quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Carta da Amante (Publicado em 30/10/2007)


"Ricardo, querido.
Faz pouco você estava aqui em casa e eu já encontro coisas para dizer-lhe.Pois é.
Hoje eu percebi que precisava ser rápida, que é necessário falar um pouco sobre a sua proposta.
Nos últimos tempos você tem sido quase tudo na minha vida. Mas esse ‘quase’ faz muita diferença.Quando dois amantes se encontram depois dos quarenta, as coisas são diferentes. Algumas são definitivas, outras, nem tanto.
Sei que, no início, cobrei muito que você assumisse a sua ‘quase separação’ da Luiza. Nossas vidas são regidas por quase, mais ou menos, assim assim...
O tempo me fez aceitar e, sem trocadilhos, ‘quase’ agradecer que vocês permanecessem casados, apesar de mim.
De repente, depois de três anos de ‘quase termos assumido nosso caso’, você me participa que ela pediu a separação e que você vem morar comigo...Emudeci. E você, claro, achou que era alegria.Não, Ricardo, não era nada além da surpresa.
Nesses anos, fui me acostumando a não ter você nos finais de semana e ‘ter que’ preencher meu tempo; como você me estimulava a fazer para não perturbá-lo choramingando saudades, num celular que raramente atendia.
Tornou-se um hábito poder sair, encontrar amigos e jogar conversa fora, certa de que você não teria um ataque de ciúmes.Aprendi a gostar da cama vazia e da exclusividade do controle remoto depois que você saia, apressado, inventando desculpas para uma Luiza desconfiada e perigosa.
Cheguei a invejar a perfeição com que ela tratava suas roupas, mesmo sabendo (ela sempre soube, Ricardo!) que você as usava com ‘a outra’. Para ser franca, eu jamais passaria uma camisa sua, mesmo que você fosse o homem mais fiel do pedaço; coisa que nunca foi com sua esposa, porque seria comigo?
Eu reclamei de alguns hábitos seus e você me disse que ela convivia com isso numa boa.
Daí passei a imaginar se ela não seria a esposa ideal para você? A esposa ideal para um amante bem tratado...Cruel? Cínico? O mundo é assim.
Eu não suportaria o tsunami que o acompanha a cada banho, toalhas jogadas num canto e cuecas que você imagina possuírem um dispositivo de auto lavagem, se amontoando no cesto.
Aa sonecas que você tira no sofá, sem camisa...querido, só no sofá dela. Costas suadas ficam bem à borda da piscina e olhe lá.
Falando em piscina, eu não sou exatamente o tipo que prepara tira-gostos e vai apanhar a cerveja, o jornal, o telefone, o Engov...Não tive marido que me deixasse esses cacoetes, eu era a amante, lembra?
Não sei porque lembrei da nossa última discussão quando você me disse que sua ‘esposa’ seria incapaz de traí-lo, numa referência clara ao fato de ter iniciado nosso relacionamento quando ainda era comprometida.
Sabe, você deixou claro que ela era o tipo ‘esposa’ e eu...Bem, eu era a sua...Ah, deixa pra lá, pelo menos eu não tenho que suportar seu mau humor de domingo.
A ‘questã’, como diz a sua senhora, é que eu levei isso à sério.
Talvez explique minha mudez nervosa quando você, senhor de si e pretensamente de mim, informou-me que passaria a ser a sua cara-metade assim que ela o colocasse fora de casa – dessa vez definitivamente.
Eu o amo demais, só não mais do que a mim mesma e isso é mais um ‘quase’ nessa nossa quase história de amor.
Prefiro ficar só, livre para passear; dormir os finais de semana inteiros é preferível a ter a companhia do Júnior, querendo montar aeromodelos na minha mesa de jantar, circulando com dedos sujos de chocolate.
Não quero ser sua mulher, você não faz meu tipo de marido, lamento. E eu, Ricardo, não sou o seu modelo de esposa, pode acreditar. Jamais concordaria que você desaparecesse de segunda a sexta, numa academia que ninguém sabe, ninguém viu.
Logo no começo, eu teria topado e estaria uma craque no suflê de queijo.
Quero muito continuar nossa relação, mas do jeito que está, um ‘quase’ casamento.
Lamento que ela tenha tomado a decisão que você adiou tanto.
Mas você é um homem forte e vai conseguir arrumar um cantinho pra chamar de seu.
Ou quase. O meu...é só meu, anjo.
Finalmente, meu amor, não se culpe tanto por tudo isso.
A ‘depressão’ que levou a Luiza a optar pela separação, chama-se João, é colega de faculdade e quase da idade dela. Quase.
Aliás, ele estava naquela excursão, quando ela foi para BH e a gente ‘quase’ decidiu assumir e morar junto, lembra? Mas acho que você, iluminado como sempre, preferiu esperar mais um tempo.
Bom, isso não importa. Na segunda, te espero como sempre, depois do trabalho.
Um beijo no seu coração,
Nádia.”

Imagem:René Magritte-OS AMANTES,
Desde que Magritte pintou os amantes, estes como por magia deixaram de ter rosto. Nos jardins, nos cinemas, no bulício das ruas é frequente ver agora homens e mulheres sem rosto, abraçados.Todavia, tudo não passa dum equívoco. Sem dinheiro para pagar aos modelos Magritte optou por cobrir com um lençol o rosto inacabado dos amantes.


COMENTÁRIOS ORIGINAIS:
Edyr Augusto disse...
Muito bom. Na medida.
Abs

Carmen (sem filtro) disse...
A-do-rei!

