Tempos atrás, fui convidada a escrever a saudação de uma turma que se formava. Fiquei me achando muito importante, principalmente quando soube que o texto seria fundo de um clip, coisa que formandos gostam muito. Atendi ao pedido e nem sei como as coisas saíram.
Arrumando meus arquivos – como se isso fosse possível- acabei relendo o texto e vi que o frescor do restinho de juventude ainda conservava a credulidade romântica que me trapalhou os planos, várias vezes. Compulsiva, acabei corrigindo os votos de felicidade e acrescentando algo que hoje sei ser fundamental à carreira de quem quer que seja.
Senhores formandos, jamais deixem que outra pessoa trate dos seus interesses junto aos seus chefes; nem sempre os mais bem intencionados conseguem dizer exatamente o que você diria. Nada (nem ninguém) substitui o olho no olho; e perder uma chance dessas, pode ser perder todas.
Lá atrás, durante a troca periódica do comando da instituição onde trabalhava, acabei cometendo esse equívoco e jamais tive uma oportunidade de esclarecer os fatos.
A verdade é que não tinha nenhuma relação com o novo chefe e, apesar de ser um tanto esfuziante, entrava num surto de timidez diante do homem sério, de voz grave e gestos contidos. Um diretor, em cujo departamento estava subordinada, gentilmente tratou de uma reivindicação fundamental na minha carreira, que tinha tudo para prosseguir na casa. Eu queria muito tocar um projeto que seria lançado em breve.
Hoje, percebo que não era o momento; o novo chefe tinha mil coisas importantes a fazer e mexer na minha sessão, que vinha dando excelentes resultados, seria inconveniente, pelo menos naqueles dias.
Talvez se eu tivesse conversado com ele, pudesse intuir que seria melhor esperar. Quem sabe mostrasse as razões de me sentir subaproveitada por ter cumprido as metas e não ter, de imediato, nenhum novo desafio. Eu queria crescer, e não abandonar o barco – e seu comandante.
Nunca soube o que foi dito. Acabei indo para um setor muito menos produtivo, passei uma enorme temporada fazendo varejo e me sentindo verdadeiramente mal.
Nunca subestime o poder de uma secretária, essa é uma relação onde só você tem a perder, portanto, muita cautela e falsas amabilidades só lhe farão bem; faz parte. A “colega” da superintendência blindou o chefe, manipulando oportunidades de encontro, filtrando telefonemas e correspondências.
Jamais consegui, sequer, falar-lhe. Um belo dia, o destino me fez dar uma outra volta e as distâncias só aumentaram. Ficou uma nódoa, um mea-culpa tardio que me faz engasgar e sem conseguir digerir.
A questão é que não suporto a idéia de ter sido mal interpretada, muito menos de ter sido evitada como fui. Adianta alguma coisa, tantos anos depois, remoer a questão? Não. Nenhuma terapia irá me curar desse cacoete de lembrar só as coisas boas dos demais e jamais esquecer meus próprios enganos. Eu me cobro todos os dias e sei que o caso nunca terá solução. Como uma tatuagem, terei que conviver com isso.
Nada disso teria sentido se não se tornasse uma exemplar história de insucesso; se ninguém pudesse ganhar algo com minha experiência de erros. Portanto, caros calouros que hoje já devem estar bombando por aí, não façam o que fiz. Procuração mesmo, só em cartório, com poderes muito bem definidos; favores, mesmo dos bem intencionados, nunca dão certo, acredite!
O meu ex-chefe? Vejo muito pouco. Quem sabe um dia possa dizer-lhe que gostaria apenas que soubesse de algo que ficou mal esclarecido, séculos atrás. Ou não. Tomamos outros rumos; as vidas e os rios não esperam, correm sozinhos.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Lá no passado...
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