segunda-feira, 30 de junho de 2008

Servicinho de quinta



Que Belém hoje é uma cidade grande, com muitas atrações, não resta a menor dúvida.
E que continua sendo a capital onde se presta um dos piores serviços, também é fato; basta ver as impressões que muitos turistas levam daqui, além da nossa própria auto crítica.
E hoje nem vou falar dos sujismundos que emporcalham nossa terra, argh!
A mão de obra local continua sendo a grande culpada por tudo de ruim que acontece, pena que poucos lembrem que poderia ser diferente, se houvesse um pouco mais de atenção de quem pode e deveria ‘mandar’.
Em todo lugar, raros são os funcionários que tratam cliente como se deve, afinal custa muito usar ‘senhor e senhora’? Não sou ‘meu amor’, ‘paixão’, ou ‘amiiiga’. Não joguei peteca com a balconista nem fui à balada com o garçom, para que ele me cutuque quando quer saber se pode retirar meu prato.
Podem me achar esnobe - o que não sou- mas não suporto que me toquem sem necessidade e, apesar de ser extrovertida, não gosto de intimidade com quem não tenho. Isso é simples, cada qual com seu cada qual, ora.
A gente chega num consultório cheio de frescuras, o doutor é uma estrela de primeiríssima grandeza que atende pacientes de convênio (aquele S.U.S que a gente tem opção de pagar ou não) por pura filantropia e encontra uma atendente de tamancão, chiclete, lixando unhas com estampa de oncinha e ainda tem que ser tratada de ‘fôfa’?. Fôfa, eu não admito! Aí já é demais. Na mega loja (que já me irrita por ter pouco espaço e um monte de coisas amontoadas pelo já exíguo corredor) a vendedora, com celular grudado no ouvido, me pede que espere ‘um minutinho, tá lindinha?’. E vira-se, com o cabelão melado por algum produto misterioso, para acomodar algo na prateleira mais baixa, deixando o cofrinho (na verdade um cofrão) de fora. Decididamente estou ficando velha. E minha tolerância diminuí a cada dia, que horror.
Gosto de capricho, de qualidade, e isso meu bem, não tem nada a ver com condição financeira e sim com acesso a informação, orientação e exemplo.
Tenho vergonha desse nosso jeitão ‘bem simpático de ser’ e permitir que façam quase tudo de uma maneira pouco profissional. Já não bastasse a noiva atrasar, o cenário do evento ser montado ‘nos quarenta e quatro do segundo’diante da platéia que tem mais é obrigação de esperar; agora até padre atrasa. Dia desses, uma missa atrasou , pasmem, quarenta e cinco minutos! O coroinha (de uns trinta anos!) convocou-nos ‘a cantar’ enquanto esperávamos, ‘o nosso amigo padre fulano’, que já tinha sido chamado e chegaria, ‘mais tardar em vinte minutos’. Pode? Sei não.Novos tempos, né?
Num restaurante pretensioso, o belo projeto arquitetônico contrasta com o despreparo de quem recebe os clientes com um intimíssimo “Ôooooi? Tudo bem?”, já passando a mão na minha bolsa para acomodá-la numa cadeira.(Te conheço?). Quatro vezes pedi queijo. Na quinta , fui avisada que o cozinheiro ainda iria ralar o parmesão.
Num fast-food venderam-me stogonoff com arroz e batata frita. Quando fui receber, o inocente me perguntou o que preferia para substituir o arroz, que tinha acabado: purê ou salada? Diante da minha negativa, candidamente ele me diz que tenho ‘obrigação’ de aceitar a substituição e se aborrece.
É Belém, isso. Aqui o cliente tem ‘obrigação’ de aturar tudo, até porque sabe que podem cuspir no prato dele, lá na cozinha.
Que tem cliente mal educado, grosso feito papel de embrulhar prego, isso a gente sabe.
Meu foco aqui é outro. É justamente (como diria o Juvenal Antena) o eventual descaso de quem está no setor de serviços, em preparar -bem- quem haverá de representar sua empresa.
Se a palavra motiva, exemplos arrastam. O dia em que capacitação, bons modos e boa apresentação pessoal forem realmente seletivos, as coisas mudarão. E gestores que são grosseiros e não conseguem ser espelho para a equipe, esses também terão os dias contados.
Quem não pode que não se estabeleça.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

História de mulheres: Teté.


