sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Micos (remix)



Poucas coisas são mais humilhantes do uma queda ridícula, desengonçada. Só mesmo com público. Nessas horas, o melhor é “perder os sentidos”. Desmaie - com charme, “pelamor” de Deus! A mão direita sobre o coração, cabeça pendendo, pernas elegantemente dobradas para mostrar seus saltos 12, tão lindos... Não tente arrumar o cabelo. Caiu, caiu. Fique imóvel, jogada no chão. (Claro que você não vai fazer isso na pista da Almirante Barroso. Pensando bem, você não deve atravessar a Almirante Barroso...) Aí o mico começa a dar Ibope! Em vez de gargalhadas humilhantes ou risinhos cruéis, haverá preocupação. Correria. Prenda a respiração, você deve ficar pálida, aquele ar de desamparo tão atraente - lembre que ninguém ajuda mulheres poderosas e confiantes. “Deve ser hipoglicemia”. “Lipotímia”. “Sal sob a língua!”. “Água com muito açúcar!” “É o regime... Só comem alface” (Você , deitada, ouvindo isso, é “A” glória. Resista e não ria.) “Ela não é cardíaca ?” Pronto, alguém vai acionar a Unimed. Você sai dessa com lucro, a notícia se espalha, na sauna, na massagem, no boteco da hora. E alguém ainda vai perguntar, sussurrando: “E aí, melhorou? Oooolha, não abusa da dieta!”. Glória to-tal: finalmente no-ta-ram a dieta que você começou há três anos! Justiça tarda, mas não falha. Valei-me Santa Rita, que é chic e poderosa!
Nem sempre é assim. Já caí da cadeira com prato (cheio) e talheres nas mãos. Fiquei deitada no gramado, com a cadeira fechada, por baixo. Um horror... Como poderia desmaiar sem derramar a feijoada? Ainda tive que espanar a grama do traseiro; uma lástima. Desde então, o-dei-o cadeiras de armar. As plásticas também são perigosas, principalmente em salões deslizantes, com camadas e mais camadas de cera e coisas escorregadias... Melhor acomodar o traseiro aos poucos, para sentir se as pernas (da cadeira!) não estão se abrindo. Encoste uma das pernas no seu vizinho, para servir de “trava” (DAS CADEIRAS, ô raça maldosa!).
Para não cair à toa, sempre é bom dar uma “geral”, antes de entrar, gloriosa, com o queixo a não menos de 90º do pescocinho hidratado. Se estiver cheio de pregas, meu amor, use uma echarpe - ninguém merece certos colos em eterna exposição, com aquele decotão de cigana de araque!
Se “chegar” merece atenção (comuns entram, poderosos “chegam”), sair, é outra ciência. Nada pior que ser uma das últimas, isso é coisa de quem não faz a menor diferença – o que, decididamente, não é o nosso caso. Levante-se enquanto consegue uma bela estampa, nada de cochilar no ombro do Romeu ou trocar figurinhas com quem nem tem álbum, se é que me entende. Despeça-se com alegria e jamais pronuncie “desculpe qualquer coisa” - a não ser que realmente tenha culpa por algo inominável. Se beber além da conta, tranque-se no banheiro até poder sair sem testemunhas, nada pode ser pior do que esses espetáculos.
E quando a companhia se torna uma tortura? Quanto menor a festa, mais difícil é sair “de fininho”, se for impossível aguardar a sobremesa, vá até o banheiro e peça que alguém telefone insistentemente. Atenda preocupada e desligue pesarosamente, algum curioso vai perguntar o que aconteceu, responda baixinho que sua tia de 98 anos está passando mal e desapareça na penumbra. Para saídas menos traumáticas, meia-noite é o limite, ou você volta para casa numa abóbora. “Gente, a conversa está ótima, mas meu plantão começará em 5 minutos...Beijo, me liga; fui...” Plantão? Que plantão? Ninguém discute ou desrespeita “plantão”. É uma palavra mágica, que garante o supremo direito de recusar qualquer convite ou álibi para eventualidades; plausível em diversas áreas como medicina, comunicações, informática, veterinária, farmácia, posto de gasolina, vidente e manicure. Pode ficar estranho, mas é melhor que vomitar no petit-gateau.
(Só para lembrar...Sexta, sábado e domingo: As Gatosas, com novidades, no Cuíra!)

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