumelos o “chef” andou comendo, mas são perigosos, acredite.
Vão me achar antiga e implicante, mas encontrar um simples filé de pescada, grelhado, com farofinha úmida e arroz branco e soltinho, é difícil. Os restaurantes mais “mais”, mesmo, é que oferecem pratos descomplicados. Sabe aquela história do cara que não sabe fazer arroz, mas faz um “risotti” di-vi-no? Pois é... Simplicidade exige conhecimento; quem não sabe, enche tudo de creme de leite, mais dez ingredientes e... Voilá, eis a “enrolation cuisine” - de olhos fechados, em meio a tantos sabores, ninguém sabe o que está comendo, que coisa.
Atualmente temos talentosos (e reconhecidos!) “chefs”, mas há vinte anos, o querido Paulo Martins era um dos poucos; e se colocou a provar e propor novos sabores aos paladares mais curiosos, com enorme competência. Sempre confiei nas suas sugestões que mesclavam o tradicional com generosos toques de ousadia. Foi assim que surgiu o tão copiado Filé ao Molho de Castanha, as versáteis pupunhas, ora recheadas com roquefort (uau!), ora carameladas, acompanhando garbosamente um assado, que maravilha. Comer bem é um privilégio, não é mesmo?
Belém é conhecida pela excelente gastronomia e quando os restaurantes passaram a reinterpretar receitas tradicionais, percebi que vivíamos uma ocasião especial; nem em sonho temi essas bizarrices, que alguns ainda chamam de “nova cozinha regional” - em detrimento desta.
Experimentos têm limites – do bom senso e bom gosto, só para começar. Lembro do restaurante que não sobreviveu um semestre à arrogância da proposta – rústico pretensioso, ou o inverso, tanto faz – e ao cardápio, repleto de frescuras e pouca excelência. Era ‘um tal’ de perfume disso e buquê daquilo, tantos sotaques esquisitos e invencionices, que resolvi me aventurar num peixe que, segundo o maitre metido a besta, exalaria aroma de maracujá. Cheirava a peixe mesmo, e ainda estava congelado no centro; que lástima. O frango do colega, frio, voltou para a cozinha e retornou torrado. A casa (como tantas outras!) fechou seis meses depois, um alívio!
Claro que escrever sobre culinária é mais fácil que encarar panelas e especiarias. Aliás, “séculos” atrás, quando li o primeiro cardápio do Roxy, vi que dá para escrever um clássico sobre as comidinhas que amamos, quando elas chegam deliciosas. O que pode ser mais interessante que inebriante talharim, imaginoso filé, generosas porções de bacon, portentosas batatas... Além de delicioso, soa incrivelmente divertido; a cara do lugar - uau, de novo! (Um dia, ainda vou descrever pratos em cardápios, anote!)
Nem precisa cozinhar bem (E eu, queridinha, puxei à família e cozinho divinamente, viu?) para temer algumas criações apresentadas com aqueles ares de quem entende tudo de gastronomia e vive fazendo cursos em Paris - ou Cametá, que seja. Cozinha moderna é mais que misturar ingredientes caros, pena que muitos esqueçam esse detalhe. Graças aos céus, podemos sobreviver longe desses embromadores; ainda são muitos os locais onde, além de se comer muito bem (mesmo), tudo o mais vale a pena.
Tenho meus restaurantes favoritos, conheço lugares despretensiosos onde se come feito reis e aplaudo novidades que mantém o bom gosto; mas se você não tem competência para inovar, querida, copie, opte pela simplicidade, vai ser bem melhor... Para seus clientes, principalmente. E por favor, não coloque mais pirarucu, brie, tucupi, açafrão, conhaque, bacuri e macaxeira no meu prato. Pelo menos não ao mesmo tempo. E estamos conversadas.

Lá no passado...

Tempos atrás, fui convidada a escrever a saudação de uma turma que se formava. Fiquei me achando muito importante, principalmente quando soube que o texto seria fundo de um clip, coisa que formandos gostam muito. Atendi ao pedido e nem sei como as coisas saíram.
Arrumando meus arquivos – como se isso fosse possível- acabei relendo o texto e vi que o frescor do restinho de juventude ainda conservava a credulidade romântica que me trapalhou os planos, várias vezes. Compulsiva, acabei corrigindo os votos de felicidade e acrescentando algo que hoje sei ser fundamental à carreira de quem quer que seja.
Senhores formandos, jamais deixem que outra pessoa trate dos seus interesses junto aos seus chefes; nem sempre os mais bem intencionados conseguem dizer exatamente o que você diria. Nada (nem ninguém) substitui o olho no olho; e perder uma chance dessas, pode ser perder todas.
Lá atrás, durante a troca periódica do comando da instituição onde trabalhava, acabei cometendo esse equívoco e jamais tive uma oportunidade de esclarecer os fatos.
A verdade é que não tinha nenhuma relação com o novo chefe e, apesar de ser um tanto esfuziante, entrava num surto de timidez diante do homem sério, de voz grave e gestos contidos. Um diretor, em cujo departamento estava subordinada, gentilmente tratou de uma reivindicação fundamental na minha carreira, que tinha tudo para prosseguir na casa. Eu queria muito tocar um projeto que seria lançado em breve.
Hoje, percebo que não era o momento; o novo chefe tinha mil coisas importantes a fazer e mexer na minha sessão, que vinha dando excelentes resultados, seria inconveniente, pelo menos naqueles dias.
Talvez se eu tivesse conversado com ele, pudesse intuir que seria melhor esperar. Quem sabe mostrasse as razões de me sentir subaproveitada por ter cumprido as metas e não ter, de imediato, nenhum novo desafio. Eu queria crescer, e não abandonar o barco – e seu comandante.
Nunca soube o que foi dito. Acabei indo para um setor muito menos produtivo, passei uma enorme temporada fazendo varejo e me sentindo verdadeiramente mal.
Nunca subestime o poder de uma secretária, essa é uma relação onde só você tem a perder, portanto, muita cautela e falsas amabilidades só lhe farão bem; faz parte. A “colega” da superintendência blindou o chefe, manipulando oportunidades de encontro, filtrando telefonemas e correspondências.
Jamais consegui, sequer, falar-lhe. Um belo dia, o destino me fez dar uma outra volta e as distâncias só aumentaram. Ficou uma nódoa, um mea-culpa tardio que me faz engasgar e sem conseguir digerir.
A questão é que não suporto a idéia de ter sido mal interpretada, muito menos de ter sido evitada como fui. Adianta alguma coisa, tantos anos depois, remoer a questão? Não. Nenhuma terapia irá me curar desse cacoete de lembrar só as coisas boas dos demais e jamais esquecer meus próprios enganos. Eu me cobro todos os dias e sei que o caso nunca terá solução. Como uma tatuagem, terei que conviver com isso.
Nada disso teria sentido se não se tornasse uma exemplar história de insucesso; se ninguém pudesse ganhar algo com minha experiência de erros. Portanto, caros calouros que hoje já devem estar bombando por aí, não façam o que fiz. Procuração mesmo, só em cartório, com poderes muito bem definidos; favores, mesmo dos bem intencionados, nunca dão certo, acredite!
O meu ex-chefe? Vejo muito pouco. Quem sabe um dia possa dizer-lhe que gostaria apenas que soubesse de algo que ficou mal esclarecido, séculos atrás. Ou não. Tomamos outros rumos; as vidas e os rios não esperam, correm sozinhos.