Embaixo d'água (Publicado em 30/9/2007)


Tomar um banho de chuva, um banho de chuva...


São doze e trinta de quarta-feira. Estou presa num engarrafamento gigante desde que um temporal enorme começou. Quase duas horas sem conseguir sair do Reduto.
Tento manter a calma – afinal, já perdi a reunião, e, com certeza o resto do dia está comprometido.
Uma caneta meio grudenta, derretida pelo sol e começo a rascunhar no verso da “Dieta da Proteína”; nunca vou conseguir fazer mesmo.
Tento imaginar o que está ocorrendo com Belém , essa cidade tão linda, que sofre tanto nas nossas mãos.
Passam boiando sacolas com lixo, numa propaganda negativa dos supermercados do bairro. Uma romaria “pluvial” de cocos, garrafas pet, laranjas, um assento sanitário quebrado, o tronco do que já foi uma boneca, caixas de papelão...
Somos todos, motoristas, lixo e ratos, ribeirinhos, ao sabor das águas que reclamam por onde escoar.
Subo no estribo do carro, tentando avaliar a situação. Atrás, um motorista de uma pick-up, dessas que fazem a gente se sentir um pontinho e eles se acharem donos da rua, grita: "Senta aí, tia, e acelera!”
Pena é que não disponho dos efeitos especiais bíblicos.
Não existe um único guarda, para colocar ordem nesse caos. Carros pequenos pifam, literalmente afogados. Mulheres parecem desesperadas e homens, muito aborrecidos.
A única coisa que sei é que não dá para fazer nada, a não ser pensar em como seria bem vinda, uma grande campanha para mostrar a nossa população, o que acontece com o lixo que despeja pelas ruas.
Engraçado é que, como todos temos um pé numa aldeia qualquer, adoramos banho; não é raro encontrar pessoas com os cabelos respingando, cheirando a limpeza. Mas com o lixo que deveria ser privado, não temos pudor ou educação e o tornamos público.
Mansões sem calçadas decentes, jogam nos “pés” das mangueiras, todo tipo de quinquilharia, casas são varridas e voam pela porta migalhas e restos dos nosso dias de porcalhões. Quem nunca viu uma boa residência , com o esgoto de pias, lavatórios e chuveiros, sendo despejado diretamente na vala, onde passam a navegar restos de arroz, feijão, macarrão e espuma de sabão e shampoo? Um espetáculo de falta de urbanidade. Desde que escoe para longe de casa...dane-se seu itinerário.
Fomos acostumados a reclamar da prefeitura “que não recolhia o lixo”. E agora, que ela recolhe? “Maiê, acabei!”
Nem se contasse com um exército de garis, jamais daríamos conta de tantos sugismundos, que aparecem em todas as classes sociais.
Sabe aquele tipo que leva a sacola (sempre ela, a infeliz) com todo tipo de restos, até o terreno baldio mais próximo e ainda acha que está fazendo a sua parte?
O caminhão vai passar ( diga-se , na minha rua, por volta das vinte e três horas...não falha!) mas para se livrar do incômodo, ele atravessa e joga o saco no canteiro, onde as ratazanas acham “de um tudo”. Na Pedro Álvares Cabral é assim. Em outras ruas, também.
Os berros de um voluntário me fazem voltar a realidade. Toma para si a responsabilidade de orientar os carros para retornarem de ré, até a Benjamim e dali, buscar a Rui Barbosa.
Uma das características “patognomônicas” do paraense é não se importar (muito) com uma chuvinha. Alunas de um colégio que tem nome de escola de teatro, passam, provavelmente ainda irão tomar dois ônibus até chegar em casa, com gripe e frieiras. Rapazes de outra escola as agridem, com palavrões e sem nenhuma razão aparente, a não ser a alegria, apesar da chuva.
Por que a falta de educação? Estou desanimada. Não com a chuva, eu aprendi a viver com o nosso clima, sou quase um anfíbio. Meu desencanto é não conseguir imaginar uma cidade melhor, enquanto nós todos não tomarmos umas aulinhas de civilidade.
Pena. Belém não merece.

T.P.N

(Chuva, de Oswaldo Goeldi)


Ao contrário do que parece, não sou esfuziante; não o tempo todo.
Tenho momentos de introspecção, ouço o que me diz o silêncio, coisa freqüente no final do ano.
É, meu amigo João Carlos, você não está sozinho nessa vontade de chorar sem motivo, nesse pensar nas diferenças, afinal, o Natal é lindo, mas nem assim deixa de ser a festa mundial das desigualdades.
E pessoas mais sensíveis pensam nisso, entre uma compra e outra.
Ontem voltava para meu bairro, o Marco. Num farol, um senhor, com roupas puídas esandálias quase ralas, atravessava a rua, sob a chuva, uma sacola com não mais de três pães.

Com uma das mãos acenava , garantindo que estaria em segurança, pedindo a passagem (que tinha direito), na faixa de pedestres.
Só a cena me fez soluçar. Era o contraste da humildade com a intolerância do trânsito, onde covardes se portam como valentões.
Chorei pela chuva, pelos pães, por nós.
Fui tomada pela solidão dos que não foram chamados para a festa do amigo oculto.
Nada é pior que a sensação de estar sobrando.
Dos que não estavam nos shoppings garimpando um presente por nem terem uma lista.
Deve ser um horror, pior do que se desculpar o tempo todo, por ter tantos a comprar que serão “apenas lembrancinhas”. Nada que se receba no Natal será “apenas” uma lembrancinha, e sim um enorme aviso, para não esquecer jamais, que alguém lembrou de você.
Tensão Pré Natalalina, esse fenômeno que nos faz derramar lágrimas e até pensar em quem adormece com fome ou dor, abateu uma amiga, exemplo de fortaleza, que pediu licença e, bravamente, chorou até borrar o rímel.
Sentia-se cansada de tentar conciliar o inconciliável, de manter-se de pé, quando a vontade é desabar.
No meio dessa roda viva de comes e bebes, mais bebes do que comes, de carros novos, DVDs, promoções, viagens para paraísos que provavelmente nem saberei localizar, encontrei uma das razões desse “tilt” que Noel traz a reboque.
Estamos todos no mesmo vagão desse trem, mas nem sempre conversamos, trocamos idéias ou sinceridades. Nem sempre pedimos licença para chorar de apreensão antes que sejam lágrimas de mágoa ou raiva.E pior, sempre existe alguém para levantar uma possibilidade do que não existe, iniciar o tricô dos mal-entendidos.
Ufa! No final do ano, a bagagem de mão está pesada e precisamos aliviar a carga. Deixar tudo num canto para iniciar o próximo de mãos quase vazias e forças para arrastar um container.
Essa é a vida moderna, tu-do que pedimos a Deus.

Só não lembramos do ônus: reuniões de condomínio, descontos nos contra-cheques, vestibular da filha amada, malha-fina, cheques que nem Ele sabe quando conseguiremos descontar, shopping lotado de pessoas indecisas, churrascos calorentos, carros estranhos na nossa vaga, o açaí que azedou...Tudo parece acontecer em dezembro!

Não existe herói que sobreviva com cara de super ou algum caráter.
Ontem eu chorei, sim. Até perder o fôlego e a paciência, que o filme na HBO estava mais interessante, e sabe?, não sou muito boa com essas depressões.
Peguei o telefone e desabafei com quem deveria, deixei fluir minhas incertezas e finalmente vi que tudo se esclarecia. Acabei com os ruídos da minha comunicação.
Não sou boazinha, pelo contrário, sou uma peste. Tenho meus momentos “Clodovil” e quando elimino alguém, é de caso pensado, favas contadas e conferidas.
Jamais voltei atrás pela certeza de saber que gangrena é caso para amputação e ponto.
Mas estou mais sensível; é o clima nublado, o calor intolerável, o céu em lágrimas e os meus hormônios enlouquecidos.
Resguardo-me feito uma ostra tagarela, isolada, mas teclando compulsivamente.Lá fora, a chuva, o calor, e a agitação, me lembram que o Natal vai chegar. E passar, amém.

A Revolução de D. Rosa. Ou Avó não é emprego (Publicada em 27/9/2007)


A Revolução de D. Rosa. (CRÔNICA)

Às seis estava de pé. Livrou-se da camisola de cambraia, vestiu o maiô, o roupão atoalhado, sandálias de borracha, sacola plástica e dois reais para o pão, “quentinho como Oscar gosta”.

O marido ressonava. Roncava, isso sim.

Na hidroginástica, colocou-se a matutar coisas que sentia há tempos, e não ousava externar. Nem pensar a sério.
Por que, bolas, o filho acreditava que seria um “prazer” recebê-lo em casa, cada vez que ele e a mulher resolviam “dar um tempo” ?

Um homem de quarenta anos ! Que fosse para um hotel!

Desarrumava a sala de costura e remontava a cama que estava na garagem, “prá levar para Salinas*”, há seis anos.

Esse era o seu território, onde bordava, assistia TV no velho aparelho preto e branco. Afinal, por que não tinha um em cores ?

O alongamento acabou.

Não foi lavar-se com anti-séptico (ela tinha horrooorrr de pano branco!)

Enxugou-se , ajeitou os cabelos, o roupão e rumou para a padaria.
Seu olhar pousou na pilha de sonhos, lindos, recheio amarelo brilhante e uma névoa de açúcar.
“Quanto é ?”
“Um real.”respondeu a moça que a atendia há...anos.
“E café com leite?”
“Um real.” repetiu.
“Quero os dois.”
“E os pães?”indagou a atendendente.
“Ficam para outro dia. Ah, é para comer aqui mesmo.” Acomodou-se no banquinho. Sentia-se eufórica ao dar a última mordida no sonho. Que os triglicerídios fossem pastar! Entrou em casa.
“E os pães?” , perguntou Oscar com cara de sono.
“Não trouxe”, respondeu.
“Como não trouxe ?”
“Esquenta um que sobrou de ontem!”.O chuveiro abafava sua voz.
“E você , não vem tomar café ?”.
“Já tomei”. Foi só o que ele ouviu. Pensou em ir lá, mas algo dizia para calar-se e procurar onde diabos ficava a torradeira.
A semana correu normalmente. Se fosse normal, ela não passar na padaria. Agora ele trazia os pães na volta do banco, onde trabalhou 45 anos e ia toda tarde saber “das últimas”. Falar mal do governo, da aposentadoria, ver a bunda das novas funcionárias, pensou Rosa. Lembrou-se de seu emprego.Desde a aposentadoria, não pisou na repartição. Seria mais fácil acostumar-se, sem ver o lugar onde vivera.
Fez-se domingo, mas não como os outros. Lá pelas treze, os filhos chegaram para o indefectível almoço, com esposas mal-humoradas e crianças.
Era sempre a mesma coisa.
Lingüiça, salame, queijo. Filé com batata frita pro Neto.. Não bastasse avô e pai serem “Oscar”, o pobre coitado é Neto. Lasanha para Jamile e o namorado, com aquele prego enfiado na sobrancelha .
S. Oscar estava nervoso. “Sua mãe está estranha .”
“Como?”
“Sei lá... parece outra .” A chegada da filha, discutindo com o marido e o bebê no colo encerrou o assunto.
D. Rosa, frente à nova TV, humildes quatorze polegadas, com o controle na mão.
“Mãe, onde estão as cervejas ? E a linguicinha ?”.
“Mãe, troca o Andrey, pra mim ?”.
“Que cervejas ? Que lingüiça ? Troca você que eu não suporto cocô de neném.”


O silêncio paralisou até o Neto, que arrastava o poodle pelo rabo.
“Co-mo?” balbucia Jr.
“Por acaso você é surdo ? Alguém me consultou sobre almoçar aqui ?”
“D. Rosa, inicia a nora magricela, nunca fiz questão de vir aqui, era para dar prazer a vocês...”
“Naraceli, minha filha , cala a boca. Eu sempre soube que vocês só vinham porque hoje, não tem empregada e é melhor comer e sair rapidinho, pois as crianças estão com sono. E a louça fica aí pra lavar, como se eu tivesse obrigação.”
“Mãe, está tomando remédio para emagrecer ?”
“ Raísa, quem se entope disso é você. Troca essa fralda que o menino está apodrecendo.E me devolve o conjunto de Corais, para usar no Bingo.”
“Onde?” pergunta a neta.
“No Bingo, Jamile. Ali, junto do motel que vocês vão...E não me tragam crianças, para irem ao Paráfolia. Eu e Oscar vamos no camarote Vip.”
“Vamos ?” indaga incrédulo Oscar.
“Chopp livre” completa.
“Ahhh, bom.” E ele era louco de discordar ?
“Mas e o almoço ?”
“Não fiz almoço! Vou comer no shopping”.
Amanda, mulher do Paulo, opina: “Acho melhor interditar...”
“Antes de me interditar, devolve o meu Vaporeto, que você levou no Círio de 2002. Eu vou fazer uma faxina na casa.E na família.”
Debochada, Naraceli provoca a sogra. “D. Rosa, tem alguma coisa que eu esqueci de devolver, além do Jr, o seu filho ?”.
“ Tem uma que você esqueceu de levar. A cama dele. Não o quero aqu, toda vez que você está na TPM”. Jr. riu e se ouviu o “plaft”, de um tapa nas costas.
“Ah! A casa em Salinas está à venda. Vou comprar um flat.” Rebuliço geral.
“Mãe, pirou? Aquela casa é...”
“Minha. E vou vender. Se quiserem comprar, organizar as férias, empregadas, exigências, incluindo tapioca com e sem manteiga, com e sem côco... fiquem à vontade.”
Paulo olha o pai . “Não me mete nisso. Vocês vão e eu fico.Até controle ela tem. Escolhe canal ...Deve ser a reposição hormonal.”
No restaurante, Berê, namorado de Jamile, arrisca: “Pô, me amarrei na tua vó. Poderosa.” Naraceli berra - “Cala a boca seu idiota!”
O tempo passou.
A casa foi vendida para o dono da concessionária, que deu um descontão no carro novo da D. Rosa. Bordô. Automático. S. Oscar, com vergonha, fez um up-grade no Gol 95 “inteiraço”.
Os almoços, agora, são agendados e cada um leva um prato. A louça... S. Oscar comprou uma lava-louças no Natal, além de uma jóia, que ele não é doido nem nada. A sala de costura foi reformada: ar, DVD e cama alta, para drenagem linfática.
O congelador agora é Frost-free. S. Oscar vai precisar. D. Rosa foi para o sul com um grupo da melhor idade.
“Pra onde a vó foi, mesmo?” pergunta Jamile colocando a lasanha no micro.
S. Oscar, responde, sem graça:“Pra Ocktoberfest.” Berê não resiste:“Aí... coroa sinistra.Poderosa!” .

* Salinas: praia do litoral paraense. (linda, aliás!)

Pra quê serve um homem? (Publicada em 27/9/2007)



Para que serve um homem?, indaga uma amiga recém-separada, alma ainda cheia dos hematomas, que toda separação nos deixa e olhos de quem dormiu pouco, ou muito só...
Ainda que a gente diga que “já foi tarde”, nenhuma relação pode ser assim, tão vazia, que acabe sem marcar passagem...
Prá que serve um homem...Até a Danusa Leão já escreveu sobre isso.
O (A?) Rudy* também ... e olha que nem é do 'nosso' time.
Primeiro, um homem serve para me lembrar todos os dias o quanto a-do-ro ter nascido mulher.
Serve também para me olhar como se eu fosse um ET quando, diante do armário abarrotado, constato que “não tenho nada para vestir”...Nada mesmo, ora!
Serve para notar, SEMPRE, cada vez que aparo três milímetros do cabelo. E me dizer que foi uma mudança in-crí-vel!
Serve para coçar minhas costas, até que eu durma “exausta”...(Bom, né?)
Serve para me dizer, todos os dias, que me ama e aquelas mentiras que fazem uma mulher feliz.
E tem que agüentar que eu repita isso para ele, de manhã e de noite, fazendo sempre cara de felicidade , como se acabasse de receber uma boa nova. Como se adorasse ouvir minhas mentirinhas.
Serve para me dizer “como está linda!”, em vez de “você vai com eeesssta roupa ? ” como nossos filhos fazem , justamente quando o moral está lá baixo e o ponteiro da balança... lá em cima .


Um homem pode servir, no mínimo , para matar nossas coleguinhas de inveja , eh eh eh.

Principalmente aquelas, que não conseguem nenhum...nunca.
(Êpa, onde está o lencinho? Algo escorre no canto dos meus lábios, será o gloss? Tss tss...)


Um homem serve também para nos dar aquela reconfortante sensação que vai fazer diferença sim, chegar uma horinha mais cedo.
Serve para ajudar a criar uma agradável atmosfera familiar, com todas as chatices que a faz, completa e absolutamente necessária e insubstituível.
Família é chato de doer, mas faz uma falta...


Um homem não pode servir apenas para uma visita erótica aos jardins, ainda que ele seja um rolling-stone...E jardim...Hummm...Que boa idéia, né?


Talvez, exatamente como a Danuza concluiu, estas jovens caçadoras de pais famosos para suas crias mantenedoras, jamais descubram o que é ter um homem que acha graça da estria que acabou de aparecer ... na SUA bunda.

E ainda que ela (a bunda!) esteja caidinha, ele vai continuar achando que você bate um bolão!
Afinal, conheceu você com celulite e não deu a mínima ...lembra?


Você sabe que "aquele" é "O" cara, quando ele teve chance de ver seus fiozinhos brancos brilhando entre uma e outra ida ao cabeleireiro, sem que você quisesse cortar os pulsos...
Ele sabe que é humano roncar, ter uma fome de leão e medo de barata.
...Ter cólica, dor de cabeça e desejos. Os mais esquisitos.
Que diz que vai ligar e liga mesmo.

Que lembra de você quando vê uma bolsa lindésima ou um chocolate crocrante.
Que oferece o lenço quando você se desidrata, vendo “Cidade dos Anjos”...E não ri da sua cara .

Que continua falando bobagens na hora do 'rala e rola'...E murmura 'meu tesão' no seu ouvido, pois sabe o efeito dessas coisinhas...
Que não baba (não na sua frente) vendo a Juliana Paes.
E que sabe que só tem todos aqueles neurônios a mais, para entender e amar a sua mulher .
* Rudy: transexual, cabeleireiro de famosos como a Suzanna Vieira, autor de livros de poesia.

Confraternização do Escritório (Publicada em 15/9/2007)










O Guia de Sobrevivência ao Natal em Família, aqui do nosso blog, saiu na frente inclusive da Veja e do Fantástico. “Toma-te”!
Essa é a época de confraternizações, das mais improváveis, e isso exige bom humor, afinal, sorrir só faz bem. Voltemos a festinha, então.
É certo que seria melhor você estar em férias, mas agora é tarde.
Vai fazer o quê, santa? Sair mais cedo? Vai pegar mal. Relaxe, são só duas horinhas.
Bom...Não esqueça de seguir as regrinhas.
Pontualidade: mais importante que a hora de chegar é a de sair. Nunca seja o último, muito menos o primeiro a enfiar o pé no balde. Amanhã, só lembrarão desses dois.
Roupas: vá como os demais. Estar muito sexy numa ocasião dessas, é cortejar o perigo e deixar o chefinho mais afoito.Ou arranjar uma clientela nada agradável, meu bem!
Bebida: calma! Nada pior do que um pileque entre amigos ocultos ou inimigos declarados.Ou vice e versa, tanto faz.
Se estiverem filmando, esqueça. Fique no suco de acerola, é mais saudável.
E pelo amor de Deus, não amarre a gravata na cabeça, você não é o Rambo nem o Daniel-san, viu gafanhoto? Gafanhoto? Acorda , Gafanhoto!
Network: aproveite para manter a rede de contatos. Cumprimente principalmente os que fingem que você já foi exonerado. Mostre que apesar da torcida contra, você vai sobrevivendo.
Lembre que, mesmo depois de tomar todas, seu chefe continuará sendo seu chefe, quando se livrar da manguaça. E vai ficar invocado, se souber que você colou um cartaz nas costas dele.
Romances: os grudentos, (aqueles que falam pegando nas suas mangas e parecem testar o tecido das suas roupas), nessas festas, costumam piorar. Mantenha o amigo gay ao lado, ele sempre será a sua melhor companhia!
Só as mulheres correm riscos? Ledo engano. Aquela senhora encalhada, que vive suspirando, vai estar cheia de amor para dar... pra você, é claro!
Vai querer? Então...
Fique ao lado da colega com o amigo gay, que são os mais felizes da festa. Assim, ninguém sabe quem está comendo quem e você se livra da marcação.
Se acontecer “um clima”, melhor não deixar pistas. Quando a ressaca acabar, vai ser mais fácil negar. E negue, querido, negue até a morte!
Amigo Oculto: não tenha expectativas. Um cd de pagode ou uma gravata do Mickey podem não ser sua paixão, mas releve, afinal, poucos vão acabar satisfeitos, mesmo.
Amigo oculto é a forma de garantir que as pessoas que não se gostam muito, se gostarão menos ainda, depois do natal.
Comida: a torta americana de bacalhau com batata palha, nem é tão ruim. O problema é que é obvia. E a Floresta Negra da mãe da telefonista, você já conhece de outros carnavais. Quer dizer, de outros natais. Entre no clima e mate a fome, para agüentar o vinho de promoção que é uma porrada, mesmo: na hora você fica tonto , depois morrendo de dor de cabeça.
Elogie tudo, afinal, são sempre as mesmas vítimas que ficam com o abacaxi de providenciar a festa, e só por isso, já merecem um abraço.
Discurso: evite, ninguém presta atenção, mesmo. Não converse quando outros estiverem falando, em especial o seu chefe. Mantenha uma boa postura e concorde com a cabeça – isso, assiiiim...Balance a cabeça como se dissesse “verdade...”, feito vaca no presépio.Chefes adoram isso.
Dança: só o convencional, por favor. Nada de boquinha da garrafa, passarinho quer dançar ou a dança do sapo cururu. Isso não dá certo.
Karaoquê: pensando bem... Será que não dá para tirar férias, mesmo?

COMENTÁRIO ORIGINAL:

Maria Traíra


Foi correligionária de carteirinha e vale transporte.
Capaz de gestos significativos, partiu com uma enorme cesta de café da manhã para estar mais próxima de um figurão, que passava por momento delicado.
Queria ter fama de útil e íntima de poderosos.
Não havia data especial em que não sacrificasse a família para estar ao lado daqueles a quem servia, com a lealdade de um cão pouco confiável.Comparação injusta, cães não votam, não traem, enfim.
Oferecia as iguarias favoritas de cada um, tentando agradar aos amos, que esses eram vários, sempre.
Aos poucos, desenvolveu a paranóia que estaria sendo vigiada, por causa das suas tarefas tão importantes. Ela sabia demais!
Ouvia clics no celular e identificava uma respiração ofegante no telefone. Tudo estava grampeado!
Era capaz de rasgar uma carta e distribuir os pedaços por dez lixeiras diferentes, e não achava isso nem um pouco estranho. Fazia a mesma operação com cartões de crédito fora da validade. Um pedaço na lixeira da sala, outro no banheiro...os demais, ía espalhando pela Arterial 18.
Durante a disputa eleitoral, listava os simpatizantes da oposição, para informar sabe-se lá a quem. A verdade é que ninguém deu-lhe muita importância ou atenção, nem aos seus relatórios estratégicos, que se multiplicavam em pastas transparentes, todas numeradas.
Quando as urnas elegeram a tal da oposição, ela surtou de vez. Acusou as amigas de corpo mole e caçou culpados. Repetia histórias mirabolantes de sabotagens e perseguições.
Parecia a doida de carteirinha da crônica do Ed, mas sem aquele charme e nenhuma veia artística. Essa era uma maluca muito chata.
Gaguejava constantemente e passava dias rasgando papéis inúteis, que chamava de documentos sigilosos.
Uma tarde, ao carregar a bandeja até a casa de um dos seus tutores, descobriu que lá já não havia ninguém, há mais de mês.
A família tinha viajado para Fortaleza, onde já estava instalada na praia de Iracema, sem deixar o novo telefone.
Sentiu-se órfã, de repente.
Não haviam dito até logo, obrigado ou qualquer coisa simpática.
Logo com ela, que era quase da família. Mas “quase” é que faz a diferença, queridinha!
Ficou uma semana em estado catatônico, até que amanheceu com um novo gás, uma nova energia e um brilho estranho no olhar de Pedro Collor.
Achava que Deus havia lhe enviado “sinais” e que agora sim, ela entendia todos os acontecimentos.
Colocou uma camiseta branca sobre o jeans e rumou para a loja de cds, buscando um exemplar de “Vermelhão”. Na volta, procurou o livro da Marilena Chauí e do Frei Leonardo Boff. Na agenda, os contatos dos companheiros.
As lentes cor de hortênsia foram para a gaveta, junto com quilos de correntes douradas e os escarpins de salto agulha. Ela agora era uma nova mulher. De tênis.
Sabia tudo sobre distribuição de renda e pretendia fundar a ONG Mulheres Abandonadas Empreendedoras do Jurunas e a Associação dos Comerciantes da Rua do Arame com Passagem São Benedito.
Deixou de freqüentar o La Vie en Rose e tornou-se íntima da muqueca da Apinagés, sempre despojada, com o look “crédito universitário”, brinco de pena e cordinha sebosa no tornozelo.
Na última vez que a vi, estava provando um terninho branco, com camisa vermelha.
A filha comentou que parecia o Zeca Pagodinho.
Mas ela suspirava, “Vou para Brasília, minha filha, me aguarde”.

COMENTÀRIOS ORIGINAIS:
26 de Setembro de 2007 20:57
tania_guimaraes3 disse...
Vera, achei essa sua "Maria Traíra" muito parecida com algumas muitas de nossas conhecidas... rsrsrsrsrs!!!
Mas independente de qualquer coisa, vc está de parabéns! É a primeira vez que acesso seu blog e já virei freguesa assídua viu?!
Beijos, beijos...

Tânia Guimarães

Com ou sem pimenta? (Publicado em 7/9/2007)


Querida “Dona de Casa”,
Perdoe-me a demora, mas realmente não sabia se deveria responder seu e-mail.
Conselhos, você bem o disse, é coisa para profissionais ou quem nos conhece muito bem.
Não me encaixo em nenhum dos dois, minha coluna não trata de relacionamentos, não sempre. Entretanto...Posso ser absolutamente franca com você e isso talvez a ajude.
Você se queixa da falta de tempero no casamento e, como toda esposa entediada, culpa o maridão, o que, convenhamos, é muito mais fácil mas não resolve nada.
Cá entre nós duas: quase sempre a mulher detém as rédeas dos relacionamentos e só não exerce esse poder por medo, insegurança ou desconhecimento, mesmo. Ou por tudo isso, compreende?
Você me parece muito preocupada com ‘o que ele vai pensar’ desses seus desejos...Como se fosse um desconhecido.
A maioria dos homens agradeceria aos deuses do olimpo se suas esposinhas deixassem o avental todo sujo de ovo numa gaveta, quando eles colocassem os pés em casa. Pelo menos quando as crianças já estivessem dormindo, sacou ?
Todo mundo tem seus macaquinhos no sótão. Se não os deixa livres, de vez em quando, um dia começam a quebrar tudo;daí, ...Bem, essa parte você já conhece.
Vamos ao que interessa.
Parta do princípio que ele também deve estar saturado desse relacionamento ‘diet’, morno e previsível, depois de dez anos.
Como diz a Ana Maria Braga: Acorda, mulher!
Muitas de nós valorizam tanto essa coisa de reputação, querem tanto o cetro de mãe, esposa e dona de casa perfeitas, que acabam sacrificando a porção ‘safadinha’ que todas temos e que deve ter encantado seu homem, tempos atrás.
Você detalhou (com esmero) tudo o que sente falta ou gostaria de experimentar. E eu pergunto, amiga: ele sabe disso?
Tímido, com a sogra morando junto (isso é grave...), e toda essa carga de ‘moralidade’ que a família (você, inclusive) impôs, de repente ele pode estar abafando as próprias fantasias, deixando de erotizar o que já deveria estar ‘pegando fogo’.
Ele vai adorar ouvir, baixinho, o que e como você quer, acredite!
Compre sim, a calcinha fio-dental que ele adorava e você jogou fora, com medo da sua mãe ver. Afinal, você ainda é uma adolescente ou já cresceu? Se ela remexer suas gavetas, merece encontrar bem mais do que um indício de que a filha vai muito bem, obrigada.
Outra coisa: celulite é coisa que só mulher presta tanta atenção. Mesmo mais gordinha, você continua sendo a mulher dele, agora...de ‘calçola’, sei não, não tem quem agüente. Conforto tem limites, queridinha!
Lembre: quando os dois gostam, qualquer coisa é mais que bom, é ótimo!
Não perca mais tempo e faça um favor a você mesma: corra para o salão, pinte as unhas do vermelho que ele adorava...Capriche da depilação, não esqueça nada.
Tire os shorts e a camiseta decotada da gaveta, tome um belo banho, use a tal colônia que ele sempre lhe presenteava. Um gloss, duas gotas e veneno e não mais...
Desligue a TV e troque a cor da lâmpada do abajur.
Tenho certeza que ele entenderá os sinais.
E vai adorar que você assuma o comando dessa nave.
Você sempre soube como fazer as coisas, meu bem, só falta um pouco de...apetite.
E fala sério, quem teve gêmeos precisa de coragem?
Assuma sua porção ‘quenga’ sim, e daí? Pense bem, isso é só entre vocês.
E só para a gente rir um pouco...Você realmente acha que as outras não têm fantasias, fetiches e essas coisas que mulheres saudáveis têm e a-do-ram?
A diferença é que algumas as colocam em prática e outras...Bem, essas passam a vida aprimorando outra personagem, enfim.
Sua pele vai ficar ótima e ele...Ah, depois você me conta!

Adoro Casamentos (publicado em 5/9/2007)


Não existe ser humano que, em algum momento, mesmo em passado remotíssimo , não tenha pensado em brindar um grande amor, com a maior prova de que a paixão é avassaladora.
Casar-se, desejar estar ao lado do outro pela manhã, quando só as atrizes da Globo são encantadoras; dividir os maus momentos, já que os bons são moleza; não existe declaração maior de amor. Que sobrevive, mesmo quando o divórcio chega ou a gente cai no mico de dividir as tralhas, cds e -isola pé de pato, mangalô três vezes- pode cometer o despautério de trocar farpas e injúrias. Depois passa. (Depois que ambos estiverem namorando e felizes!)
Fica aquela boa recordação, já que pessoas inteligentes deletam tudo que não valha a pena ser lembrado, amém.
Todo casamento é para sempre, não importa o quanto dure, essa é a verdade.
E porque não comemorar, com a pompa e a circunstância que o momento exige? Por causa daquelas pessoinhas medíocres que irão comentar “De novo?”? Porque você ainda não tem certeza de que ‘esse’ será para sempre?
Ora, vá logo reservando o salão. Essas criaturas infelizes vão falar de qualquer modo. E quer saber, as encalhadas, que não casaram uma vezinha sequer, são as que mais se incomodam com quem é feliz. É compreensível, não? Elas lá, numa secura to-tal e você aí, lindésima, distribuindo sorrisos e convitinhos...Releve, meu bem, releve.E ore para Santa Rita que ela é chique, poderosa e merece, viu?
Pode anotar; ninguém tem certeza se o “sempre” vai durar mais que o barzinho da hora ou o botox da Marta Suplicy.
Faça como a ministra, lembra? Ao contrário, claro, ela é sexóloga mas você é esperta,
Os chipanzés, os golfinhos, os leões da montanha, Romeu e Julieta, John Lennon e Yoko, os cowboys de Brokeback Mountain, a Ellen de Generis e a Anne Heche, e até Charles, um quiabo, e a Camilla, uma osga; a Luana Piovani e Rodrigo Santoro, a Luana Piovani e Dado Dolabela, a Luana Piovani e o Ricardinho Mansur... E o Rodrigo Hilbert, e o Marcos Palmeira, e o Caco Ricci, e o Paulinho Vilhena, e o Cristiano Rangel , e o Guilherme Fontes (ninguém é perfeito!), e o João Paulo Diniz, e o ..(Ah, a fila anda!Mas pra ela anda numa velocidade...só embarcando nesses aviões, não é mesmo?)
O certo é que todos, um dia, se apaixonaram. Nós também, né?
Se já encontrou alguém que balança a cristaleira e faz sua pele ficar di-vi-na...Aproveite. Quem ou o que é, só diz respeito à você, acredite!
Moda, nessas alturas, faz quem pode. E só pode, mesmo, quem é feliz, querida!
Que interessa se você estiver madura para um vestido branco com um baita véu? Isso é bobagem. O que importa é o que você quer, é o seu sonho, o que faz os olhos brilharem, apesar do cerimonial, apesar do preço do bacalhau e daquela banda que agora “se acha”.
Não importa se o casamento dos seus sonhos incluía uma produção estilo Vegas com Elvis Presley cover como testemunha. Um luau com tochas e muitos abacaxis. Uma daquelas superproduções dignas de duas páginas sociais, cascatas de bem casados e outros ti-ti-tis.
Ou uma reunião íntima, com os amigos mais chegados dançando todas dos anos oitenta e muitos beijos rolando no salão.
Ou continuar namorando e ficando, sem se preocupar se vai ser na sua ou na casa dele.Casamento é isso, é estar de bem com alguém.
O que importa é o que você quer, o que faz os olhos dos dois brilharem, apesar do cerimonial, apesar do preço do bacalhau e daquela banda que agora “se acha”.

Parodiando Ang Lee, o amor é uma força da natureza. O resto? Não tem a menor importância. Tim-tim!

Meu vestido inesquecível



Naquelas ocasiões que realmente marcam a vida da gente, eu não estive exatamente bem vestida; pelo menos não como tinha imaginado. Mesmo assim, minha natureza um tanto Pollyana (aquela menina chata que sempre acha um lado bom, em qualquer tragédia), me permitiu curtir, como se estivesse chiquérrima. Depois, enterrei as fotos para esquecer os modelitos e uma certa frustração, enfim.
E já nem lembrava daquele vestidinho curto, que aos olhos alheios nada tinha de especial; mas que, ao recordar, me encheu a alma de emoção. A memória afetiva tem desses caprichos; deixa tudo num lugarzinho seguro para, sem mais nem menos, lançar seus foguetes luminosos sobre uma noite de insônia e inferno astral.
Num desses seriados de adolescentes americanos que passam durante a madrugada, a mocinha usava estampa de morangos esparsos sobre fundo azul. De repente, era década de 70 e eu, uma menina metida à mulher, toda “se achando”.
Nessa época, meu pai ‘estava’ prefeito e, ao contrário da maioria, para nossa família essa era uma boa razão para as comemorações serem mais discretas ainda, discretíssimas; quase um sussurro. Isso era um martírio, de discreta nunca tive nada e flash era tudo de bom. Fui informada das comemorações aos meus quinze anos: missa em ação de graças e, no domingo seguinte, uma fei-jo-a-da! (E eu, sonhando com boate, My Sweet Lord e Only You..., que coisa!) Daí seis meses, debutaria na Assembléia Paraense -alguma coisa tradicional haveria de viver, mesmo que me soasse estranho...
Mas que adolescente quer festejar qualquer coisa, comendo feijão com amigos dos pais e meia dúzia de meninos magricelas? Pois é. Meu traje festivo seria quimono sobre o biquíni, que pelo menos podia usar com certo orgulho, amém.
Mas foi na missa, sob o olhar do Cônego Ápio Campos, que aconteceu a redenção. Do figurino, bem entendido. Meu vestido inesquecível tinha um sóbrio azul marinho, com saia curtinha bordada com pés de morangos floridos, aqui e ali. Rebelde com ou sem causa, eu exultava por não estar de branco ou rosa, ufa!
O modelo, minha mãe achou numa revista; como era a parte mais especial do evento, dedicou-se com delicioso afinco para que saísse exatamente igual. Confesso que nem era uma coisa do outro mundo, mas hoje sei exatamente o que o fez permanecer, para sempre.
Eu simplesmente adorava estar sendo cuidada, paparicada pela minha mãe, que me levava até a casa da D. Isolda Maués para três ou quatro provas e imaginava mais isso e aquilo. E no final, nem sei como conseguiram materializar um buquezinho, igual às estampas, para enfeitar o ombro.
Eu era do tipo despachada, escolhia roupas e, mais adulta, foi pelas mãos da saudosa tia Carmélia – uma das modistas mais respeitadas da terra – que “me achei” de verdade e me vinguei das fotos que mereceram retoques. Aos quinze, ainda bancava “a tal”; mas esqueci a rebeldia e tratei de aproveitar o “colo” que veio a reboque do vestido, tem coisa melhor?
A missa, a feijoada -que foi ótima- o poster do Studio Oliveira, a foto no Isaac; na minha memória, essa foi uma época de total felicidade, absolutamente perfeita. Irretocável.
Sem aquela humildade que a educação judaico-cristã tentou me incutir -em vão- garanto que, além de felizes, éramos uma troupe linda de viver!
Quando essas recordações me tomaram, fui até o velho álbum. Meus pais, que sempre foram discretos, faziam um belíssimo par, que as pessoas paravam para admirar. (Disseram-me que a Carminho era “a cara” da Jackie Kennedy. Bobagem...Sempre foi mais bonita! E o papai era, como se dizia, um p-ã-o!) Eu e minha irmã, de nariz perfeito e maravilhosos olhos cinza-azul-esverdeados (até hoje, poucos sabem exatamente a cor dos olhos da Márcia) aparecemos sorridentes e felizes, num dos bancos da capelinha de Santo Antonio de Lisboa. Eu nem tentei disfarçar a enorme satisfação, dentro do meu melhor vestido, no meu momento mais que inesquecível. Há exatos 37 anos. Tim tim!