Pérolas falsas
Ethel era uma mulher quase fina. Não que fosse rica, mas era sempre lembrada como uma pessoa discretíssima e educada, que cumprimentava todos com aquele ‘bom diiia, como vai? E a irmãzinha?’. Ela ainda acreditava num chanel retão com pontas viradas pra dentro, e a tintura, louro escuro, era a mesma desde 81, quando resolveu disfarçar uma mecha branca.
Para complicar, usava uma volta de pérolas miúdas -falsas, claro- mas achava que era ‘salt-sea’ e pronto. Usava sapatos mocassim de paupérrimos saltos cinco, e sempre escolhia um ‘conjunto’; decididamente Ethel era quase uma chata.
Mas se existia alguém muitíssimo bem intencionada, era ela. Tão cheia de boas intenções que dava ódio. Não havia amiga que gripasse que ela não visitasse, com um chazinho inglês ou um bolo -inglês, claro- que Ethel não era de bombons de cupuaçu e esses regionalismos que jamais combinariam com o chanel retão.
Um dos seus orgulhos era só usar jóias ‘verdadeiras’; um brinquinho solitário, aliás desesperadamente solitário, só uma fagulha, uma lasquinha em cada orelha que nem brilhar brilhavam.
Todos os recém nascidos e os recém defuntos contavam com a solidariedade de Ethel, que era figura conhecida nas maternidades e na igreja onde quase todas as missas de sétimo dia aconteciam.
Até que um dia, a nossa contrita amiga errou o local de um almoço de mulheres e por essas coincidências que só o coisa ruim pode ter armado, acabou no salão onde rolava uma festinha pra lá de animada.
E ela viu, lá no fundo, o Praxedes, o corretíssimo marido que fora seu namorado nove anos antes que noivasse por mais seis; dançando com a gravata de Mickey amarrada na testa, de microfone na mão, declarando-se apaixonado por uma tal de Shirley, loura falsa, de peitões e bunda redondinha, com calça apertada e camiseta de oncinha.
Ethel ficou em estado de choque. Jamais, em toda sua santa existência imaginaria o marido numa cenas daquelas. E como toda santa tem seu dia de mingau, aboletou-se num canto, pediu quatro cubas (ela era do tempo da cuba libre) e entornou todas sem perdão.
Como era de se esperar, Ethel resolveu vingar-se do marido e do mundo e arrebentou o fio de pérolas. Ela cometeria todos os pecados, agora que conhecia a vida como ela é, tudo seria diferente. Comeria um pacote inteirinho de biscoito recheado de chocolate, compraria uma bolsa verdadeira e deixaria o carro sobre a calçada. Saiu zonza e entrou no salão de beleza. Depois de cortar os cabelos naquele modelito da Victoria Beckham, partiu para o cubículo de depilação e pediu uma ‘total’. Total, mesmo?, perguntou a Odacy, incrédula, depois de vinte anos depilando nada mais que a virilha-sobrancelhas-buço da ex comportada cliente. Total, sim! Frente e fundos! Mais explícito, impossível.
Dali pra loja de lingerie da Braz foi um pulo. Fio dental! Ela iria chegar em casa com uma daquelas calcinhas que entram onde quase nada deveria estar. Trocou lá mesmo.
A pele recém depilada lhe oferecia outras sensações. Talvez fosse coisa da sua cabeça, mas quase teve certeza que o barbudo que vinha pela Serzedelo sabia exatamente o que ela tinha feito. Sentiu um rubor nas faces, o resto já estava ruborizado faz tempo. Na esquina, ao atravessar a rua, o motorista do Sienna prata também sabia que ela estava de fio dental por baixo do novo jeans. Não perguntem como, ela tinha certeza!
Caminhou sentido-se um tantinho mais poderosa e lá se foi, meio cansada, as quatro (ou teriam sido sete?) cubas sendo metabolizadas e o restinho de juízo querendo voltar.
Entrou e viu o Praxedes, num cochilo, esparramado no sofá de xadrez. Olhou o terno preto e a gravata cinza sobre a cadeira e farejou o aroma, esperando encontrar uma mistura de whisky, cigarro e perfume. Mas o que sentiu foi a colônia que comprava a anos para o marido. Gravata cinza? Onde ele tinha enfiado o Mickey?
Enquanto pulava para baixar as calças, ele entrou no quarto e ficou boquiaberto...
-Teté...? O traseiro alvo da mulher resplandecia entre a calcinha cavadíssima e o jeans apertado. O cabelo parecia tê-la rejuvenescido dez anos.
-Tetê...? Ela não precisou de muito esforço para perceber que o Praxedes estivera ali a tarde toda e que, sabe-se lá como, ela o tinha confundido com o outro gordinho da gravata de Mickey. -Teté...você está deliciosa...!
Duas horas e muitos amassos depois, Ethel tomava uma ducha tentando entender o que havia acontecido, a cabeça pesada não ajudava. E as pérolas?
Bom, elas não combinavam mesmo com aquele cabelo.
No quarto, Praxedes ainda olhava a calcinha balbuciando ‘Adorei, Teté!...Adorei!’

domingo, 15 de junho de 2008

Decifra-a ou...



