domingo, 13 de julho de 2008

Porque somos mulheres...Mea culpa



O tempo passa e vasculho a vida com um novo olhar. Não existe nada velho ou mofado nessa espiada que envelhescentes lançam no próprio passado.
É interessante como cometemos os mesmos enganos em vez de aprender com erros alheios; precisamos das experiências equivocadas, dos nossos hematomas e algumas vítimas.
A juventude nos faz intolerantes. Quando iniciamos relacionamentos que desejamos duradouros, agregamos hobbyes, paixões, amigos e até cacoetes do amado.
Sem resistência adotamos a mesma pizza, música, e, até, aquele timinho de futebol. Com sogra, ninguém tem problema no começo, não sem já ter estabilidade no serviço.
Não é falta de personalidade, é apenas “modus operandi” feminino, querida. E é claro, nem todas agem assim. Só a maioria que pensa que, por ser jovem terá tempo de sobra para errar, enterrar grandes e pequenos amores e, quem sabe? Recomeçar e cometer as mesmas sandices. Pena. Hoje, tempo é tudo que eu queria ter de sobra. E não o perderia com erros tolos.
Não existe novidade nas histórias e crises amorosas. Só muda a música, no mais, o roteiro é o mesmo, desgastado e pouco interessante.
Só nós cometemos erros? Não, meu bem, mas hoje estaremos na berlinda, relaxe e aproveite, como diria a Marta.
Caso é que, depois daquela temporada de ‘somos almas gêmeas e eu sou muito legal’, vem a sensação de estabilidade que é o primeiro passo para a insuportável certeza de vitaliciedade. E essa é apenas um delírio, inclusive em Buckimham.
Pombinhos juntos, familiazinha criada, a mulher se torna muito, muito espaçosa.
Culpa da sogra que, ela garante, nunca a aprovou. Hummmm. Lembra daqueles aeromodelos que vocês montavam juntos? Hummm...Pois é. Estão na casa da mãe dele, junto com os Puzzles que você deixou de fazer porque ocupam a mesinha da sala. Da sua sala. Ah, tá. Dá para entender, não é?
E a coleção de gibis? Pouco espaço, os apartamentos são minúsculos, como acomodar essas inutilidades mais seus sapatos e suas bolsas, afinal são a sua razão de viver. Ou quase, vá lá. Em alguns lares bem amplos, escritório masculino é ficção. E espaço perdido, não é mesmo?
E a bancada do banheiro? Uau, como são exíguas. Temos tanta coisa para deixar lá (e usar pouquíssimo) que mal sobra espaço para ele, que tem escova de dente, barbeador, espuma, perfume. Ora, perfume pode ficar no guarda-roupa, perto dos lenços, é mais prático.
Na geladeira, tem tudo que gostamos afinal, será a dieta dele também. Melhor que seja!
Os amigos, amém, ele conseguiu manter a duras penas e, não se espante, depois de alguma negociação, com transferência de ativos e passivos. Pra você claro.
Sabe uma coisa que sempre me intrigou? Mulheres têm amigos, homens (quis dizer héteros), outros amigos gays, uma porção de amigas pouco confiáveis e aquelas que valem ouro. Saem com a própria turma, sem os maridões; atendem ligações de celular e correm para um canto discreto; ficam horas penduradas na Internet...Mas se consideram acima de qualquer suspeita ou crítica. Já imaginou o que aconteceria se seus homens fizessem exatamente a mesma coisa? (Nem tente, há indícios que foi assim que os problemas no Oriente Médio começaram...).E se ‘eles’ trocassem abraços afetuosíssimos e cheiros no cangote, com uma mulher, bem na sua cara e depois, cândidos, dissessem que não importa, pois era apenas mais uma gay (e nem dava pinta, né?) com quem se relaciona, num grau de intimidade que beira o...Incesto? Sei lá.
Não estou reprovando nada disso, amiga. Cal-ma! Apenas e tão somente fico aqui matutando como seria se ambos tivessem, sempre, os mesmos direitos, pois é fato que não têm.
