quinta-feira, 11 de junho de 2009

Meu saudoso pai

Semana passada fez seis anos que ele partiu e até hoje o sinto perto de mim. Fui até o cemitério trocar as flores e percebi que para mim, parecia ter sido outro dia que sofremos tanto naquela despedida. Não importa o quanto esteja doente, o quanto já tenha vivido e se o sofrimento nos leve a aceitar a morte como uma libertação; despedir-se irremediavelmente de alguém que se ama é uma dor enorme, que permanecerá feito cicatriz. Até hoje tenho ímpetos de telefonar-lhe quando algo de bom me acontece ou adoeço; quando preciso decidir alguma e estou insegura. Meu pai nem sempre concordava com minhas escolhas, mas me deixava a certeza de que, sob qualquer circunstância, poderia contar com o colo amigo e acima de tudo, cúmplice. Aos longo dos anos já escrevi sobre minha família inteira, incluindo meu cães e gatas, mas do meu pai apenas falei da enorme saudade. Era um ferimento que não queria expor. Hoje me pego lembrando de um velho Cascaes diferente, que só mamãe, eu, Márcia, Beth, Tavinho e nossa pequena família conhecíamos. Que era caxias, enérgico, forte, vaidoso e madrugador, todos sabiam. Mas havia um outro Octavio que nos divertia, sempre engraçado, inventando canções cabeludas (para desespero da minha mãe) e nos fazendo rir o tempo todo, soprando o ar entre os lábios frouxos quando queria demonstrar enfado. Mas ele só conseguia soltar-se assim em casa ou com a turma que se reunia anos a fio na garagem do Luciano Moraes, para o jogo de buraco regado à gargalhas, com o Raimundo Libório, Héber Monção e Mário Teixeira. A gente sabia que era ali que ele reabastecia suas energias e suportava a pressão para mais uma jornada. Meu pai era um trabalhador, um homem cuja maior vaidade era o nome que carregava, naquele porte de galã que sempre teve. Apesar de cara de mau, com as duas filhas sempre se derretia. Certa vez, quando era eu a jovem apresentadora da TV liberal, deveria apresentar o Concurso de Rainha das Piscinas ao lado do Chico César, pois naquela época, éramos o ‘casal telejornal’. A atração seria ‘ninguém mais nem menos’ que o Roberto Carlos, no salão recém inaugurado do Pará Clube. É..., faz muito tempo. Fato é que de tardinha cismei de ficar loura e claro, deu tudo errado. Saí do salão parecendo uma samambaia, com as mechas esverdeadas por conta de uma rinsagem ‘cèndre’, que eu não tinha a menor idéia que cor era. Ao chegar aos berros para lavar a cabeça (todas as vezes que tentava fazer cabelo ou maquiagem fora, lavava e fazia eu mesma, tudo de novo!) vi papai desesperado, me lembrando do mega compromisso. Aos prantos, engasgando, respondi que não iria mais ‘com aquele cabelo’. Bom dizer que papai nunca foi afeito a essas ‘coisas de mulher’, não fazia idéia do que tinha ocorrido, mas saiu, em bermudas, e voltou da farmácia com um xampu tonalizante negro (!) dizendo “Toma, filha, vê se dá para remediar!”. Claro que daria, tinha que dar! Casa lotada, quando anunciamos “ E com vocês...Roberrrto Carlos”, eu sabia que não estava numa das minhas melhores noites, o cabelo muito escuro sombreava as olheiras e estava seco feito palha. Mas tinha certeza que em casa, meu maior fã estava torcendo por mim, cigarrinho entre os dedos, anotando as falhas para depois me alertar. Esse, era o doce Tatá. Desde os tempos de colégio minha habilidade com o microfone era valorizada por conta do vozeirão, afinal, herdei os dons do astro da rádio novela Ressurreição, um enorme sucesso na época; e décadas depois ainda tinha quem lembrasse disso em plena rua. Durante meus anos de TV, me dizia o que devia ser melhorado, às vezes fazia gozação...“É, ‘fela’ (um termo só nosso) hoje tu nem gaguejaste!’ e minha mãe acudia, “Ora deixa a menina!”. Fiquei esses dias meio que revivendo nossas boas e velhas histórias. O coração apertou, não de tristeza, mas de saudade. Os olhos marejaram e eu, mais uma vez, agradeci a Deus ter sido tão feliz com a minha família.

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