Mulheres têm o hábito de se comunicar através de códigos, principalmente com seres amados. Como paciência nunca foi meu forte, imagino o quanto é necessário para conviver com esses seres delicados, incapazes de dizer claramente o que sentem, o que querem.(A verdade é que, as vezes, a gente complica, não é ?)Não? Ah, tá, então você é mulher e sua opinião é suspeita. E como eu sei? Ora, ora...
Quem, da turma masculina, não lembra quando encontrou a patroinha calada, ignorando sua presença, numa eterna conversa telepática com algum ser intergaláctico ? O amado pergunta o que está havendo, se aconteceu alguma coisa ou se ele, tadinho, cometeu uma falta grave. A resposta é sempre “nada...”. E ela cantarola baixinho, entra e sai do banheiro sem contar os detalhes da última confusão entre as amigas, escolhe roupas sem medir sua reação e sai, com um seco ‘tchau’.
Numa viagem que deveria ser o divertimento da temporada, ela entra no carro calada, fixa o olhar lá fora e vai assim, às vezes roendo uma unha hipotética (claro, não vai descascar o esmalte) até o trevo do Atalaia.
Outras conseguem ir a uma festa e permanecer mudinhas da silva, obrigando-o a tomar mais do que o desejável só para manter a boca ocupada.
Grávidas mereciam um capítulo a parte.(Acredite, nessa fase a gente se sente quase horrível, diferente das pouco barrigudas dos comerciais, lindas e amadíssimas.) Lembre das mudanças que ocorreram no corpo dela para que você fosse um pai lindão; banque o solidário, diga que ela está ma-ra-vi-lho-sa, não esqueça dos beijos na boca (mesmo) e não caçoe dos pitis. Se fosse seu o umbigo a pular pra fora, a coluna a ficar feito bambu ou os mamilos que viraram dois cookies; sem falar no parto (áaaaiii)...Você jamais seria ‘mãe’, querido.
Lição número um, meu caro; mulher calada é sinal de mau tempo. Chuvas não são obrigatórias mas prepare-se para trovoadas.
Não fomos treinadas a falar sobre nossos temores, nossas tempestades interiores, apesar de ‘saber tudo’ sobre o que se passa com você. A gente sempre acha que é chatice e acabamos muito mais chatas ao obrigá-los a decifrar esses criptogramas ou a discutir a tal da relação. Se você prestar atenção e puxar pela memória, vai saber direitinho quando é ciúme (sempre negado, claro!), neura com a balança (que você vai jurar que é coisa daquela cabecinha linda!), alguma encrenca com a sua mãe (e você carrega os genes dela!), carência (ser mulher é estar a um passo da carência) ou TPM, mesmo (que passa em cinco dias).
Mulheres costumam dialogar (demais) consigo mesmas e inventam um roteiro para seus parceiros; por isso, não se assuste se ela estiver chateada por coisas que ‘tem certeza’ que você sente, fez ou imagina fazer. Inclusive que acha que o seu amor diminuiu, que você não lhe dá atenção, que teve a indelicadeza de tomar um copo d’água antes de cumprimentá-la e que gasta mais tempo com o poodle. Aconselho-o a nem discutir. Será muito, muito pior, tentar fazê-la pensar como gente grande num desses surtos.
Peça desculpas, reconheça sua parcela na crise de combustíveis e no aquecimento global, beije-a ternamente (se ela não estiver rosnando), chame-a de ‘menina dengosa’, ofereça colo, carinho, aconchego e tudo mais que seu preparo físico permitir; no fundo, é isso que ela quer: sua atenção. Caso ela tenha razões para desconfiar da sua fidelidade; negue até a morte. Mulheres preferem conviver com uma leve desconfiança a uma sufocante certeza, mesmo que digam o contrário ou jurem que a sinceridade é o início do perdão. Mulheres mentem, lembre-se disso.
Caso não funcione, melhor colocar as barbas (ou os neurônios) de molho. Ela pode estar de saco cheio de você. Coloque os pingos nos ‘is’ que sobraram e mostre que o terreiro ainda tem galo. Às vezes (nem sempre) funciona.
Boa sorte! De qualquer forma, você vai precisar.