quinta-feira, 11 de junho de 2009

Juntos!


Casais mais velhos me fazem pensar no que há de diferente nessa geração que permaneceu casada.Não foram pessoas desconectadas do mundo, que viveram numa bolha mofada.
Pelo contrário.Todos viajaram muito, souberam criar filhos e tentaram, com algum êxito, manter as famílias unidas...Até que a minha geração iniciou o casa-separa, enfim.
Que segredo seria esse, que mantém pessoas diferentes carinhosamente unidas apesar de tudo?A crônica de Stephen Kanitz, numa antiga “Veja”*, sobre esses relacionamentos que atravessam tempestades e saem fortificados para comemorar mais um ano, acendeu minha curiosidade.
Penso que o primeiro equívoco é achar que todos “escolheram a pessoa certa”. Isso não existe.Da mesma forma,é fantasioso crer que almas gêmeas nascem com a terrível missão de se encontrar nesse mundo de meu Deus.
Será que nenhum desses casais esteve a beira de um divórcio? É certo que sim, crises acontecem.Tentações também. Alguns podem ter cometido uma infidelidade aqui, uma transgressão acolá.
Ao que tudo indica, essa geração que hoje vive os oitenta, pouco mais pouco menos, soube preservar algo muito mais importante: lealdade.
Será que depois de casados,não apareceu ninguém melhor, mais bonito, interessante, rico, engraçado, menos carrancudo, mais fogoso, menos rígido, “mais...mais”?
Claro que sim, isso acontece todos os dias. Mas também havia lealdade aos compromissos pessoais, às escolhas feitas, apesar da vizinha gostosa e ninfomaníaca, do dentista sedutor e gabola, da amiga sacana, da falência do negócio, do filho drogado.
Penso que questionavam menos a relação e usavam esse tempo precioso para vencer a/na vida. Sim, a instabilidade dos relacionamentos é, sem dúvida, grande causa de prejuízos pessoais. E isso é muito mais do que dividir DVDs, arcar com a pensão dos moleques e comprar uma nova cama de casal.
Bem, e o que aconteceu com os netos desses casamentos longevos? Não sei, com franqueza.
A maioria já contabiliza tentativas e insucessos, ainda que com o mesmo parceiro.Esqueceram-se os pais de passar a fórmula adiante? Talvez.
Não sei se é culpa dos hormônios do frango, do efeito estufa, da falta de ensinamentos sobre como viver junto tanto tempo ou do esquecimento das coisas de Deus.
Esse segredo não nos foi dado a honra dividir, ou simplesmente não o reconhecemos esse tempo todo, bem ali, escancarado para quem quisesse, tão somente, ver.
Talvez estivesse tão evidente que tenha nos enganado, fazendo-nos até pensar “credo, não sei com ainda estão juntos. Eu? Já teria separado!”
Claro, para nossos sentidos desatentos, aquelas eram razões de cisma, de desunião; nunca a explicação para tanto tempo de parceria. E separar, ainda que muito doloroso, será sempre mais fácil do que permanecer junto. Cultivar a paciência e a tolerância, saber tornar uma relação antiga algo novo, todos os dias.
Manter aquele olhar carinhoso, apesar das rugas. Enternecer-se com elas. Amparar-se um ao outro em todas as subidas e descidas, lado a lado.
Perdoar-se mutuamente e a si mesmos por esmorecer algumas vezes.E calar.
Calar frequentemente, felicidade exige, também, que não sejamos totalmente francos. Não, não eram almas gêmeas, duas metades de qualquer coisa que se encontraram.
Apenas pessoas que decidiram que aquele amor, pequeno e frágil como todos os amores começam, esse seria para sempre, sim. Não só por causa das leis da igreja, dos homens ou da sociedade na empresa, que vai bem, obrigada, mas também porque foi assim que sonharam e vão zelar para que seja, apesar de exigir uma dose cavalar de paciência, tolerância, renúncia e, acima de tudo, inteligência.(*edição 1873 de 29 de setembro de 2004, página 22)imagem:http://www.jblog.com.br/vital.php?blogid=51&archive=2007-07
Postado por Vera Cascaes às 16:05 1 comentários
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