quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Rosa Inglesa


Trinta e um de agosto de 97.
Nem parece que faz tanto tempo assim, mas lembro da tristeza daquela noite.Fãs de Rodolfo Valentino e Elvis devem ter sofrido assim, também.Se você não teve ídolo, que pena. Eu tive!Desde o primeiro dia em que a vi, uma criança ao colo e a saia translúcida; simpatizei com aquele olhar. Olhos tristes, pedindo afago.Quando ela casou, em 81, faltei à aula na USP, tranquei-me, enroscada no sofá, curtindo o frio de julho, olhos colados na TV em preto-e-branco que me fazia sonhar colorido.Era estudante, a espera de um conto de fadas. Eu e quase todas as jovens daqueles loucos anos 80, cuja melhor imagem foi dela.Rebelde nos elegantes cabelos curtinhos, quando o que se esperava cachos dourados. Mas não ela! Diana era a nossa Barbie, em carne e osso, linda, loura, alta, magra, simpática e triste...Exatamente como a gente imaginava que seria uma princesa.No fundo, todas nós sofremos, quando ela deu sinais que o castelo não era tão encantador, assim.Compreendemos quando passou a buscar um amor, ou melhor, quem a amasse. Como havia sonhado, quando era a menina que conheceu o sisudo pretendente da irmã mais velha. A vida tem dessas coisas, até com altezas. Poderia ter sido diferente, se o príncipe de trinta anos não tivesse se encantado pela alegria, jovialidade e graça da lourinha de dezessete. Os mesmos motivos que o afastaram dela, já sua esposa. Ah, homens são assim, mesmo majestades.
E alegria não cai bem em alguns casamentos, fazer o quê?
Não havia revista onde eu não a procurasse.Copiei cabelos e modelos, achava o máximo que o planeta tivesse um conto de fadas, uma princesa, com alma, faces, porte e atitude de princesa. Quanta tristeza havia naquele semblante, quantos desamores, quanta vontade de encontrar a pedra filosofal que transformasse qualquer pequena coisa do seu dia , no ouro que é ter um amor grande e correspondido...No meio do sono que vinha, mas não vinha, acordei com a vinheta de edição extraordinária.Passei algum tempo paralisada.Não poderia ser verdade.Ela era bonita demais, boa demais, solidária demais, triste demais, princesa demais, para ter morrido. Pessoas assim não morrem, pensei.E pela primeira vez eu tive medo da morte, pois vive cometendo enganos. Sufoquei o rosto num travesseiro e chorei .Tive vergonha daquela tristeza, que bobagem derramar lágrimas por uma desconhecida que jamais, em tempo algum, eu poderia conhecer...Não precisei disfarçar da minha filha, os olhos inchados. Desde aquele primeiro de maio de 94, ela sabia o que é perder um ídolo. Da mesma forma que eu a confortei, sem saber o que dizer da partida de Ayrton Senna, ela apenas me abraçou, batendo de leve as mãozinhas nas minhas costas. E então, orei por ela, pela nossa princesa.Tantos anos depois sei que chorei por ter descoberto que fadas e princesas não existem mais.E que sonhos são assim, miragens que o vento apaga, como uma chama.Na gaveta, num recorte de revista, Ela resplandece, o sorriso alvo, naquele espetacular vestido de veludo azul.Não me importa que você ache bobagem, todo mundo guarda a mais linda boneca e o melhor dos sonhos para sempre. (veracascaes@gmail.com)
Postado por Vera Cascaes às 01:22 1 comentários

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