segunda-feira, 12 de abril de 2010

Desculpe qualquer coisa...




Soube que uma pessoa - que sempre tive em boa conta- ficou chateada comigo, por uma razão qualquer que não consigo saber ao certo, apenas especular.
Não pense que me acho muito ocupada ou superior para tomar conhecimento dessas delicadezas, pelo contrario. Dói muito ser julgada sem culpa formada.
Dizem que a gente deve simplesmente esquecer quem decide tomar distância. Nem sempre é o caso; principalmente quando a gente já viveu mais da metade da vida, é doloroso e lamentável perder amigos por nada. Venha, sente-se aqui que vou contar uma historinha:
Faz uns meses resolvi arrumar armários e fiquei surpresa com a quantidade de coisas que comprei e que não tinham nenhuma serventia. Roupas que trazia para casa sem provar (ou para usar depois daquela dieta que nunca fiz), sapatos com saltos descomunais, inutilidades de cozinha que só servem para atrapalhar a vida. Livros de auto-ajuda, outros com mil maneiras de emagrecer em quatro dias e toda sorte de bijuterias que, em pleno domínio das faculdades mentais, jamais usaria; não em público. A maturidade tem dessas coisas, de repente nos dá oportunidade de rever as bobagens que cometemos quando ainda acreditávamos que os braços seriam capazes de acomodar o mundo e todos os sonhos adiados.
Enquanto encaixotava tudo, foi inevitável imaginar as boas viagens que teria feito sem gastar tanto com o que não me serviria, sob nenhum aspecto. E assim, me dei conta que agimos da mesma forma com o tempo, desperdiçando-o com bobagens, comprando brigas por coisas que não têm nenhuma importância; dormindo emburrados com quem não teve nenhuma intenção de nos machucar, implicando com quem não tem culpa nenhuma da vida não ser como a gente gostaria que fosse.
Entre um susto com um jeans rebordado com lantejoulas ainda com etiqueta, e um par de óculos de griffe (original, o que é uma pena!) escuro demais para minha visão, lembrei também dos que passam maior parte da vida competindo, disputando espaço, mídia, prestígio e afeto com quem, muitas vezes, não toma conhecimento da existência alheia. E finalmente admiti que me resta muito menos tempo a viver do que já vivi e que desperdiçar qualquer coisa, agora, seria loucura. Tempo, então, nem se fala.
Por isso, não liguei para a zanga de quem não quis conversar a respeito; afinal, parece que nossa amizade não valia tanto assim, enfim... E se nem lembro a razão, realmente não foi intencional. Mas mesmo sendo uma romântica inveterada, sei que existem rusgas que devem ser eternas pelo bem de todos, que nem sempre amigos são para sempre e talvez o melhor seja cada qual no seu quadrado. Também é prudente lembrar que, para quem quer riscar um nome do caderninho, qualquer vírgula é ponto, e que família é como suflê, quanto mais se mexe mais desanda.
Tempo. Mesmo sendo precioso só ele acomoda dores e mágoas, ainda que desnecessárias. Não há como apressar o rio ou o fruto que amadurece.
Tempo. Que exige uma dose de paciência enorme, que só se tem com maturidade e altíssimo grau de generosidade. Pois é generoso aquele que respeita o outro, e se mantém distante até que chegue a hora de voltar a dividir alegrias e afetos.
Tempo, que é ardiloso, principalmente com longas ausências, pois pode permitir que você se acostume com a distância, com o telefone que não toca, com o e-mail que não volta. E o que era uma grande saudade, corre o risco de se transformar em passado, enfim.
Então, eu soube que essa amiga está chateada. Talvez eu é que devesse estar, mas sabe?
Já me basta carregar essa pequena mágoa, que dói quando lembro o que já vivemos. Prefiro ficar quieta e pensar que não tenho mais tempo para essas coisas. Mesmo assim, acabei descobrindo que na vida real, nem todos foram felizes para sempre.

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