Uma das pedras sob meus saltos quinze ainda é a história dos livros que não publiquei e que pouco me animo a publicar. Nem sei direito a verdadeira razão, mas a verdade é que sou acometida de uma enorme preguiça quando imagino a trabalheira que deve ser tentar editar um livreto, sem nenhum apoio. Tenho visto coisas horríveis circulando por aí, com registro na Biblioteca Nacional e tudo mais, daí fico imaginando como alguém que quer ser chamado de escritor, acaba se conformando com tão pouco capricho. Triste é que a maioria das publicações chinfrins é de poesia, não admira o gênero estar tão desprezado.
Desconheço a natureza desses contratos que as gráficas fazem para pequenas tiragens, mas deveriam se responsabilizar no mínimo pela qualidade, sei lá.
Num deles, cada ‘poesia’ trazia uma ilustração tosca, e, em algumas, podiam ser vistas anotação do nome e página, num rabisco que acabou saindo no fotolito. O que mais me espantou foi uma indagação, “esta ou a do fulano?”, dando a entender que a autora, (professora de meia idade acometida de paixões pueris tardias!) tinha dúvidas sobre qual dos borrões usar. Sob o título “Prisioneira do Amor” (ai!) uma garatuja pretendia ser um perfil feminino, com o coração em chamas (!) envolto em algemas. Mais criativo, impossível, não? Credo.
Um outro livro mais parece um ‘consórcio’ de integrantes da comunidade acadêmica local, pois tem nada menos que trinta e oito (“!” de novo!) autores. Todos devem ser muito ocupados, pois nenhum fez a tal da revisão básica e as anotações saíram ‘de bonus’, inclusive um lembrete, “para ‘corrigir’ o e-mail da fulana”...
Depois soube que por economia, muitos tem se ‘juntado’ num convescote literário, por assim dizer, uma vez que ter livro publicado conta na prova de títulos e cumpre algumas exigências para bolsas etc. A solução, se tivesse respeito por seus (improváveis) leitores, até seria digna de nota. Mas assim, me parece estelionato, principalmente quando conta com patrocínio de verba pública. Pena, né?
Pois é. Fico aqui me cobrando, pois sei que preciso sempre (e muito) de um bom revisor, principalmente com a tal da reforma ortográfica...E acabo desistindo.
Não me sentiria confortável no papel da outra que além de incluir algumas erratas, ao tentar me vender um volume por nada módicos R$45,00, ainda me avisou que os desenhos ‘tais e tais’ estavam em páginas trocadas.
Sei não. Alguma coisa está no lugar errado. Quem sabe sou eu? (Vera Cascaes)
Desconheço a natureza desses contratos que as gráficas fazem para pequenas tiragens, mas deveriam se responsabilizar no mínimo pela qualidade, sei lá.
Num deles, cada ‘poesia’ trazia uma ilustração tosca, e, em algumas, podiam ser vistas anotação do nome e página, num rabisco que acabou saindo no fotolito. O que mais me espantou foi uma indagação, “esta ou a do fulano?”, dando a entender que a autora, (professora de meia idade acometida de paixões pueris tardias!) tinha dúvidas sobre qual dos borrões usar. Sob o título “Prisioneira do Amor” (ai!) uma garatuja pretendia ser um perfil feminino, com o coração em chamas (!) envolto em algemas. Mais criativo, impossível, não? Credo.
Um outro livro mais parece um ‘consórcio’ de integrantes da comunidade acadêmica local, pois tem nada menos que trinta e oito (“!” de novo!) autores. Todos devem ser muito ocupados, pois nenhum fez a tal da revisão básica e as anotações saíram ‘de bonus’, inclusive um lembrete, “para ‘corrigir’ o e-mail da fulana”...
Depois soube que por economia, muitos tem se ‘juntado’ num convescote literário, por assim dizer, uma vez que ter livro publicado conta na prova de títulos e cumpre algumas exigências para bolsas etc. A solução, se tivesse respeito por seus (improváveis) leitores, até seria digna de nota. Mas assim, me parece estelionato, principalmente quando conta com patrocínio de verba pública. Pena, né?
Pois é. Fico aqui me cobrando, pois sei que preciso sempre (e muito) de um bom revisor, principalmente com a tal da reforma ortográfica...E acabo desistindo.
Não me sentiria confortável no papel da outra que além de incluir algumas erratas, ao tentar me vender um volume por nada módicos R$45,00, ainda me avisou que os desenhos ‘tais e tais’ estavam em páginas trocadas.
Sei não. Alguma coisa está no lugar errado. Quem sabe sou eu? (Vera Cascaes)
Foto: Chat des rues, de Sabine Weiss, para a Agence Top.
Mimi Asno ofereceu a Victor Vhil um exemplar de seu novo livro de contos. Mal ele deixou o café, onde os dois saborearam em silêncio uma fumegante xícara de cappuccino, Victor Vhil foi até a rua e atirou o livro na lata de lixo.
Mais tarde, e sob uma fria chuva de outono, voltou para apanhá-lo. Não queria ser responsável por sujar o lixo.
(Miniconto do livro Nem mesmo os passarinhos tristes).
(Miniconto do livro Nem mesmo os passarinhos tristes).
Fonte : nonleia.blogspot.com/.../de-livros-e-lixo.html de
Mayrant Gallo, Salvador, BA, Brazil
Escritor e professor. Publicou: O inédito de Kafka (CosacNaify, 2003).
Mayrant Gallo, Salvador, BA, Brazil
Escritor e professor. Publicou: O inédito de Kafka (CosacNaify, 2003).