Saímos com eles, comemos um filé a Paulo Chaves e ainda abatemos um Petit Gateau (Aliás, essa sobremesa é pior que herpes, em qualquer lugar tem, que coisa!). Mas poucas vezes nos sentimos no dever (nem diria obrigação) de dividir a conta, afinal, estamos dando ao Romeu a honra de uma companhia agradável e salutar. Será?
É, meu anjo, eu realmente fiquei velha. Mas o ranço que me incomoda não vem de hoje, dessa nova maneira de ver e acima de tudo, de olhar. (Com o tempo, você aprenderá a diferença.) Vem dos cacoetes, dos modelitos fora de moda e de tudo que, sabidamente, vai dar errado.
Vejo sim, que é da natureza feminina esse viés egoísta e egocêntrico, que só tempo ameniza, tornando-os menos incômodos. E a nós, um pouco mais parceiras.
Talvez isso não explique porque homens mais novos estão, cada vez mais, experimentando mulheres mais velhas (Bom, as mais jovens estão penduradas nos melhores coroas da cidade!).Mas me faz entender que muita coisa poderia ter sido diferente...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Meu anjo


Lembro-me tão bem daquele monte de novos sentimentos que me acometeram quando me tornei mãe. Olhava aquela coisinha de bochechas rosadas e cachos castanhos, dormindo placidamente, absolutamente confiante que eu resolveria tudo.Eu, que ainda me sentia filha, mais filha do nunca, tinha ali um planeta inteiro cochilando nos meus braços e que dependia de mim. E eu estava a-pa-vo-ra-da.Agora eu não era mais uma só. Eu era duas. Tinha alguém, pra sempre.Senti-me perdida, incapaz, incompetente, imperfeita e ignorante. Poderosa.E ela dormia. Tranqüilamente. Não tomava conhecimento do meu desespero, dos meus quilos a mais e sono de menos.A Margareth Tatcher aparecia na TV, olhar compenetrado, falando sobre o destino de grande parte do mundo. E eu imaginava que mais difícil era entender o que aquela coisinha queria dizer com seu choro fora de hora. Tentava t-u-d-o.Era uma estranha, um ET que fazia um cocô grudento e que sei lá por que cargas d`água, eu limpava o bumbum rosado com a dedicação de um Michelangelo retocando sua madona. Comecei a achar interessantes, as coisas mais maçantes. Devia estar pirando.A estranha foi se tornando tão íntima que até os cheiros mais diferentes eram tão agradáveis que não me furtava de absorvê-los em quase êxtase. Logo após o banho, era o cheirinho do bebê, algumas horas e duas golfadas depois era um azedinho tão pessoal que eu reconheceria em qualquer lugar. O pezinho tinha outro cheiro... E aquela estranha foi se comunicando comigo. Eu já sabia exatamente o que ela queria, como e quando.A novata ficava ali, deitada, me olhando. Era poderosa, a pequenina. Dependia de mim para tudo e sabia que estaria ali, sempre. E dormia tranqüilamente enquanto eu levantava várias vezes para ter certeza que respirava e que o coração estava batendo certinho.A estranha foi crescendo e ficando a minha cara. E cada vez menos estranha.E em vez de duas, acabamos nos tornando uma só. Esses seres celestes têm muito poder.Vinte e cinco anos depois ainda vou ao quarto, todos os dias, em plena madrugada, só para ver se ela está bem. Acaricio os cabelos e procuro um cachinho que o anjo da guarda deixou de lembrança, da época em que aquele ET veio do céu para me tornar uma pessoa melhor.Todas as noites busco seu cheirinho no pescoço, nas costas. E repito acalentando o sono tranqüilo: “você é o meu bebê e a mamãe a ama muito”. Agradeço a alguém lá de cima que achou que eu devia aprender alguma coisa boa e me mandou uma estranha, cheia de cachinhos, com carinha de boba e um mundo inteiro nas mãos.Não existe um ‘dia mães’, todos os dias esses sentimentos tomam conta de nós, invadem nossas agendas, provando que ser mãe é ter paciência, é aprender a pensar por três e mudar de idéia de vez em quando.É saber que improvisar não é falta de planejamento. É sabedoria.É confiar, ainda que o mundo tente nos fazer incrédulos. É tentar dormir enquanto eles não chegam, e, acima de tudo, sentir o coração transbordando de um amor indescritível quando lembramos daqueles cachinhos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Perdão pelo Palavrão !




