Fim da linha
Realmente ninguém pode dizer que não tentei. Antes dos quinze, eu já havia testado pelo menos dez novas dietas. Uma delas mandava comer doze ovos cozidos durante o dia inteiro, com água à vontade. Era um arroto só. Lembro de uma priminha gorducha, que foi submetida ao sacrifício. Para facilitar, os ovos ficavam numa vasilha plástica, na geladeira. Duas horas após o início da “prova”, ela veio até a sala, com cara “mareada”, dizendo que “não aguentava mais...” Tinha comido “só”onze... na largada! Claro que eu desisti antes de começar. Outra dieta era a sopa. Uma gororoba com muito jambu, pimenta de cheiro, um folharal danado que queimava ao entrar. O resto, bem... Também não deu certo. Nos anos 80 tomei todos os medicamentos que me indicavam; a gente ficava meio zureta, mas eram os oitenta, então... Com alguns consegui a proeza de ficar dois ou três (teriam sido quatro? Nem sei...) dias ligadíssima, trabalhando feito um azougue. Lembro que faxinei a casa de ponta a ponta, incluindo janelas e fios do lustre. Acho que emagreci duzentos gramas, recuperados com um copo de água.
Os anos noventa foram pródigos em dietas – e em gordos mais gordos após cada insucesso. Fiz várias. Aquela que só se come gorduras...Era um festival de linguiças, presuntos e muita manteiga. Comi um Big-Mac sem pão...Tente imaginar a situação...No quarto dia, tive um enjôo que não passava; meu colesterol foi para o espaço e a balança...Nessa altura eu não tinha mais balança. O pior disso tudo nem era a minha vontade de emagrecer. Era ter que aturar gente que chega com aquela conversa que nem magro aguenta. Os mais “gentis”, tipinho que sopra antes de morder, ainda balançavam a cabeça, “mas com um rosto tão lindo...”. Tive vontade de esfaquear vários e uma, em especial, cujo maridão me olhava guloso (me sentia uma torta de chocolate com muito chantilli e 45.876 calorias!), cheguei a fantasiar matá-la num cortador de presunto, em fatias finíssimas.
Já freqüentei uma academia de ginástica passiva. Aparelhos onde você é amarrada e eles fazem o movimento, coisa de preguiçosa mesmo. O problema é que a calcinha fica enroscada na bunda e você cheia de pêlos encravados. E não fortalece nada, além da conta da empresária.
Em algumas ocasiões cheguei a perder trinta quilos! Aí, era aquela farra: comprava roupas de biscate, abusava da lycracotton (quem nunca sonhou?), daquelas calças jeans que só saem com bisturi, das luzes nos cabelos (magras devem ser louras!) e uma agenda carregada de compromissos, jantares, almoços, lanches...Cacilda! Como se come nessa terra! Tem gente que abre a porta perguntando se a gente aceita uma fatiazinha de pudim...Com creme de leite? Já que você insiste...
Nessa história você pode incluir vasta especialização e mestrado em lipos. Pois é, fiz quatro. É isso mesmo, quatro. Tenho intimidade com aqueles tubos que sugam debaixo da pele em duas horas, o que a gente levou dois anos enfiando via oral. Seria muito bom, se desse certo. Você fica roxa feito uma berinjela, inchada, marcada. Arde feito frigideira e o calor, então, é insuportável. Você não consegue fazer nada sozinha e se fizer, enxugar vai ser uma tortura. Pior que atropelamento, acredite. Depois vem a escravidão das “drenagens”, algo que se inventou para tirar o líquido que não deveria estar onde foi parar e que, no final, vai parecer um consórcio... Você paga, paga e nunca vê a máquina nos trinques. Depois da lipo, você fica com barriga de tanquinho e bunda de piscinão, as coisas não combinam...e o pior: tem que fazer regime para sempre, meu bem. Dois anos depois você descobre que a gordura, ao contrário do que prometem, reaparece sim, só que muito maior, mais flácida, mais... Caia na real, pudim não é coisa de Deus.
Na esteira das novidades, depois de todos aqueles remedinhos controlados que me fizeram querer bater no guarda e no boneco da Michelin; conheci o Xenical, gastei uma pequena fortuna com rimonabanto, que combate a gordura abdominal (até hoje não entendi como ele “sabe” onde deve fazer efeito...), levei injeções de lipostabil direto nas gorduras (dóooooiiii muuuuuito), ingeri cascas de camarão que deveriam “segurar” a gordura no intestino (isso não pode ser uma boa idéia!) tomei centenas de frutaplan (made in China) com produtos naturais e enfim; se fosse listar tudo que já fiz, quatro crônicas estariam garantidas.E eu na cadeia, ou no hospício.
Na verdade jamais gastei tanto com outra coisa que não fosse algo para emagrecer- a não ser um bom bacalhau,claro.
Nessa última, vocês podem avaliar ao que se submete uma pessoa enlouquecida pelos quilos em excesso. Amanhã começo a caminhar, vou espiar uma academia (primeiro só de longe, tenho pavor!) e a fazer dieta, uma daquelas “coma de quase tudo mas coma menos e mande ver nas frutas e legumes”. A que ponto pode chegar um ser humano, meu Deus!
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
O que somos capazes para emagrecer!
Postado por Vera Cascaes às 11:59
Marcadores: loucuras para emagrecer
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário