sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Depressão



Lá pelas tantas você não sente mais vontade de fazer aquelas coisas que a animavam tanto. Não passa mais três horas rodando pelo shopping, para aproveitar a liquidação e comprar alguma coisa que precisava muito e ainda nem sabia. Até pensa nisso, mas não encontra ânimo para caminhar. E a TV, com aqueles séries que passam os episódios de todas as temporadas ao mesmo tempo, repetidas vezes, é sua companhia mais constante. Você quase pode recitar os diálogos da Dra.Grey.
Nas noites em que o desejo por aquele risoto de bacalhau a pega pelo pé e pelo estômago, em vez de trocar um pretinho básico e correr para o restô favorito, você acaba de moleton, num desses supermercados 24h, garimpando os ingredientes da diversão do dia. Faz o próprio risoto, que acaba saindo delicioso; come sozinha novamente em frente à TV cuja imagem é só chuvisco.
Já nem lembra desde quando sabe quem ainda tenta telefonar-lhe. Para não correr riscos de atender um intruso, alguém que possa entrar ‘de penetra’ nessa sua ostra, deixa tocar e depois devolve a ligação para os poucos com quem ainda fala. Se for um deles, muito que bem. Se não for, melhor não ter atendido, mesmo.
Quando fala de si, de alguma coisa que vai lá bem no fundo, nem sente que chora; as lágrimas apenas rolam dos olhos ardidos e o peito parece estalar, sob um colete de aço que não a deixa respirar.
Mágoas? Sim, você sabe que as tem e que, como os cães levam as pulgas aonde vão; você as carrega, jurando que já perdoou a todos, inclusive a si mesma.
Hummm...
Isso tudo, essa tristeza sem fim e sem uma razão clara e justificável; essa decepção com tudo e todos, essa sensação de ter ‘sobrado’ e de estar ‘mais só do que nunca’, isso tem um nome e é o mal da década: depressão.
Apesar de atingir 22% dos paulistas, (segundo pesquisa da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e do Ibope); apesar de há mais de uma década, ter deixado de ser um mal que acometia os idosos e acometer 121 milhões de pessoas no planeta, tenha certeza que, ao saber que está depressiva, sua família vai achar que é bobagem, frescura, nervosismo; ou fingir que não é nada, afinal, poucos sabem o que fazer com alguém que foge dos padrões da ‘normalidade’ e se torna inconveniente.
Para cada homem deprimido (principalmente após a aposentadoria), duas mulheres estarão, também, doentes ‘da alma’.O interessante é que nós, as mulheres, sabemos exatamente como curtir a vida quando não precisamos mais trabalhar. E mesmo assim, nos quedamos impotentes, diante daquela tão conhecida onda de desânimo e da enorme e tentadora vontade de simplesmente desistir. De tudo.
Hormônios, famílias cruéis, decepções, brigas, desemprego, aumento de peso, traições...Enfim, as causas práticas podem ser inúmeras, mas são sempre, só o ‘start’, o mecanismo que desencadeia esse processo doloroso do qual é tão difícil sair.
Muitos vão aconselhá-la a ‘reagir’, como se isso já não fosse a razão de ainda estar viva e vestida. Outros, cochicharão às suas costas, mas não o suficiente para que você não perceba o quanto seu banzo atrapalha a radiosa felicidade dos demais. Os alegres de plantão odeiam imaginar que poderia ser um deles.
O que fazer?
Sinceramente não sei. A única coisa que me ocorre é vomitar que estou deprimida sim, muito; que não sei por que não quero ir ao parque, à academia ou à rua; não tenho vontade de estrear aquele vestido verde carésimo que envelhece no closet. Que ignoro o caminho de volta e que me sinto viúva de mim mesma, carpindo meus dias nesse velório interminável, ansiosa por poder sepultar meus fantasmas.
Tentei livrar-me da bagagem, rasguei documentos antigos, velhas agendas que me provavam, em cada página, o quanto já fui feliz.
Comprei discos que pudessem me fazer dançar e amarrei maços de canela pela casa. Fui à missa, à novena e tomei uns passes. Li sobre transtorno bipolar, sobre reencarnação, consultei o tarô e o oráculo. E tomei meu Prozac, sabendo que aquele ‘up’ artificial me deixaria muito pior quando se fosse...
E voltei aos banhos longos, sem nada para fazer depois que estivesse cheirando a Paris, (o perfume ‘cafona’de outras lembranças) e quem sabe?, cozinhar aquele risoto que ainda tenho tanta vontade de comer...,diante da TV.
O mundo só nos aceita de bem com vida, lindas, magras, louras e risonhas. Não há espaço para a sua tristeza, não importa quanto ela dure, viu?
A sua depressão, a minha depressão, isso não é assunto para o café da manhã. Nem para um jantar qualquer. Faça como tantas famílias ‘de bem’, finja que nada vai mal.
Antes de fantasiar mais uma vez como seria o próprio funeral, um aviso: não vai adiantar nada, ninguém vai se comover com sua dor. Melhor levantar-se e procurar um bom médico,
um psiquiatra que não seja maluco, faz favor. E um terapeuta. Acredite, depois de falar para alguém que está preparado para ouvir, será muito mais fácil respirar, ufa!
O Prozac? Não, não quero mais nada disso, quero minha velha e boa alegria de viver, que aliás, também incomodava bastante.
Não tenha vergonha. Depressão é algo que não se pede para ter. E um dia a gente se cura.
Conforta-me saber que serei eu mesma, melhor ainda.
Já outros males, ah, esses são de caráter mesmo, dificilmente se cura.

Um comentário:

FaBiaNa GuaRaNHo disse...

Oi Vera,
Tudo tranquilo?
Andas meio sumida, mas tenho sempre lido seus blogs.
Parabéns
Me visita lá no meu.
Seria uma honra.
Bjinhos