Chego à conclusão que somos muito tolos e até um tanto hipócritas. Não?
Já faz um certo tempo que não existe assunto ‘proibido’ na mídia, numa conversa de bar, num papo de sala de espera. A última criança atirada pela janela, o político flagrado com montanhas de dinheiro de propina, soda cáustica no leite, bebês morrendo, a ex BBB porca que posta um vídeo soltando um...(como diria sem ofendê-lo, Senhor?) um... ‘pum’ (perdão!) e tantos outros descalabros; daí tinha certeza que quase nada seria ‘mau gosto’. Engano meu! Continuamos com uma cabecinha bem pequenina e ainda aceitamos que assuntos da maior importância para homens e mulheres continuem no arquivo dos confidenciais; ou seja, a gente finge que não existem e vocês fingem que vai tudo bem, obrigado.
Aposto dois contra um que sua mente perigosa acreditou que falaria de orgasmo, opção sexual, prazer e coisas assim, bem pessoais. Enganou-se, meu caro Degas, é muito mais escancarado do que sua munheca, que aliás não me interessa, mesmo!
Próstata! Útero, ovários, trompas! Shiiiii! Olha o palavrão! Respeito é bom e todos gostam...Ah, isso lá é assunto para conversar à mesa?
Pois bem, hoje acho que é.
Faz um tempinho perguntei ao amado leitor como ia sua próstata. Que? De quem? Hein?
É, aquela coisinha que você insistia em fazer de conta que nem existia, mas sua mulherzinha lembrava, dia sim, outro também, que estava na hora de dar a ela, à coisinha, a atenção merecida. Choveu e-mail de esposas furiosas com essa mania que homem tem de tratar a própria saúde como quem não tem nada a perder, deixando que ela, tadinha, cuide da família inteira!
A Fátima Bernardes teve um problema na mama (não fique ruborizado, querido, ‘mama’ toda mulher, até sua mãe, tem!) achou que era hora de divulgar o tema e muitas brasileiras correram para aquele exame com a coragem tipicamente feminina; pode doer, mas a gente prefere prevenir.
Nunca a informação foi tão fácil para essa camada (cada vez maior) que tem acesso à Internet. Sabe-se a tabela do campeonato espanhol, o vencedor da loteria da Malásia, ou quem caiu na malha fina...Tudo na ponta dos dedos.
Entretanto, continuamos evitando os palavrões, aquelas ‘coisinhas’ que nos incomodam muito, simplesmente porque existem.
Por essas circunstâncias da vida, eis que cheguei ao momento de aliviar minha carga e deixar, no meio do caminho, útero, ovários e trompas. (OK, sua mãe também tem. Ou tinha, tanto faz!) Sexta-feira, sofri a intervenção cirúrgica que me livrou que alguns males e, certamente, evitou outros muito piores.
E apesar de todos os avanços, das ferramentas capazes de nos colocar par e passo com o que acontece no planeta, tem quem insista no que ‘já foi’ e ainda acredite em idéias mofadas. Ouço consternada, um cidadão me falar que infelizmente os médicos deveriam ‘pensar antes de encerrar a vida útil (que horror!) de uma mulher tão jovem...Como a dele.’ Entre a luz da informação e a sombra da ignorância, ele prefere abrigar-se no conforto daquela que talvez o faça ‘entender’ a razão de uma vida conjugal pouco prazerosa. Mais fácil culpar a medicina ou a mulher ‘amputada’. Coitado.
Não se trata de alguém ‘simples’ como você podia supor, mas de uma pessoa que se colocou convenientemente distante da realidade. E muitos repetem esses mitos, dificultando o acesso à saúde; seja do homem que precisa tratar a próstata e vive atormentado por fantasmas que existem graças aos ignorantes, seja de mulheres – inúmeras – que necessitam de uma cirurgia, mas sabem que os tabus sobreviveram aos pixels, ao iPod, ao laser e ao Jornal Nacional.
E por causa desses, shiiii...! Fale baixo, vê lá se isso é coisa para se comentar? Bem, mudando de assunto...Viu que jogaram a quinta criança pela janela, só esse ano?